O livro já começou... Não perca tempo, já que dinheiro foi gasto. Assim... pense um dia radiante!
- Pensou?
-Claro! Entendo, mas ele é como?
-Caloroso?!
-Isso mesmo!
- Brasileiro? Feliz?
-Ah! Que bom.
-Isso mesmo!
-Sim! Único!
-Como?
-Isso! Um que deixe muitos sem ter afazeres e outros redime de todo utilitarismo dos dias-de-branco, implícitos juízos sem juízo. Tenha bem entendido, posta a fundamental importância do tema, pois que senão pare.
Um dia nada leniente, se existe nele, deve inexistir fora dele! Sim?
- Sabático? Você me pergunta.
-Isso mesmo! Um sábado incomum, ainda mais se tal sábado for esse: um dos fevereireiros sábados quando o carnaval chega em março, e o espírito carne, suor e cerveja já ande instaurado e o meio desse dia vai por um fio. Luis com a cabeça sob a bica d’água tem o nariz socado no pequeno ralo da cuba do lavabo, um tanto amareliça do cálcio gotejante de todas as velhas torneiras. Se algum ocre? Deve ser do Fe+++ dos canos. Luis faz seu asseio despertador. Sacando a cabeça molhada dali. Escorre os cabelos com as mãos, faz com elas as mãos tiara-rodo usando os polegares rentes às orelhas e os indicadores junto à testa. Empurra a água até a nuca. Mira o espelho logo acima da cuba e assim permanece. Luis quando era coroinha fixava o olhar nos ladrilhos hidráulicos da velha igreja do nosso senhor do Bomfim. Luis pousava o olhar aos losangos mais escuros por um lapso de tempo e aqueles a se fixarem na memória. Quando Luis movia um tiquinho o olhar, obtinha uma nova imagem do losango e a nova imagem junto com a fixada na memória, criava uma dupla realidade do piso da velha igreja, ao gerar a sensação de um certo relevo. Não era intenção dos losangos ou de Luis, só bem mais tarde é que se preocupou com tais fenômenos, descobrindo que o ver se dá por quantas de luz e para tanto se usa a memória e se essa imagem gravada na memória ficar exposta mais tempo que a quanta da visão, ocorre de ver-se o que já não é, junto com o que é, como rodas girando ao contrário em filmes. Luis diante do espelho tinha sua imagem confundida com aquela impressa na memória, esmaecida, um fumes com lapsos de esquecimentos, no total; inverídica essa dupla realidade. Impossível. Pensou em cortar os cabelos, numa tentativa de ajustar o foco. Abanou a cabeça apagando imagens. Respingou gotas d’água pelo cubículo e espelho. As gotículas escorriam, somavam-se a outras como lágrimas daquela juventude envelhecida. Assim nem lavado nem sujo, mal ajambrado, sai a caminhar a estrada que liga a oficina à fábrica.
terça-feira, outubro 17, 2006
1. Popatapataio,
Me digo Luis Antonio Benarmê. O epitáfio daquele que pergunta: quem sou eu? É: “O porfazer é a dentuça engrenagem do tempo e tomar decisões levará a um dia tecer juízos, e ninguém merece mesmo mais que esse meu lote inglês”.
É-me desconcertante minha idiotice diante da vida. Vivo em meio a um conjunto infinito de equações, com seu duplo de incógnitas e cada equação é dependente d’outra e essa dependência sempiterna sujeita a outra e assim sucessivamente. E quanto mais às estudo menos sei o quê da equação. Talvez não seja um quê. Um velho espanhol um dia fez-me a seguinte questão: tenho 100 reais. Quero comprar 100 cabeças de gado que sejam novilhos a 50 centavos, vacas a 5 reais e bois a 10 reais. Naquele momento sabia o quê e sabia resolver equações do primeiro grau. “É fácil abuelo” disse-lhe. Não resolvi. Sai-me qual um Laplace idiota. E até hoje não consigo demonstrar a resposta. Quando estou perto, a tartaruga anda uma fração de espaço, um por dez a sexta. Suspeito que não saiba sequer a resposta que o galego me mostrou, sem ma explicar. Tento amiúde muitos caminhos.
Contarei, a historia de um viajante, tão idiota quanto eu, entre o fim de uma manhã e começo de uma noite de verão, ele encharcado de álcool e lama. Um que num relance foi canibal. Comeu a eminência hipotênar de uma fábia catalã. Julgado criminoso, cumpriu grande parte da pena. Ou toda. Do cárcere, que não reconstituiu a eminência hipotênar, tampouco apagou da sua mente aquele episódio. Foi sacado, como louco,( um advogado julgou sábio este fazer) para ser internado num manicômio. Não sei se ele (o manicômio) se abriu. Se dele ele saiu. Se nele (manicômio) o mundo entrou. Por fim escrevo essa tolice, assim começada por esse breve anacronismo, verdadeiro e que se verifique. Se algo houver em discussão e se tanto permear, será sim a liberdade, não o livre arbítrio.
Luis da Silva Neto viveu, bebeu, comeu, tudo e tal, livre.
Zénão depois de ler os fragmentos do manuscrito, que me servem de norte, disse haver neles menos que uma historia, sim o tal anacronismo, senão nem mesmo um viver. Resolvi então contá-lo. Que sê menos que um livro. Tal será, como antes dito, composto a partir de fragmentos de uns manuscritos recolhidos. Uma parte significativa no dia 18 de fevereiro do ano 2002, no Deck bar em Sousas. Outra parte num bar dito <>, de uma pequena cidade do norte de uma província de Espanha. O dono do bar, Manell Florenci i Pirò, disse ter guardado tais manuscritos como forma de pagamento, que teria então sido efetuado por um comensal despojado de valores monetários naquele antanho e sacado que foi do bar por uma dupla de policiais. O valor; equivalente ao consumo rezado por Manell como o efetuado por seu fazedor, seja; é de dez cervejas Voll Dann, duas tapas de tigres raivosos e uma de sementes de girassol.
Manell assegurou da existência deste exemplar como única. Porém nada impede que certos costumes que transformam singularidade em pluralidade tenham de fato ocorrido e o dono do bar já não mais venda cervejas e tigres com mais ou menos pimenta, e sim sementes de livros que é no que transformo aquele original manuscrito.
Nada impedirá que você, ao se deparar com este não venha proceder de igual forma. Se assim o fizer, estaremos a escrever o livro infinito.
Não pague, portanto caro por ele, talvez não valha mesmo mais que uma conta pendurada num boteco como El Racó Medieval, de qualquer cidade pequena ou grande, hospitaleira ou insólita como Guimerá.
O transporte da cena para Sousas não é laborioso dado a similitudes várias dessas prosaicas cidades. Você se aperceberá das duplicidades implícitas excetuando urgências geográficas, se bem que um vulcão sempre poderá ser isômero de uma cratera. Não se olhe, portanto, no espelho com tanta gravidade, ele duplica e o que duplica torna-se promiscuo e mentiroso, tal é a conseqüência de um em outro e que isso por fim também se verifique. Você poderia inferir facilmente então que a historia tal, é uma irremediável invenção e que você ao executar o que vos insinuo, tornaria então a coisa promiscua, mas a defesa se faz co’a ausência do manuscrito, destruído antes da duplicação, assim evitando a promiscuidade e evidentemente isso não se verifica. Mas se você pensa transformar esse no seu manuscrito, deve primeiro destruí-lo. Antes talvez melhor lê-lo, que é o mesmo que destruir. Põe-se com urgência, que ler é aumentar a própria ignorância.
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