quarta-feira, dezembro 13, 2006

29. O Sátiro.

Luis só em cuecas e sapatos chega correndo salta o defluente, gira em estrela como uma roda de carroça, para e salta com o corpo vergado sobre uma perna, cabeça para o céu, braços jogados, uma perna dobrada, mergulha na lama fétida emerge apoiado nas pontas dos pés e mãos olhos esbugalhados e orelhas pontiagudas balança o corpo como que transando com a lama, corre salta escala o banco de jardim, o povaréu surdo. Corre do banco para o coreto saltando arbustos olhando para o lado e para trás, segurando com uma das mãos às ramas da primavera do coreto pendulava, num trapézio improvisado hora sobre o já Atibaia hora sobre o chão submerso do coreto. Parou. Mergulhou do coreto para a ilhota, a meio caminho enterra as mãos na lama gira o corpo sobre a cabeça os pés voando até voltar ao chão, a besta-fera marrava, correu até a ilhota, uma perna em cada haste, salta o banco e em disparada salta o defluente, a multidão vai do atarantamento a uma algazarra jubilosa. Luis volta mutante, vivificado, braços caídos. Infantis. Exala suspiro fundo de quem lavou com lama a alma, enquanto caminha pelo estacionamento, chutando lama com pernas esticadas, espirrando água como um motor na proa.
- Que deu em você Luis? Pergunta Zénão.
- A lama, é a alma! Diz Luis enlameado.
- Você..., não sabia desta vocação para o estrambótico. Fala Zénão.
- O que há de estrambótico em dançar, no mais também gosto da ação e que se assim permanecesse, logo ele me pintaria como uma montanha graxiforme com uma cabeça enterrada entre as mãos em meio um enxame de mutucas. No mais Zénão, estamos ilhados, é o dilúvio.
- É meu velho. Fala Zénão. Juntou a ubiqüidade de Deus em sua forma água e a humana no dia de hoje. Zénão brilhando.
- Um não existe sem o outro e noutro eu não creio. Fala Luis zeloso.
- Hahaha em que ordem?
- Vice-versa.
- E ai Belmiro?
Belmiro em seu calção cruzara todo o estacionamento da galeria, em águas até o joelho. Voltava com os poderes das noticias novas qual revistas semanais em consultórios sem virar sabedoria. Cheirando a inundação e inundação cheirava a muita merda, humana, bovina, suína e enfim latrinas mamíferas e ovovivíparas. Mercaptan. Mas isso é o de somenos importância.
Diria a Luis o que aconteceu com Laura? Belmiro aconselhou-se com Wirto, todos sabem da veneração. É melhor ter certeza. Sentenciou Wirto. E Belmiro prosseguiu com o noticioso censurado.
- E ai o policia pegou a dona Ísola no colo enquanto o bêbado escapou da corda e foi pela correnteza, mas antes a correnteza puxou a calça do cara até o pé, ele tava sem cueca e a correnteza levou o cara até a pastelaria. Depois veio um banco lá do bar do Zé do Cleto o cara pegou o banco e sentou e cruzou as pernas. Depois esse louco ai dançou no meio da lama. Disse Belmiro de carreirinha.
- O lamaçal da felicidade comporta tudo que existe, quero dizer, queria que fosse infinito, e essa é a minha busca. Luis fazendo apologia da sua lambança.
- Até a morte. Disse Belmiro.
- Sim! E se não for isso aqui a festa prometida? Quanto tempo se perdeu na ante-sala.
- Inexorável. Diz Zénão.
- Salvadora.
- Como? Salvadora!
- Vivemos assim, tão sem desejos e paixões, com menos que a morte permite, e o que por fim fazemos é atabalhoada e romanticamente perseguir sua abolição.
- Que você quer dizer com romântico? Pergunta Zénão.
- Tudo que culmina com ela.