sábado, outubro 21, 2006

5.Talho.

Seguindo na direção de Joaquim Egidio, depois da ponte do Atibaia, há a esquerda uma galeria para causar problemas a arqueólogos do futuro depois de abordarem ao primeiro dia da humanidade no seu retorno do caos.
- Ah! Estou aqui. Diz Luis ao que salva-lhe um sousense. Luis vê que lá vem um sousense, dono de mugentes e semoventes, chega-se facilmente a isso, pois de cujos ele o sousense traz consigo estrumes nas botas e sendo assim se verifica a premissa. Luis interpela-o com um: Dia! Inferindo-lhe o costume. Não o tendo. Não houve resposta. Mas o mediu com fidúcias, como se houvesse dado Luis bons dias a bois.
7 Luis não se incomoda, sabe que fidúcias ou besteiras valem além vale do Rio Grande e que as coisas o olham com um crivo de censura e a tudo responde com sua acidez árida.
Há a direita uma praça sem graça, desertificada calçada de pedrinhas portuguesas em desarranjos. Uma terra batida desértica debaixo de árvores. Uma banca de jornal está ali, sem inserção. Na esquina há um bar, então? Esquinão! Luis coça os olhos que como se neles houvera respingado suco de óbvio.
Luis encontra-se no Esquinão com a famosa costelinha de porco frita em gordura hidrogenada de muitos usos, prato de vidro temperado marrom transparente fundo, limão à francesa para que as bagas explodam o ascórbico e o cítrico no olho do comensal, garfo frágil para costela sem temperos. Rija.
Luis vai sempre em frente. Depois da famosa costela e uma cerveja gelada, seguiu sua via-sacra com uma mesma ladainha.
- Baaaaanco. Canta Luis fazendo um baixo gregoriano.
- Paaaaasso. Ainda canta, só que agora faz um Tenor idem.
- Faaarmáaacia. Luis repete o baixo.
- Volto a paaaassar. Idem tenor.
- Venda de rações e passariiiiinhos. Aquele baixo gregoriano só que piu allegro.
- Sempre passareiei. Falsete à M.N. allegro ma non troppo. Vira-se para o Bar Central. Cruza a rua e...
- Uma fezinha? Pergunta o entreposto de bicheiro com cara de camundongo atrás de queijinho.
- Sim. Cinco mangos na milhar 7242 m/c do primeiro ao quinto invertida. Responde Luis. Feliz por ter uma margem ética muito larga para subsistir.
O Bar Central com seu balcão forrado de fórmica por fora e paulistinhas por dentro. Por sobre, preto gastado. A lateral, cor-de-rosa quando a rosa dava nome a cor e os dois da mesma época.
- Fico. Diz Luis com um ligeiro aceno de cabeça de si só.
Há na Vitrine de salgados, pasteis, croquetes e um não sei que com um espeto que lhe vara. Um senhor de jaleco azul puído limpo, anota num papel rosa, prestes a virar salmon, de embrulho, fileiras de números de cima para baixo abaixo de nomes acima. Ao ver Luis apalancar no balcão vigia-o sem ir a ele e ele volta-se aos números da sua cabala, parece que obteve um resultado: Jão Prodome 17,30. Toma de uma caderneta prende a língua com a pinça polegar-indicador ( ah! não se esqueça a tal pinça é o que nos diferencia dos macacos) e passa as folhas aleatoriamente com a tal pinça . Parece que encontrou o mesmo Jão na caderneta. Indexa o Jão do papel rosa a página Jão. Corre o dedo sobre valores anotados consegue um resultado, perquire-o, mas não anota. Volta-se para Luis.
- Pois não! que ce quer? Disse-lhe o balconista.
- Salgado. Sua graça?
- Mario.
-Seu Mario que é isso? Luis aponta o dedo na direção do espetado. E enquanto a mão direita tenta se livrar de algo às costa que está a pinicar, como uma camisa de linho direto na pele sem mais nada por embaixo.
-Frango, peito de frango empanado. Rumina Mario.
-Ok. Não. Obrigado. Quero mesmo uma caipirinha.
-Turlbo! Turbo? Tulbo? Tubo? Audindecifrável foi a resposta.
- Mas, pinga com limão e açúcar é no mínimo, ótimo. Vamos experimentar. Diz Luis.
-João um tulrbo. Disse o Mário pro João.
-Pinga ou voka?
-Que pinga? Pergunta Luis.
- Ô fiu, Véio, né!
-Pode ser. Disse Luis.
E lá vem o João olhos muito pretos, desconfiados nem pios, alto grasso jaleco azul justo e sujo na parte que encobre o orelhão verde-barriga da telefônica que se entreve entre as casas chuleadas caseadas que prendem botões um preto outros brancos e no preto a linha amarela cruzadinha nos quatro buraquinhos formando uma cruz. Tudo fica diminuído ao seu pé. A citar pilão: faca, limão, açucareiro e tábua e nela há um pequeno vale ao centro formado pela faca amolada até quase só cabo, dada infinidade de limões ali fatiados em rodelas, em cubos ou à francesa. Caipirinha! Finas rodelas unibagais de limão tirado o branco que deixa gosto azedo. Dentro do pilão mais açúcar, pila até melar. Outras rodelas sobram sobre a tábua, um copo tubo. Luis descobre. Era tubo! Pedras de gelo furadinhas, várias, até a boca do copo tubo. Depois insere rodelas de limão que estavam sobre a tábua entre o gelo e a parede do copo. Pinga no pilão, nova mexida, despeja o liquido cremoso no copo com gelo e rodelas de limão, não sendo suficiente para encher, completa-se com cachaça. Fogo no botijão.
-Saúde! – disse a Luis um cotovelo desconhecido, com aquele ar de quem, você-não-é-o-já-te-vi-nalgum-lugar-antes?
-Saúde! Pode ser - disse Luis e continua - afinal não vejo sinais em mim de invisibilidade a menos que seja neste tal lugar antes diferente desse e se isso pode ser comprovado deve ser o mais provável e que se verifique! E ergue o copo em ofertório, e bendiz, e a tudo junta um sorriso de quem fez pum. Alguém pedira um café... O que tem bico, mas não pinica, tem asa e não voa, vem seguro pela asa e enche do preto passado no saco o copo de fundo grosso.
Do que ouvi o cotovelo é corretor e seu vizinho também, e os que alarem o bar ali sentados, e acho que vi uma bengala e um chapéu marlonbrando em férias num verão em Paris, são 30% do pib e do Who’s who campineiro. Ao lado de Luis o enxuga-gelo-cotovelo olha para seu braço forte.
- Tartufices! Pensa Luis.
O braço do cotovelo também é forte. Uma francesa? A essas horas? Só pra se conhecer melhor? Melhor não, pensa Luis, bebi cerveja na esquina, caipira no Central melhor é vazar. Então via.
- Que mais? Fechado. Diz de só para si.
Açougue. Passo.
Padaria? Passo que sou pé. Diz Luis.
- 1,99. Passo.
- Igreja sem arquitetura, de todas as maneiras. Passo.
- Bar Caipirão! Sujo? Sim.
Quem não curte um sujinho. Havendo televisão? Sujão! Pensa Luis, eu do meu lado não sou tão radical, mas compartilho do mal-dizer. Já perdi muito tempo olhando-a sem entendê-la. Luis, mais pelo écran, passa.
Calçada novamente. Outra galeria; restauração Campinas Decor; em dia de fechado. Café, chá do... Contudo.
Aluga-se. Bela casa para Almo. Cantina Del Vicino. Inaugura hoje ao jantar.
Segue nosso Luis buscando desinteressadamente, só mesmo por um hábito turístico volátil. Jogar buraco com a sogra. Aguarda a primeira hora da tarde quase por findar. Então leva a eito. Com ritmados trejeitos de ombros que reverberam por todo o corpo.
- Meu Senhor faz favor! Pergunta a um transeunte.
- Sim! Responde o transeunte.
- O que temos pelai pa frente, de bar, restaurante e bricabraques?
- Daqui para lá? Aponta com o queixo, para J.Egidio.
- Sim.
- A um km tem o bar do Zé do Cleto.
- Um km! Passo. E Depois?
- Neres de neres! Só se sendo em Joaquim.
- Obrigado! Diz Luis.
- Nada! Unta em transe o um.
Noutro dia irei a Joaquim Egidio, pensa Luis, nada a seu tempo.