sexta-feira, novembro 10, 2006

16. Retrato do artista quando bêbado e uma mércia ulula

Luis sabe se entreter e quer se entreter na ante-sala da guerra que haverá de travar, ainda que os jogos lhe saiam um tanto espasmódicos. E lá vai ele.
Chá nixda. Da chope. Por fim diz, e o mestre?
-Você acha que ela o traiu? Pergunta Zénão.
-Penso que não.
-Mas por que Capitu não retorna?
-Porque seu filho era o filho de um fantasma, antes foi traída. A mãe através do pai e o filho inocente através da mãe.
-Quero ver o desfecho disso, continue- disse Zénão descrendo.
- Capitu não partiu e se não houve partida não poderia haver retorno, por isso ela não volta, no mais a má acha do Bento, sua indecisão incubada e sua covardia a decapitaram.
-Sim! E Escobar? Disse Zénão e descreu só com um sorriso de lábios fechados, um escárnio carinhoso.
-Asco bar. Puro asco. Escobar. Escrabo. Escravo. Implantado por Bento a seu serviço e você tem ai o Bento traindo-se, traindo o fantasma e Capitu. E veja que Capitu pode vir de kaptum.
- Como nunca pensei nisso? Perquire-se Zénão.
- Bento a traiu ainda mais. Continua Luis. Como réu, testemunha e juiz dele mesmo, inexpugnável diante da imensa força de sua fragilidade em manter um segredo de infância, jurado no quintal da casa de Capitu e no seminário. Sua homossexualidade.
- Milk shake! Brinca Zénão
- Pois é! Não ter ele o filho, mas ser ele o pai do filho de um fantasma, já que o espectro do escravo rondava. Que diferença faz Suíça ou Dinamarca ou algures podre como, mas ele o pai do filho de um espectro não soube a si interpretar, desconhecedor do papel, já que um não era filho do que não era pai. O pai, o filho do espectro e se espectro for espírito e o espectro em si, isso se assemelha a Santíssima Trindade cujos membros não se sabem.
- É iss’aí!
Feia neste momento parecendo ser a bailarina egípcia ou Shiva, quer esconder o cigarro a meio dos dedos indicador pai-de-todos, cabeça para cima e a boca chaminé soltando a fumaça restante na pleurifornalha, aperta a guimba torcendo-a até a morte no cinzeiro, finge a Luis um olhar pasmado.
Um casal senta-se na doze. Ela de mini-saia, ambos de óculos escuros. Ela ciosa dos olhares espreme por trás a saia contra as pernas. Senta-se.
- Vá lá Luis. Referindo a Feia. Diz Zénão.
Feia acende outro cigarro. Mão para trás e ao alto repetindo o desenho religioso egípcio, hindu, Shiva, sopra para cima. O incômodo incomodado, esquece que o melhor do fumo são nuvens saindo da boca dando ao fumante dimensões demiúrgicas, não a urgência do desaparecimento da culpa.
-Você brincava de falar só com frases de canções? Pergunta Luis.
Como eu já disse, espasmos. A da mini-saia abana o fumo, que sempre vai no sentido da intolerância.
- Claro. Zénão responde. Cada palavra que você disser canto uma canção. Somou.
- Um amigo meu brasileiro lá em Berlin...
- Que tem Berlim?
- Um cara que falava inglês só com frases dos bitous.
- Hahaha! Só com frases das musicas?
- É.
- Hummmm! Cruzou. Diz Luis.
- Eu vi. Pelas gelosias.
- A Feia vem aqui, já que você não chega!
- Vem nada. Ela vai é tirar no toalete a salsinha do dente, e quando tangenciar estes secantes, vai forçar o fim do espinhaço para trás os peitos para frente jogar as madeixas do seu cabelo duro para um dos lados com um movimento de cabeça e revoltá-los com uma das mãos para o lado que estavam enquanto com a outra aperta a puxar a ponta do nariz tudo sem esticá-lo olhar para o caixa Antoine que é o único ponto seguro nestas margens do Atibaia, um espelho jacteado, e dobrará a direita quando veremos amoldados seus atributos posteriores dentro do jeans, que nós por uma obrigação secular julgaremos e com as pilherias esqueceremos de desfrutar o deleite dessa maravilha duplicada, vaga.

- Bunda baixa funda racha. Diz Luis.
- O é tem detalhes? Pergunta Zénão.
- Tem se o É também é objeto?
- E o é tem detalhes. Pardelhas! Insiste Zénão.
-Tem e os detalhes são puramente estéticos ou utilitários e ai são puramente utilitários. E Luis leva a mão à orelha sob os cabelos e franze a testa arqueando as celhas.
Neste momento chegou Edmilson com mais quatro amigos e sua mulher, seis. O serviço emenda a treze com a vinte três. Nutos e donaires para os do Choro. Ah! Este é seu Ademar. Edmilson! Prazer! Prazer! Minha esposa! Prazer! Prazer! Aluno! Edmilson! Prazer! Prazer! Amigos! Ademar! Prazer! Prazer! Podem ficar a vontade. Est Deus in nobis.
- Que você tem na orelha que tanto cutuca e puxa e quer ver? Vá olhar no espelho. Flagra Zénão.
- Ainda não sei, mas acho que minha orelha afinou a parte de cima. Diz Luis.
- Deixe-me ver.
- Não.
- Você está louco! Luis se levanta e vai até o espelho pega a orelha e puxa tentando vê-la diretamente, não crendo no espelho. Volta creditando tudo a seu estado inicial de temulência.
-Você procurando utilitarismos nos defeitos? Ó Luis!
-Prefiro, Ó... deixa pra lá! Ainda encanado com orelhas pontiagudas. Já não me faltam um rabo e uns cascos. Pensa o cinosuro.
O serviço anda atarefado emendando mesas. Chega senhor Pavão com suas mulheres. Chi! O genro futuro sempre presente, também com uma morena dessas, coitado do Euclides, não chegou a presenciar o que é miscigenação. Pavão sem duvida é, em havendo, um homem feliz.
A moça da doze destrançou as coxas. Zénão olha pelas gelosias espelhadas refletindo o bar que é a imagem da vida.
Luis. Frontal.
- Vi. Disse. – a mércia abria lentamente as pernas – e ainda mais vejo.
- Vamos comer um algo Luis? Que isso aqui está ficando animado.
- Chame o cardápio. Diz Luis no que o serviço passa com a bandeja cravejada de caipirinhas de lima da pérsia.
- Belmiro que tem ai nessa ucharia?
- Olha o cardápio, é pra isso que existe! Belmiro grosso qual moerão de canto de cerca, jogando o cardápio sobre a mesa com a mão que não palmilhava bandeja.
- Demorou, comédia! Fala Luis na crista da onda da gíria. Insiste Luis. Comédia. Você que tudo sabe, sabe o nome da de mini-saia?
- Sei. É Mércia J.J. Responde Belmiro voltando da entrega de caipirinhas ao seu Pavão. E o cara é meu amigo, continua Belmiro.
- Isso lhe subtrai valor. Diz Luis querendo arrumar tretas com Belmiro no jogo de pequenas agressões, mas Belmiro não capta.

15.Balcão.

Balcão.



Enquanto isso no balcão Alceu e Alcides Benevides trocam impressões sobre...
- E aquela mulher Cides?
- Como você é curioso Alceu!
- É. Ela parece ser gente fina!
- Finíssima, elegantíssima íssima!
- Vocês ficaram juntos?
- Tá bom Alceu pela milésima vez te conto.
- Não estou forçando a barra, mas folgo ao ouvir essa historia...
- Tudo bem. Veja bem Alceu, por todas as qualidades dela e o cara impressionante que sou,( risos) nossos encontros, olhares, esgares, beijos e a não formalização de um namoro acabaram por despertar um interesse imenso nos outros a respeito da historia e para somar ia numa crescente mania pela narrativa, pus-me a narrar, para audiências várias e muito interessadas. Chegou um momento que eu e ela não conseguíamos mais produzir tantos novos capítulos que ia eu feito um Benedito Rui Barbosa entremeando, primeiro fatos que facilmente eu fazia acontecer, as vezes nem queria sair com ela,mas a historia era um “bebebe” a céu aberto e já me queriam ver com ela para ver nosso silêncio, embotados um no outro, depois pequenas invenções possíveis... não posso negar que nos usamos todo o tempo. Como se usa um papel higiênico. Só que por uma qualquer circunstancia esse papel higiênico era nada mais nada enos que umas folhas de papel bíblia arrancadas das obras completas de Carlos Drumond, lidas com paixão e desespero antes de enfiá-las literalmente no cu.
- É foda né Cides!
- Põe foda nisso Alceu!
Balançaram as ambas cabeças e brindaram.
- Saúde! Ambos disseram.