terça-feira, novembro 21, 2006

19. A galinha do vizinho.

-Luis olhe quem chega! Diz o boquiaberta Zénão.
-Isabelle! Por júpiter, a única mulher com ISO bela, atrás e à frente. Fala Luis.
O que é preciso para ter o certificado ISO bela, vejo que tudo se vai vulgarizando consumindo como o praguento do mouro viu e previu. Animalizando. Quanto se faz para ir no sentido oposto mais se aproxima das leis naturais, no meu ponto de vista, onde o jeans entrar, se o jeans um número a mais.
-Que mais nobre consultor?
-Cós baixo, caminho que leva ao vale do monte Vênus onde o jeans anda atolado.
-Que mais, fala o salivante Zénão.
-Se mais! Seria para pura gula companheiro.
E cruza e descruza. E polpas a mostra dá para ver o calor. Se assim continuar esses dois bispam miragens.
- Está mordiscando. Zénão via através gelosias e seus ângulos cúmplices.
- Cruza descruza. O outro.
- Vou ter uma polução, acordado!
- Você falou a minha fala.
- Ela me deixa sem fala. Perdi o amigo. Fala Luis.
- Hahaha
- Hahaha.
Sim, risos vivificadores, não uma mera derrisão, dando leveza a toda imundice pensada sobre o que seria belo, se não fosse tão vulgar como um comichão anal coçado em publico.
Enquanto isso na mesa 6 um povo em dietas discutia as Dietas de um chino vedanto que encheria de ódio o odioso bigode nietzscheniano, mas a vida segue sem ele.
Ah! Ele é ótimo disse Ela. A Marli, lembra da Marli? Então já perdeu oito quilos.
O quê? Disse Ela-outra. Não! Você não acredita? Como? Sofrimento? Imagina! Pode tudo, ele me proibiu de comer, nabo, melancia, acelga, caqui, chuchu. E também me proibiu de beber: café e refrigerantes. Eu vou sentir falta de melancia e café.
Luis sentia os toucinhos migrando do glúteo vindo pela lateral do pernil desviando pela virilha e ao chegar na protuberante barriga a se miscigenarem com a panceta e seguem a subir em busca da terra prometida, o cérebro.
- Você viu, a Mércia fez com que me esquecesse Isabelle. Fala Luis.
- E por falar em Isabelle, onde ela foi? Pergunta Zénão.
- Esta lá com o Ente, diz Luiz meloso de zelo.
- A chuva está mesmo forte. Diz Zénão.
- Estou com vontade de dançar no meio da chuva.
- Como crianças na enxurrada. Fala Zénão.
- Pobre Laura de bice nessa chuva!
Toda molhada, literalmente! Diz Zénão.
-Não é para o teu bico. Diz Luiz.
-Nem para o seu, pelo jeito!
-Esqueça Laura, pordeus!
-Eu esqueço já você... Diz Zénão sem economizar reticências. E Luis entra dentro do copo de chope como uma mosca e começa a andar sobre o nobre creme e esse começa a pesar nos seus pés, então tira com pena e cuidado a mosquinha com a ponta do indicador e ela sai dentro de uma gota do creme, Luis a pousa sobre a mesa, seca suas asas com a pontinha do guardanapo, mas ela não voará, nunca mais. Então Luis olha para dentro e diz.
--Zénão! Acabei de fazer um campoema, quer ouvir?
-Manda velho!
-Se diz: Istência.
Istência de pedra
A pedra iste se eu isto.
Eu isto se você iste.
Você iste se eu e pedra istimos.
Pedra iste se eu você. Nós.
Eu você pedra. Sim.
Se você pedra eu!
Se eu pedra você!
Algo se pedra!
E eu você?
Ex...
- Nossa Luis que lindo! Gostei do Istência. Diz Zénão e completa e se terminasse co Resi...
Os olhos não obedecem à cerca amiga. Belmiro traindo o amigo, Belmigo estaca ao lado da mesa um e chega mesmo a agachar fingindo ter algo de pé–de-ouvido a dizer a Luis.
- Puxou a saia pros joelhos e encostou os joelhos. Diz Luis.
- Fim de festa, entrou água na barca.
- Culpa do riso e o Belmiro descarado. Diz Zénão.
- Não foi pelo descaramento, mas sim pela alegria, e logo agora que chegam ostras e bacalhau, falha o visual não casualmente.
- Tenho a dança como forma de celebração. Ainda Luis.
- Celebrar o quê?
- A zoina. A neve never aqui e dar calor for Eva.
-Hahaha.
-E a peta humana pra acabar. E de lambuja à fertilidade destas águas que vem preparar o espírito para as águas de março.

18. Parecer. ...parece. Mas não é.

- Que é que acha de um bacalhau Luis? Pergunta Zénão. Querendo que Luis desconsidere Belmiro que o chamou de J.J..
- Não precisa intermediar mais nada não, Zenão!
-E se fosse lá, pensa Luis, diria ao Belmigo - sua mulher está me mostrando a sua (dela) boceta. - E o Senhor não gosta?- Perguntar-me-ia ele, cínico. Melhor não ir.
- Então vamos de bacalhau Luis? Disse Zénão.
- Sim há a visão! Com bacalhau soma-se o cheiro! Um acepipe perfeito!
- O que seria um acepipe perfeito? Pergunta Zénão.
-Tirante o cheiro, o gosto, a textura, a insaciabilidade e iconoclastia! Não sei - poderíamos ter o acepipe comunista, o separatista, o aristocrático, o estético, o excêntrico, o do sonhos, o improvável, o impagável e o intragável. Cada qual com sua classe.
Mas o inexoravelmente perfeito, que a todos fosse possível cometer e que a todos agrada? Insiste Zénão.
-Uma mércia!
-Hahaha!
-Hahaha!
- Vai Mércia, isso mesmo! Diz Luis no que Mércia abria um pouco mais as pernas.
-Isso é uma profanação Luis! Diz Zénão.
-Acho não. Temos que compor a cena, só isso, tomar parte dela é o que nos cabe, forse altri narrem.
-E quem sacará juízo? Pergunta Zénão.
-Espere o pano baixar!
-Hahaha!
- E ostras?
-Que tem as ostras?
-Ostras e sexo!
-Sim tem virgindade em jogo, a luta para se abrir e saciar o insaciável e antes de tudo que dizer da textura?
- Sim. Nada a dizer senão que esperma.
- Hahaha! Ambos riram inebriados, Luis olhava por tudo, Zénão fazia discurso apotídico da visão como forma de obtenção de informações. Alguém algures dizia que Romário deveria ser convocado. Que a chuva refresca. Que os alemães não tem espontaneidade. Que Eça é melhor que Machado. O contrario. Que o juiz roubou. Que fulano faliu. Que recebeu um emeio que dizia que Borges não existe. Que a mulher mudou a vida do Caetano. Alcides Benevides ao ouvir a palavra Romário, diz para Alceu: não é que o Romário não treine, aquela corridinha dele de passinhos curtos escorregando a ponta dos pés na grama é que dá a ele aquela arrancada fabulosa em pouco espaço. Cides! Interpela Alceu. Menos, menos, o cara é profi, tem que treinar sim. E o Chico’oreia imitando o Lula. Que o rio está enchendo...
-Espetáculo de arte vária. Vejo a ensancha da saia. Mas o marisco mais que ostra se assemelha. Disse Luis sentindo uma fogueira ascender.
- Calcinha... Murmura Zénão.
- Ver, cheirar, tatear e degustar! Mércia, Ostras e bacalhau! Fala o iconoclasta.
- Toda indigestão é má, mas a de ostra é péssima. Fala Zénão, e no caso o que vem a ser indigestão?
- Paixão não correspondida?. refala Zénão.
- O visual é grátis e as ostras são vivas e de Cananéia. Fala Belmirador publicitando porções do Deck, para ver se aumenta a féria.
- Vivas sem nunca terem saído de casa? Uma vida sem aventuras, onde morada, fortaleza e território é o mesmo sitio onde não há nós outros?
Enquanto isso a mini-saia de Mércia virava uma micro-saia, e ela pousava os pés no descanso da mesa que ficava a um palmo do chão e levemente abria e fechava suas pernas torneadas ainda que não fossem, mas eram e se podia ver do sapato a calcinha e antes dessa o começo da vaga.
- Se estivesse só. Não faria isso. Fala Zénão.
- O asno além de cruzar o rio ainda protege da investida d’algum Escobar incauto. Se todos não fossemos.
- Fossemos qual?
- Ambos. O um quando cobiçamos, o outro quando as temos. Mas de certeza faria mais gozo a ele se estivesse aqui, e visse o que sentimos. Sentindo o que vemos.

17.Carta do leitor.

Na nove, mesa de plástico branco, quase na saída entrada do bar que beira o rio e a rua, sentou-se Ledório, ele lê a Folha pensando o jornal como posto mais avançado da intelectualidade paulista. Como homem que se pretende inteligente, se obriga a retrucar diariamente a critica dos críticos aos críticos fazeres de nossa representação democrática. - Falácia! - Diz Ledório. -Falaciosa democracia sentada em minhas costas -. –Falácia -. Meu voto, meu poder despojado obrigatoriamente –. Rumina Ledório. Ouvi dizer que ele carrega um medo único. Parece coisa ridícula, uma bobagem sem pé nem cabeça. Você pode achar risível e banal essa história. Foi por isso que resolvi passar a limpo. Os freqüentadores do bar Central e do Esquinão o chamam de Cérbro. Uns no bar Central quando querem falar “direito” dizem: Celebro. De todos ouvi - é muito inteligente - fala línguas, estudou na Unicamp, mas por culpa do tal medo, abandonou tudo e toca aquela loja de rações. Tentou trabalhar no açougue do Facina, mas não se deu bem. Às vezes nos jornais lidos e relidos por ele nos quais embrulhava as carnes, aparecia um quadrinho que de longe via se tratar de uma enquête. Com medo de em uma dessas horas o olhar fugir de um lugar e se fixar perigosamente em outro, e ter que responder ainda que mentalmente a tal pergunta, deixou o açougue. Lê os jornais e muito embora eles tenham se banalizado, mantêm cadernos onde Ledório se encontra seguro. Mas a cada reforma editorial, acode aos cadernos com muita precaução. Demora muito tempo a voltar a velha confiança. Mesmo em cadernos de economia, política, de noticias internacionais onde os assuntos são selecionados. Não se encontra seguro. Sabe que ocorre às vezes de ultima hora uma nota que deveria estar lá no tal lugar e não está, pois o tal caderno deve ter sido fechado antes dos outros, que sempre ficam esperando mais uma fala chula do ministro. Está sempre atrás de soluções para o seu tormento. Quis cobrar do nobre deputado, nosso vizinho, uma micro mudança ortográfica. Onde se obrigasse à utilização do “?” invertido antes do começo da pergunta. Ademais como já o fazem nossos vizinhos do Mercosul. Por fim não teve coragem, e por isso aumentou a precaução ainda mais. Em anos de sufrágio, quando proliferam as pesquisas de opinião, ele sempre muda de calçada e atarantado balança a cabeça para lá e para cá, e vai resmungando “não! Não! Estou sem tempo agora, me desculpe, se faz o favor”. Diz. No estádio, muda de lugar quando aquela luz o ilumina, não fica para ver o microfone querendo entrar em sua boca para desentupi-lo. Nem de brincadeira, nas ante-salas de qualquer consultório, folheia revistas velhas. Fica nervoso ao abrir a página de seu provedor da internet, fixa os olhos nos “x” fechadores de janela, mantém a setinha do rato sempre a postos para clicar mais rápido que o Clint sacava seus colts. Ao ver a palavra “responda” num piscar de olhos clica. Via de regra vai direto ao seu correio eletrônico. Na lixeira nunca esteve, deixa que o provedor resolva por esvaziar. Remove qualquer coisa minimante desconhecida, sem abrir. Abre somente o que tem absoluta certeza. Vive do medo que lhe perguntem o que acha ou pensa da Rita Lee.
No mais Ledório é um resignado, no seu não fazer, o seu fazer tem pouco valor de troca reduzido diante do por consumir que lhe impacta. – Falácia -. Diz econtinua. Eles me viciam, suas analises pontuais, cercadas de arame farpado para que não escapem do cercado da ordem sequer olhem pelo buraco da cerca. – Falácia -.Diz ele e continua: sou consumidor inveterado de falácias, com seus miligramas de incoerência e outro tanto de verdades parciais. Diz mais: é melhor ler o Cony que anda lentigraxo equilibrando-se na cerca. Sim hoje é o Cony. Diariamente Ledório elege um articulista ou cronista para malhar no painel do leitor onde nunca nada seu foi publicado, mas Ledório não desiste, envia via eletrônicos meios e imprime uma cópia que a esta altura do dia está colada num poste, sonha em ver no painel seu nome impresso. - Hoje está fraca esta folha só me resta mesmo o Cony - diz de si para consigo. Não Cony não. – arrepia-se - parece uma azeitona Azapa com sua carnosidade escura aparentemente espetável, mas quando com o palito tenta espetar só consegue mesmo tangenciar e a Azapa desliza para o lado e sobe na beirada do prato raso, quase foge, mas derrapa na rampa e volve, como uma criança no escorrega, ao centro do prato. Há que se espetar bem no meio da parte mais alta do cós, não no umbigo que fica no pólo. Pensa Ledório e ademais são dois umbigos, melhor dito, olho e umbigo que não se vêem, se fosse o caso diria ao olho, olho você é ônfalo, umbigo fique de olho, não ia adiantar é o caso de ser certeiro, mas acabará por ser num golpe de azar. Ledório não precisa ler, é um idiota quase autodidata, não fosse o curso de letras no IEL. Enquanto isso na mesa um o mesmo continua igual.