quinta-feira, outubro 19, 2006

4. Tapar.

- Oh!Sousas faça-me o favor, diga-me cá ao pé do ouvido quê há de novo? Porei-me em atenção. Continuarei feliz, tenha sim a certeza do que digo, é-me melhor saber-me feliz agora que ter que ir ao futuro para então de lá dizer-te: Oh! Sousas digo-te que era feliz e cá este maluco não sabia! Não havia mesmo porque ir ter ao futuro. Para quê? Por ter por perfeito simplesmente esse presente. Luis disse isso atrás de lirismo e nostalgia.
Luis segue ao que parecem as primeiras orientações, abichadas junto a seu Navalha. Cruza a ponte sobre o rio Atibaia, famoso por suas Atibaíades. Que Castaño tem como sereias e Ecidão et. Al. quais vestais. Mas isso é uma discussão puramente acadêmica. Para Luis mais bem ficar por aqui com ceras preventivas nos ouvidos.
Piso chão atrás do personagem deste alfarrábio e dos fatos que por fortuna hoje venham acontecer e se tais..., é tratar de contá-las. Sem pressa seguirei, para que não perca os nuances e com suavidade para que encontrando-os e ao contacto não se desfaçam, nem se alterem. Como já foi dito.
Luis ao meio da ponte, pára. Algo a incomodar entre a camisa e a pele, mexe os ombros, ajeita-se e por fim debruça-se sobre a longarina. Olha rio-acima e vê à esquerda os tais patos que foram prendas abandonadas por sortudos de uma quermesse remota. Segue a mirar, até onde sua vista alcança. O Atibaia que aqui passa é um rio de sobras e mesmo não todas, ainda que com as águas de um fevereiro áqüeo, flui mui magricela, mas já o viram imemorialmente untuoso, já o disse seu Navalha. Luis ainda vagueia seu olhar para a montante e vê tartarugas rochosas esquentando sol e esfolando água, só mesmo juntando dificuldades aos remadores do CRS . Diz:”A água e sua inimitável democracia” e como que a abençoa-la estende a mão sobre o rio num movimento de margem a margem. Democracia! Pensa Luis. “Hum” Luis diz. Ela. Desconhecida pelos que antes aprisionam o rio que tem a dita de descer. Luis que tudo vê, não vê Atibaíades sejam sereias ou drías. Mercapta. E novamente mexe os ombros, enfia a mão direita pelo colarinho junto à nuca.
- Sacam água limpa e restituem dejetos, então devo levar algodões nas narinas. Diz Luis de si para consigo e Bandeira.

“Como fede se não morto?”.
- Que?
...
Prendei o rio.
Maltratai o rio.
Trucidai o rio.
A água não morre ”

Luis lembrando-se do poeta, num tempo em que lia poetas e bebia água com as mãos em concha à beira de córregos cristalinos. Naquela época acreditava nos moleques que diziam: “engula o peixinho vivo que você aprenderá a nadar”.
Aprendeu? É a pergunta.
Sim! Eis a resposta.
O rio vive mediocremente por nos dar vida. Luis e o seu monólogo. E muito por isso, pela sua mediocridade foram as sereias encantar outra clientela. E com elas os Dourados, Bagres, Piaparas, Piaus, Tilápias, Mandis e Traíras. Restam hoje, Petcolápias, Petguaranás e Toronços-bóia pescados na simbólica limpeza anual do rio. Uma pescaria de botinas. Tudo se transforma em comércio precário. Ajude a limpar o rio comprando camisetas, chaveiros plástico envoltos em mais plástico. -Meu senhor salvador do rio onde deposito este invólucro de plástico se não há uma lixeira nessa praça e se salvássemos primeiro a praça? - Não sei! - E se salvássemos os tomadores de refripet e se salvássemos nós mesmos da duplicação desenfreada de nós mesmos como vermes num cachorro morto, ele próprio com sua curva de geométrico crescimento canigráfico atingindo os píncaros! - Talvez tenha dito isso ou pensado dizer. Não faz diferença, disse que disse, está dito.
As respostas fizeram-se ouvir, todavia sem incumbências. E o Águas-claras de sobras que ainda segue não é mais que sobras às nossas sobras somadas, nem mesmo tão claras e ainda menos águas.