quarta-feira, dezembro 27, 2006

34. RESSURECTO.

Ouça o barulho da pia de Luis, que tem os cotovelos enterrados no tampo da mesa e a cabeça pesada pousada entre as mãos enchendo-as como se fora um cálice transbordante dela mesma. Um vai-e-vem. Assunto. Solução. Nuvem de moscardos. A lama cor de chocolate embaixo das unhas. Palito de dentes manicuram. Cabelos alisados por uma emplasta de lama. Peruca loira, dois tons acima do da sobrancelha. A barba crescida um quarto de milímetro, faz lembrar barba de defunto fresco. E a barba sempre cresce. E o morto sempre ressuscita.
Hug! Soluça. Renda. Hugenotes, e notes isso não é bluenotes. Meninas-da-Treze-de-Maio, libertem-se do malcheiroso desodorante barato. Mercaptana dentro de bombinha com desenho futurista vencido.
Alguém (um Glauber, não unglauber, sim glaubst) subido no pára-choque de uma Kombi com um megafone à boca, grita mais alto que este: Estética! Tudo pela estética. Não erraremos nunca. Estética essa é a palavra de ordem.
Melhores condicionadores. Melhores panos melhores. Cortes melhores cosimentos.
Pardelhas! Grita O Glauber.
atenuar diminuir adelgaçar exacerbar assanhar embravear excitar-se acalmar-se sossegar serenar amainar diminuir atenuar sempre o roer da conservação das criaturas passadios, indumentos, bebes, bálsamos, bolus de cachaça, Pingário!
Hahaha! Salário de pinga, pinga salário pingário.

Acalme-se rapaz! Diz de si pra consigo.

Coletivos são plenitudes individuais.


TESES.
Um estado de interesse.
Não um estado de direito. Nem um interesse de estado, tampouco o direito do estado.

Vamos ao que interessa. Deixe-me em paz Napoleão! Grita Glauber
mercado? Alguma alma furtada. Vida? Dissolvida.

- Às últimas conseqüências. Acredita Luis. Livre arbítrio? Um Glauber.

Partidos, só tidos por par.

Estética. Não a regressão à publicidade risível.

Geopolítica. Se um viajante numa noite de luar viu o sul virado para o norte, quem diria que o sul é para baixo?
Mercartor...
Deus?
Que não o transformem em biscoito.

Deus do céu!
Eu é que não existo, assim sendo não sei o quê sou. Não sou um quê.

Sincronia.
Não-destruir para subsistir.





Preguiça consumada.
Preguiça culposa, ócio laborioso

Pequenas não-soluções para o dia-a-dia.

Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito com crédito e não esquece a senha.
Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito que talvez tenha crédito e um outro para quem costuma esquecer a senha.
Caixa de supermercado para quem tem mais de um cartão de crédito-verifique-qual-deles-tem-crédito-disponivel. Senhas anotadas nos cartões.

Canícula. Chove pra cachorro.
Dia de cão. Faz calor de engrossar pescoço.
Proibido. Conduzir pela direita. Exceto nas ultrapassagens.

33. Juízo.

Laura estava dentro do cristal de um vitral, melhor dito, estava dentro da própria luz que o varava. A luz a forçava a baixar a cabeça à fugir os olhos da luz. Também assim a luz a cegava. Então cerrava os olhos. Ainda assim a luz a cegava. Quer responder a uma pergunta que não foi feita. Tartamudeia ao responder: sim sou o que sou. Agora a luz parece mais leitosa menos aguda e tépida. como se estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que permitisse a ela levantar a cabeça e abrir os olhos, mas ela nada vê senão que o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos. Não ouve perguntas ela não pensa em respostas, nem o pensamento existe, apenas o leite por toda parte, parece não lembrar de nenhuma pergunta mas ela responde lentamente: sim, também. Os séculos passam entre uma não-pergunta e outra. A luz se apaga lentamente. O branco abruma demoradamente. Imêmore. Completamente.

32.VAZANTE

Luis está bêbado, quer mudar de assunto. Feia insiste em fingir não vê-lo, Mércia se esforça em mostrar mais do que por sabedoria se quer ver. A musa Isabelissima está com o Ente. Hermítio lê. Ledório lê. Sr. Pavão está feliz, as suas meninas felizes, seu futuro genro presentemente feliz. Seu Ademar e Aluno estão felizes com as lágrimas derramadas e as cachaças bebidas aumentadoras de toda sensibilidade. Edmilson e sua mulher e os acompanhantes todos felizes, quase tem a crônica, pronta. Mércia e Belmigo? Nem tanto. Ele está zeloso de pernas cruzantes descruzadoras. O Ente beija Isabellle. Todos os outros falam sobre a enchente.

31.Reintroibo.

De volta ao lar. Luis sem planos. Luis sem Laura. Luis.
- Já que não podemos sair daqui então...
- Então o quê? Falou Zénão.
- O chope falecido? Pergunta Luis.
- Faltoso!
- Ausente!
- Alheio!
- Distraído!
- Desatento! Fala Zénão fechando o pinga-fogo.
- Belmiroooô! Gritou Luis, já que o atraso é de lei.
- Que foi comeu sal, não dá pra esperar? Fala Belmiro mais perto que se esperava, quase intrometido.
- Sal não, ostra e bacalhau! Luis.
- E a que esconde a beleza? Pergunta Zénão.
- Conto-te já, ela a figura sem tristezas aparentes quis saber quem eu era! Disse Luis. Sério.
- E você? Que disse?
- Deveria haver dito que era um caracol que carrega a casa, a origem, mas disse que não sabia, e que tenho medo de saber, e saber que não tenha afinal tanto controle do que sou ou penso que sou e que são décadas de uma edificação sem fim. Agora que fui lá novamente pareceu-me zangadamente acessível. Mas meu cheiro estava lhe incomodando!
Luis ainda crê que mulheres não têm metafísica. Têm sabedoria e sabedoria é uma raiz que afunda na terra em busca de folhas, flores e frutos, cada qual no seu tempo. Luis quer florescer no inverno, no outono e acaba por ficar meio encruado na primavera.

terça-feira, dezembro 19, 2006

30.Beocismos.

- Então a vida é romântica?
- Sim e nos apavora qualquer coisa que quer se afastar do romântico.
- E o quê se desgarra?
- Coisas aparentemente beócias como a criogenia, a clonagem, o homem no espaço sideral. Imagina você um homem que se nos apareça e diga: sou o primeiro humano imortal, vocês serão os últimos mortais, a ciência ou a casualidade nada poderá fazer a vocês senão que aumentar-lhes uns aninhos na velhice. Mas vejam, vocês e todos seus ancestrais, foram geradores desta possibilidade, não se aflijam, pois vejam, nada foi em vão.
-É! Causaria pavor, já pensou ser você o ultimo homem mortal que viu o homem imortal?
Tudo dito Luis olhava Feia como se pelos olhos dele a imagem de Laura saísse em raios luminosos e refletidos nos espelhos das gelosias em ângulo remontassem e sobrepunha Feia onde braço esquerdo caía ao longo do corpo com uma leve inclinação do torso que assim descarregava seu peso sobre o cotovelo direito, abstraída, abandonada, o olhar parado antes de sair do corpo, sem vida.
- Não! Grita Luis, não é razoável deixar que morra e ter que ficar com a minha própria fechada boca. Não morra. Não quero que você morra. Eu te quero assim como é. Nunca morrerá.
Enquanto seu Ivan, um pato quando um pato sai da água, que chegara entrementes Luis dançava perguntava-se, que diabo de errado tem as geladeiras, afinal as geladeiras gelam o chope. Seu Ivan foi representante da Brastemp e sempre se vexa quando, usam a frase mercadológica da empresa em relação às mulheres que conquista.
- Te apresento meu amigo seu Ivan. Belmiro brincante.
- D’ond’é que ele veio? Pergunta Antoine.
- De Tupã!
- Qu’é que ele merece?
- A peba gorda do irmão da anã.
- ÃÃÃ seus gracinhas! Grunhe Seu Ivan.
- Que tem o seu Ivan? Está triste! Pergunta Luis a Zénão.
Desempregado, quando até rufiões trabalham! Diz Zénão.
De onde você tirou isso? Pergunta Luis cheio de inveja.
Eu sou o teu Sancho meu velho!
Depois do valioso acréscimo de qualidade de vida geladeiras causadoras Seo Ivan defendeu cartões tíquetes restauradores modernizadores na redistribuição de migalhas e orelhas e pés de porco.
- Se coubesse no bolso dele, carregava a empresa ao bar, e a malvada chuta-lhe o rabo. Disse Luis.
- Vai tomar um esguicho de água limpa, Luis você está fedorento. Disse Zénão.
- Cheiro ao dia da criação! Disse Luis e adicionou - às vezes para que alguém viva alguém tem que ir pro inferno. E como um pároco pedante somou: e quia nulla est retemptio.
- Essa dependência é que é, romântica, meu caro! Diz Zénão.

O Atibaia segue estufado, grávido de gêmeas gotas grandes, passando a um palmo do chão do Deck. Luis pega da mangueira e se desenlameia no estacionamento, sob o olhar insatisfeito de Wirto.
- Onde está sua calça?
- Na casinha.
- Não volta pro bar assim não. Wirto tomando rédeas.
Luis banhou-se mal-e-porcamente e vestiu-se molhado, o calor do corpo secará tudo como secou a figueira. E foi em direção a mesa 21.
- Feia, soltando uma baforada, pressentindo um assédio mais pegajoso, rompe com um: Você está me incomodando. Até no cheiro, completou, como uma mãe falsamente zangada.
Sossegada! É que você só participou do segundo ato da criação, e já não havia barro. Fique tranqüila, que logo logo deus criará o perfume francês.
- Pensei que os santos ocos fossem feito de madeira.
- Perdoa. Foi mal. Escarnecendo. Retirando-se.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

29. O Sátiro.

Luis só em cuecas e sapatos chega correndo salta o defluente, gira em estrela como uma roda de carroça, para e salta com o corpo vergado sobre uma perna, cabeça para o céu, braços jogados, uma perna dobrada, mergulha na lama fétida emerge apoiado nas pontas dos pés e mãos olhos esbugalhados e orelhas pontiagudas balança o corpo como que transando com a lama, corre salta escala o banco de jardim, o povaréu surdo. Corre do banco para o coreto saltando arbustos olhando para o lado e para trás, segurando com uma das mãos às ramas da primavera do coreto pendulava, num trapézio improvisado hora sobre o já Atibaia hora sobre o chão submerso do coreto. Parou. Mergulhou do coreto para a ilhota, a meio caminho enterra as mãos na lama gira o corpo sobre a cabeça os pés voando até voltar ao chão, a besta-fera marrava, correu até a ilhota, uma perna em cada haste, salta o banco e em disparada salta o defluente, a multidão vai do atarantamento a uma algazarra jubilosa. Luis volta mutante, vivificado, braços caídos. Infantis. Exala suspiro fundo de quem lavou com lama a alma, enquanto caminha pelo estacionamento, chutando lama com pernas esticadas, espirrando água como um motor na proa.
- Que deu em você Luis? Pergunta Zénão.
- A lama, é a alma! Diz Luis enlameado.
- Você..., não sabia desta vocação para o estrambótico. Fala Zénão.
- O que há de estrambótico em dançar, no mais também gosto da ação e que se assim permanecesse, logo ele me pintaria como uma montanha graxiforme com uma cabeça enterrada entre as mãos em meio um enxame de mutucas. No mais Zénão, estamos ilhados, é o dilúvio.
- É meu velho. Fala Zénão. Juntou a ubiqüidade de Deus em sua forma água e a humana no dia de hoje. Zénão brilhando.
- Um não existe sem o outro e noutro eu não creio. Fala Luis zeloso.
- Hahaha em que ordem?
- Vice-versa.
- E ai Belmiro?
Belmiro em seu calção cruzara todo o estacionamento da galeria, em águas até o joelho. Voltava com os poderes das noticias novas qual revistas semanais em consultórios sem virar sabedoria. Cheirando a inundação e inundação cheirava a muita merda, humana, bovina, suína e enfim latrinas mamíferas e ovovivíparas. Mercaptan. Mas isso é o de somenos importância.
Diria a Luis o que aconteceu com Laura? Belmiro aconselhou-se com Wirto, todos sabem da veneração. É melhor ter certeza. Sentenciou Wirto. E Belmiro prosseguiu com o noticioso censurado.
- E ai o policia pegou a dona Ísola no colo enquanto o bêbado escapou da corda e foi pela correnteza, mas antes a correnteza puxou a calça do cara até o pé, ele tava sem cueca e a correnteza levou o cara até a pastelaria. Depois veio um banco lá do bar do Zé do Cleto o cara pegou o banco e sentou e cruzou as pernas. Depois esse louco ai dançou no meio da lama. Disse Belmiro de carreirinha.
- O lamaçal da felicidade comporta tudo que existe, quero dizer, queria que fosse infinito, e essa é a minha busca. Luis fazendo apologia da sua lambança.
- Até a morte. Disse Belmiro.
- Sim! E se não for isso aqui a festa prometida? Quanto tempo se perdeu na ante-sala.
- Inexorável. Diz Zénão.
- Salvadora.
- Como? Salvadora!
- Vivemos assim, tão sem desejos e paixões, com menos que a morte permite, e o que por fim fazemos é atabalhoada e romanticamente perseguir sua abolição.
- Que você quer dizer com romântico? Pergunta Zénão.
- Tudo que culmina com ela.

terça-feira, dezembro 12, 2006

28. Rio enchido.

- E ai Belmiro? Pergunta Zénão com ouvidos moucos ao prantear, no que Belmiro se lança na narrativa do visto na rua Maneco Rosa.
- As águas do ribeirão das Cabras estão quase na altura da ponte e numa velocidade de dar medo. Noticía Belmiro.
- Então é isso! Luis intrometido. Interrompe. Define. Essa água do ribeirão das Cabras é causadora desta exabundância do pacato Atibaia.
- Como Luis? Um riozinho entanca o Atibaia? Ignoram.
- Como? Já não cogitando o que não se cogita. Mas...Explico diz Luis.
- Então explique J.J. Belmiro fazendo graça. E sem explicar nada Luis levanta-se e vai a casinha.
E sabe o que aconteceu querido leitor? O ribeirão foi-se enchendo, ora lentamente, ora de borbotões turbilhonados, e o povo ia avançando por locais já não permitidos pelos bombeiros, chefes de ocasião, PMs, defesa civil ou puramente sensatos que todos por fim são. Alguém gritou que acabara de passar uma cadeira arrastada por um vagalhão que arrasou o bar do Zé do Cleto, e os objetos foram se nomeando e enumerando, de todos os tipos e razões de uso e desuso e por fim todos acabariam e acabaram por ter no leito do ribeirão sua campa ou boiando como as tábuas do cantor, quando ali todos achassem, e achavam, pensassem e pensavam, cogitassem e cogitavam, veio uma pororoca pelo ribeirão que os que viram a onda davam-lhe dois metros, metrimeio e que os que não viram foram por ai aumentando-a na nostalgia de não a terem visto, proporcionalmente à distância que estavam do fato.
Fato é que depois desta onda a pontinha ficou coberta pelas águas esguichando enfurecida como um gêiser e a ruazinha que nela dava, tornou-se um sonegador de águas com força de corredeiras, e uma parte desta água toda seguia com força em direção da ponte pênsil que cobre o Atibaia e que por ali um dia passaram as tropas constitucionalistas que vinham desilhar dos mineiros os sousenses de antão e agora e dela as águas caiam numa cortina escura sobre o estancado Atibaia que parou por ali e foi se enchendo, pois sabia de memória o seu caminho natural de descer sempre descer, mas desta vez encontrara o sanhudo ribeirão, hoje um pedreiro desconstrutor.
A devaricada batia na parede da casa em frente formando um imenso rebojo e ia com velocidade até a pastelaria onde equânime democrática formava um mangue e a calmaria do plenilúnio, com sua maré foi ilhando casas, pessoas, umas sós outras em cardumes. A velhinha da casa verde saíra de sua casa e tinha sua própria ilhazinha com quatro hastes de coqueiro em meio à turgidez da sizígia e tudo defronte a pizzaria Fidúcia. Ela estava infeliz e fazia sinais, e gritava um grito inaudível dado o som de cachoeira do defluente do ribeirão. Mas não dava para resgatá-la, a rua rio defluente arrastaria quem quer que fosse. Surgiu uma corda, e um policial que por hora não podia capturar essas águas fugidias há muito presas e escravizadas em represas e açudes particulares a melhorar paisagismos de condomínios lá pros lado e para além destes lados de Joaquim Egidio. Amarrou a corda no poste e jogou a outra ponta da corda para o pizzaiolo, também ele ilhado, que a amarrou no pilar da varanda da casa que por agora não tinha mais o endereço Maneco Rosa 21 com todessa água tinha condições geográficas de ilha, a ilha da casa avarandada.
Corda tencionada o policial meteu-se com técnica a atravessar o defluente, colocando-se à corda de tal forma que a correnteza do defluente não lhe puxasse e sim lhe empurrasse contra a corda tencionada. Cruzou a correnteza, sob aplausos da angustiada multidão e agora em águas calmas do pequeno mangue que ficava em frente da igrejinha de São Sebastião. Movia-se perscrutando o chão invisível lentamente arrastando os pés no submergido e desconhecido fundo que de memória também sabemos ali havia um banco de praça um hidrante uma roseira? Não!
Roseira não havia! Podia haver se houvesse vindo lá de onde toda essa água havia fugido com as marcas de quem começa fugir no começo da tarde e segue varando cercas rasgando roupas e peles rolando pelo chão quais escravos de uma outra época, pois os desta época não se sabem como tais com seus tíquetes qual feijoada e seus casebres senzalados, sempre a beira-rio, agora com o acréscimo de vantagem, inundáveis de lama fertilizadora.
A filha da senhora da ilha dos três coqueiros chegara de Campinas em prantos de quem perdera a casa, o cachorro, a mãe. - Perdi tudo! Tudo que tinha.- Tudo dito em prantos. Nascida e vivida para a tragédia aguada, rasteira e estúpida, que na televisão se lhe fez parecer assim ser, e agora a telespectadora à imagem e semelhança da sua atriz favorita. Tem medo. E há uma quase alegria trágica desta não divulgada opereta, mas continuava sua lamúria esperançosa de um subir o pano.- Deus! Meu Deus tenha pena de mim e me ajude -. Seguia a lengalenga sem se dar conta do de-fato. Mas os aplausos que a consolariam, vieram para o policial que agora tinha nos braços, como quisera o poeta, dona Ísola, salvada assim nupcialmente, sorrindo as lágrimas do medo, do desamparo.
-Ai minha mãezinha! Começa assim.
-Ai iai ai minha mãezinha. Seguia assim.
Tirania. E o polícia vencendo o mangue recente dessa tragédia propalada diariamente com a obrigatoriedade de uma cruz que muda de ombros que acabam por ser sempre os mesmos. Sem cunhar sabedoria. Nilo, Tigre e Eufrates.
Um dia aqueles açudes romperiam e romperam. Luis da Silva Neto, a cada passada por essa praça planeara um festival de teatro, a vocação do velho casarão com sua janela rapunzeica, o terraço balaústrico, seus tijolinhos veronenses. Dizia Luis o mesmo do coreto ali a beirinha do Atibaia, que lhe cortara o outro semicírculo dos outros todos coretos, e por uma razão escapou à lógica ao que este arquitetou. Impedindo-o de exercer sua vocação de ser essencial e talvez por isto permaneça lá isolado deste teatro comunal, onde o palco central fora à ilha dos três coqueiros.
Ísola e o polícia teriam agora de enfrentar a corda e o defluente do ribeirão para poder alcançar a terra firme da calçada do Correio e Telégrafos alvorotada de gentes, o louco agora sentado no espaldar do banco, batia com o graveto na água achocolatada, mercapta, à sua volta fazendo ondinhas. A corredeira exigia do policial que seus passos fossem cada vez mais curtos e que os seus pés cada vez menos subissem do chão, suas canelas em movimentos fortes sim, mas sim também inseguras eram duas quilhas de um único barco singrando a corredeira. Enfim a corda. Queria ajuda, e houve uma tentativa, um bêbado, bebera para além do medo para além dos portos seguros, mas não se precaveu e agarrou-se à corda do lado vazante e no segundo passo a força da correnteza tirou-lhe o pé do chão e ele flutuou agarrado com mãos inseguras, logo a corredeira arrastou para seus pés seu moletom, desvestindo-o, lavando-o, sentiu vergonha, nunca medo. Soltou uma das mãos para tentar puxá-lo e vestir-se, a operação durou pouco e ele nem conseguia por fim se vestir e segurar à corda, chupado pela correnteza, foi arrastado pela devaricada de costas como convém aos homens, bateu na parede da casa em frente passou pelo rebojo e continuou sendo arrastado até a pastelaria. Ali em águas calmas democráticas, sentado, descorçoado com águas até o pescoço vestiu-se assim. Levantou-se com um certo júbilo e cai estando meloso e ágil batia mãos e pernas tentando nadar, e nada, só fez em roubar a cena do Policial e de Isola.
-Ele vai morrer. Acudam este homem pelo amor de deus. Gritou em uníssono o povaréu.
- Braçadas e pernadas. O bêbado fez.
- Meu Deus. O povaréu.
- Levantou-se como quem tropeça. O bêbado
- Hahaha. O povaréu.
-Caiu de boca. O bêbado.
-Hahaha. O povaréu.
Levanta-se como quem faz flexões, já num lugar mais raso e a boca cuspindo lama, ou vomitando, nunca se saberá. E nisto já ia a meia corda uma heroína.
- Hum! Camiseta molhada. Murmura um grupo. Enquanto nossa heroína chega até aos protagonistas. Confabulam.
-Que tanto cochicham? Os curiosos do mesmo grupo.
Parece que o Policial não aceitou a ajuda oferecida, prevendo que lhe faltassem braços à travessia. Falou qualquer coisa com Ísola, passou da posição de tê-la nos braços, pré-nupcial, para algo mais desconfortável, primitivo, agarrada junto às ancas, no entanto mais segura, passou por baixo da corda, mantendo a técnica e com a outra mão segurou-se a corda, enquanto passava navegando um tamborete, que foi parar junto ao bêbado que espirituosamente nele sentou-se.
-Hahaha. A galera.
- Óóóóóó...Ó. quando falseou o passo o Policial. E tudo seguia perfeito no mais absoluto improviso, se algo sólito advém de telenovelas e Hollywood.
-Hahaha. Em derrisão alaria um filho de Deus.
No que o bêbado se sentava sobre banquinho e equilibrando-se cruzou as pernas ergueu os braços aceitando o riso e a chacota e algumas palmas numa fina estampa.
O Polícia chega a porto seguro com sua Ísola às ancas. Sob ehês, e clap clap.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

26. Re Introibo ad mesare um.

Devemos beber, falar, cantar e dançar, tudo e acima de tudo incessantemente e intensamente. Luis tem o copo de chope levantado, em ofertório.

- Essa é minha bandeira. Disse Luis, celebrando seu retorno a mesa um já bem ido na começão de água.

- Então Luis essa história, do beijo, você já havia me contado. Falta algo, quando você me contou aqui mesmo nessa mesa, foi mais crível, mais viva, havia mais suores, não que seja de todo ruim, tem até um certo estilo, não é plágio, não é uma impostura, mas enfim como você já me disse o seu desejo é escrever um livro, então que seja esse e assim. Estou errado?

- Não. Responde Luis secamente.

- E você o que você pensa?

- Estou tentando deixar a minha guerra de mesquinharias falando sozinha. E a vaidade também. Eu quero um critico. Gritou. Um não. Todos.

- Um dia há de vestir o fato da academia. Fala Zénão.

- Não tenho essa veleidade.

- Mas escrever um livro não deixa de ser uma. Ou um instrumento dela.

- Pardelhas! Agora a vaidade tem hermenêutica? Zombeteiro não entendido de palavras completamente.

- Claro.

- Vaidade custosa! Exclama Luis.

- Tudo é custoso. E por que você quer escrever um livro? Tem algo que não foi dito a humanidade, daquelas coisas dentro da gente que insistem em descalar?

- Nada disso não!

- Se você quer ganhar a vida, é um péssimo negócio. Seria para conseguir uma obra de arte? Um instrumento de transformar o objetivo em subjetivo ou no seu duplo, reinterpretando tudo da minúcia a essência? Pergunta Zénão.

- Sim meu amigo, ler o inconsciente coletivo do coletivo inconsciente para conhecer a mim mesmo. Saber das razões e suas determinações, das leis difíceis de fugir. Por exemplo, por que uma maçã cai? Por que está madura ou podre? Não! Cai só porque existe a gravidade, senão que ficaria madura ou podre lá no galho. E se não houvesse gravidade sequer existiriam macieiras ou arvores. Pode ser contraditório, mas o que faz com que caia pode ser o que faça crescer, a gravidade. A vida como ela é ou a invenção de uma vida tem sua engenharia. Luis lamuriento.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

25. Rezaiste

Belmiro pela porta do fundo do Deck trazia as noticias ainda quentes da enchente. Mercapta.
- Você viu Zénão o que está acontecendo?
Zenão não vira, pois estava discutindo o tal texto de Luis. Compenetradíssimo.
- Cadê J.J.? Perguntou Belmiro.
- Pare com isso Belmiro. Deixe me em paz.
- Luis Bebeu. Cantou. Está na 21 se engraçou com a mais Feia.
- Treta. Belmiro maquiavélico.
- Né não.
- É aquele negócio; conversa com a Feia simpática atira uns tijolos na mulher bonita que está sempre, pordeus, insegura.
- É por ai. Como você é xarope Belmiro.
- Li o Manual para melhor te xavecar[1]. Fala Belmiro.
Enquanto isso Luis toma do seu copo e se despede temporariamente das moças. Todos sorridentes. Passa pela 11 a mesa da discórdia, neste instante quarta-parte ocupada. Lá esta H. de Pádua fundador do separatismo sousense, tenho certeza se dito um Hijo de Puta, HdeP, ele fica fulo. A Europa se unindo e Sousas município? Evidente só ai poderemos cuidar melhor da APAs segundo um interesse sousense, não com um sub-prefeito pau-mandado dos Jequitibás. E lá vem chegando a base operária do Sousas Município Autônomo, SOUMAU. Jão Prodome chega.
- Fala dotor. Fala Jão.
- Falo, falo sim. Diz H. de Pádua e emenda: vou direto ao assunto.
- Pode falar doutor sem rodeios. Fala Jão.
- O cabeceira deixou quinhentos paus para repartir com o pessoal. Disse-me ainda: Dê mais a J. P., Ele gosta de você Jão. Ele disse, o Jão é o porta-voz, não ele disse, Jão é o munícipe, o povo em si, está nos bares bebe socialmente depois disse, dê um pouco para o jornalista como que se diz? J.C. Emedione outro tanto pro advogado GB Gabriel e falou assim olhando no meu olho, só volte a me procurar depois que for eleito, que vou então acabar com essa mixórdia e daqui a dois anos Sousas estará livre com eleições e você será o primeiro prefeito HijodP, olha que não gostei, mas que fazer? Era o homem ele mesmo sem recados disse ainda: comportas a montante, construir palácio dos Ingazeiros entre os dois rios, mesopotâmia Hdputa. Mas doutor Rezaistes talvez fosse melhor já fundar um principado então teríamos famílias principescas e principais. Não HdeP.. Doutor! Quase fiquei nervoso, ele sabe que não gosto, mas ele pode. Não esqueça as bases meu munícipe, as bases. Frisou. Os munícipes são a nossa força, depois mando tirar todo esse lixo de gente daqui com um chute nos rabicós de cada um. Sim senhor doutor Rezaistes. Eu disse. E ele disse ainda: entre na ação cidadã desse ano junto com o Jão P. faça camisetas enfeite os barquinhos recolhedores de petcolápias contrate modelos e vista-as com as camisetas, não coloque o meu nome que ainda não é a hora. Modelos? Será que chegam a virar mulheres, sempre só um modelo um protótipo não importa sempre sobra uma roçadinha aqui um bumbum distraído ali jantarzinho alegre lá no-como-se-diz? É práisso mesmo, de negócios, todo bonitinho, respeitoso, conheço o garçom e ele descola mesa do fundo, pés sob a mesa subindo canelas durinhas, penugens, calor subindo, mais um vinho, merecemos, foi um dia lindo, o povo na praça, as petcolápias amontoadas na Beira-Rio, fotos no Correio, na coluna social do XV, com sorte na do Correio, conheço o cara lá do Citibar, vinho branco Camilo Alves.
Jão Prodome bota as notas de cinqüenta na carteira, aperta a mão de H. de Pádua e escafede para o Central, que “lá que é o meu lugar”. Sai dizendo.
Luis na volta esbarra na estátua de Hermítio que lê Carta Capital que não se incomodaria ainda que o Bertolini passasse por aqui tocando o mini-trompete dentro da sua orelha.


[1]Manual de Xavecagem por Ecidão, com anotações de Nicola Machiavello.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

24. bah! histórias....hum..

HISTÓRIA DEVERAS INTERESSANTE DE COMO UM PRETENSO ESCRITOR DESOBRIGADO OBRIGOU-SE A EXPLICAR A PRETENSO CRÍTICO NÃO PASSÍVO LEITOR DA HISTÓRIA QUE AMBOS SABIAM ONDE NA QUAL NÃO PODIA HAVER COMEÇO NEM FIM NEM DEVERAS INTERESSANTE HISTÓRIA.


Zénão tem à mão ainda o maço de folhas envoltas num almaço impermeabilizado por uma fina camada de gordura onde se lê: O Beijo
- E este O Beijo?
- Este será o último capitulo do livro, por ser ele possível, não quererá acabar em desdobramentos, mas num beijo.
- Capitulo ou epílogo? Pergunta Zénão.
- Não importa serão as últimas páginas e por agora quero sua critica.
- E sua própria opinião?
- É sempre favorável às minhas crias.
- E onde entra esta poesia que li? Pergunta Zénão.
- Imaginei o personagem usando-a como instrumento de demonstração de sensibilidade, uma criança que empurra o copo cheio de leite só para vê-lo ele o leite derramar.
- Já têm nome esses personagens?
- Têm. Luis e Inês.
- Não era Laura?
- Não era Laura! Era?
- Não sei, acho que era!
- Você acha que ia por o nome dela?
- Não sei não, por que não?
- Acho que ela não ia gostar!
- Por que não?
- Você viu hoje?
- O que? Ela dançando com você?
- Então eu não esperava por aquilo! Ela tem atitudes que nem me surpreendem mais, dada a constância da inconstância.
- Mas se colocasse o nome dela isso ia mexer com você e permitir mais liga.
- Onde você viu isso?
- Vê os compositores, quando compõem para elas.
- Não é isso não Zenão, isso é pra acalmá-las.
- Deixa isso pra lá, como é o enredo então?
- É simples e ao mesmo tempo complexo.
- Como assim?
- Ela lhe dá papinha. Hahaha!
- E o que significa isso?
- Sabe Zénão, Luis não consegue transpor o círculo, parece que Virgilio o abandonou. E ela olhando desde dentro o vê invisivelmente familiar, mas não o permite descer, e nem não impede.
- Quer saber? Disse Zénão e continuou, Luis quer o perigo, mas o teme. Cobiça, mas odeia a dádiva. Acabará por ser vencido e não aceita. sabe que viver é uma luta continua e absurda e inapelavelmente fatal.
- Resulta em que, meu querido?
- Adaptar-se ao poder da fraqueza.

- Acho que sim Luis sabia que era mais fácil trepar com ela que a amar, como naquele dia que ela falou do tal Molyna e Luis já sabia e Luis jogador não quis umas cinco vezes fazer os caprichos dela e ela ardendo de desejo tanto que até seus olhos estavam brilhilubrificados e Luis dizia “eu te amo”. Quase a obrigava a dizer o mesmo por um pouco de sexo. Então Luis escarnecia dele mesmo para ela relaxar e então ela o deixava e saia atrás do Molyna, tudo porque Luis realmente a amava. O sexo em si é para Luis uma efeméride, e muitas vezes sustinha-se com putas e punhetas, e definitivamente queria com Laura sexo e amor.
- Isso é do mais refinado masoquismo! Diz Zénão.
- Como assim?
- Como? Negar sexo à mulher que insistentemente se ama! Que é isso senão masoquismo!
- Calma! No caso sádico também se ele só fazia seus próprios caprichos.
- Esse Luis estava era com muito medo, isso sim!
- Pode ser.
- Pode ser não, é, ele tinha era medo dela!
- Medo como?
- Medo! Medo do sexo com ela.
- Medo nada andava platônico cada qual com sua história que não incomodava o outro, nem ciúmes, nem desdém.
- Nossa você está louco, meu amigo, pensei que tinha se curado. Cadê o desejo?
- Às vezes o desejo...
- Quê que é isso?
- Não deixará contá-la nunca, quantas mudanças tanta interferência?
- Conte.
- Você não acha interessante se jogar tanto, a ponto de não restar outra coisa senão o jogo.
- Sim, mas não lerei.
Lere lerei lere lerei... Cantarola Luis. E segue - O texto exige de mim, ele arranca de mim o que eu não queria dizer à luz do consciente, imagina agora que eu que sou personagem escapulido do escritor e por ele esculpido, matreiramente a esguivar entre as bananeiras limitantes verdejantes que ele plantou para ser o meu jardim, dizer a ele que esse era o modo mais cruel e possível de viver uma paixão, mas eu queria que ao ler soubesse de si.

terça-feira, dezembro 05, 2006

23. De todas as águas a lama lava a alma.

- Aonde vai aquele povaréu pela Maneco Rosa? Jornalisticamente. Demanda o homem ferido na secção comum.
- Ô Belmiro! Vá se informar, que é do que mais precisamos. Pede e ordena Luis.
- Luis! Que é esse envelope junto com o jornal?
- Uns manuscritos que trouxe pra você dar uma olhadinha, são os trechos do livro, que morrerei a escrever, de que te falei.
- Olha! Fala Zénão abrindo o envelope amarelado tamanho A4 e donde saca um maço de folhas.




O silencio se instaura na mesa um, dada planura do assunto, e porque Luis já ia fazer um discurso que ele acha enfadonho, afinal quem te domina?
- Não sabia que você escrevia poesia! Fala Zénão. Referindo-se à primeira folha do maço já esmaecida e amassada, onde Luis mostrava uma vontade mallarmaica em letras tipo verdana, hora bold, hora em negrito e hora em itálico em diferentes corpos.
- Há muito mais que você não sabe de mim, mas na verdade é uma brincadeira preguiçosa. Dito também no mesmo jeito.
Enquanto Zénão ia lendo:




Anda, anda, anda a espera.
Espera.
Espera, espera, à espera anda.
Anda.




Anda e espera. Espera a andar.
A espera desanda.
O andar desespera.
Desesperando. Desespirando aindanda.
Transpiranda transpirando.
Pira parado.



A quantas andas?
Andava andrajos.
Andava trapos?



Trapaças.
Trespassas?


Eu nos trapos sei a sobras.


De sopas?
De sapos!
Assim soçobras, misses!
Sê sim. És Mis.
Assim na missa.
Sobras e cobras.
Miss em ação.
Andas às cobras.
Espera as sobras de sobejos beijos.



Rastejas a rés dos brejos.
Sem sombras no chão.
Salobras sobras às sombras.
O brejo sabe a uma feijoada de ontem.
Com sua película branca.



Uma aranha que perde o fio.
Que a prendia a teia.
Anda sobre um brejo de feijoada.

Anda aranha.
Me espera.

Zénão diz - Engraçado cara, podia ser as sombras sobras salobras, esperam mis em ação de sapos nas missas aranham a manhar uma película de teias de brejos que andam a espera de sapos e cobras. Mas tem algo, que não sei a que a espera anda a espera.
- Tem muito sim de sopa de letras jogadas do saco do arcebispo Tillotson, em defesa da deidade na criação do universo, como se não fosse um mero acaso, e se outros meros acasos de baixa energia e muito e talvez por isso um nada qualquer, preguiçosamente, lentamente em busca de menor esforço ainda, um meramente mero universo frente a outros possíveis quaisquer, sem nenhuma necessidade de agradecimentos e devoções.
- Hahaha
Ri também posto que bar é interagir. Mas parei por ai, voltei às anotações como um porquinho da índia metido com sua folha de capim-gordura que vai entrando pela sua boca, para sair na forma geométrica elíptica de uma pipoca doce na época Kino de Mazzaropi e do imensamente Grande Otelo sem mais nem talvez porque menos.