quarta-feira, dezembro 27, 2006

34. RESSURECTO.

Ouça o barulho da pia de Luis, que tem os cotovelos enterrados no tampo da mesa e a cabeça pesada pousada entre as mãos enchendo-as como se fora um cálice transbordante dela mesma. Um vai-e-vem. Assunto. Solução. Nuvem de moscardos. A lama cor de chocolate embaixo das unhas. Palito de dentes manicuram. Cabelos alisados por uma emplasta de lama. Peruca loira, dois tons acima do da sobrancelha. A barba crescida um quarto de milímetro, faz lembrar barba de defunto fresco. E a barba sempre cresce. E o morto sempre ressuscita.
Hug! Soluça. Renda. Hugenotes, e notes isso não é bluenotes. Meninas-da-Treze-de-Maio, libertem-se do malcheiroso desodorante barato. Mercaptana dentro de bombinha com desenho futurista vencido.
Alguém (um Glauber, não unglauber, sim glaubst) subido no pára-choque de uma Kombi com um megafone à boca, grita mais alto que este: Estética! Tudo pela estética. Não erraremos nunca. Estética essa é a palavra de ordem.
Melhores condicionadores. Melhores panos melhores. Cortes melhores cosimentos.
Pardelhas! Grita O Glauber.
atenuar diminuir adelgaçar exacerbar assanhar embravear excitar-se acalmar-se sossegar serenar amainar diminuir atenuar sempre o roer da conservação das criaturas passadios, indumentos, bebes, bálsamos, bolus de cachaça, Pingário!
Hahaha! Salário de pinga, pinga salário pingário.

Acalme-se rapaz! Diz de si pra consigo.

Coletivos são plenitudes individuais.


TESES.
Um estado de interesse.
Não um estado de direito. Nem um interesse de estado, tampouco o direito do estado.

Vamos ao que interessa. Deixe-me em paz Napoleão! Grita Glauber
mercado? Alguma alma furtada. Vida? Dissolvida.

- Às últimas conseqüências. Acredita Luis. Livre arbítrio? Um Glauber.

Partidos, só tidos por par.

Estética. Não a regressão à publicidade risível.

Geopolítica. Se um viajante numa noite de luar viu o sul virado para o norte, quem diria que o sul é para baixo?
Mercartor...
Deus?
Que não o transformem em biscoito.

Deus do céu!
Eu é que não existo, assim sendo não sei o quê sou. Não sou um quê.

Sincronia.
Não-destruir para subsistir.





Preguiça consumada.
Preguiça culposa, ócio laborioso

Pequenas não-soluções para o dia-a-dia.

Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito com crédito e não esquece a senha.
Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito que talvez tenha crédito e um outro para quem costuma esquecer a senha.
Caixa de supermercado para quem tem mais de um cartão de crédito-verifique-qual-deles-tem-crédito-disponivel. Senhas anotadas nos cartões.

Canícula. Chove pra cachorro.
Dia de cão. Faz calor de engrossar pescoço.
Proibido. Conduzir pela direita. Exceto nas ultrapassagens.

33. Juízo.

Laura estava dentro do cristal de um vitral, melhor dito, estava dentro da própria luz que o varava. A luz a forçava a baixar a cabeça à fugir os olhos da luz. Também assim a luz a cegava. Então cerrava os olhos. Ainda assim a luz a cegava. Quer responder a uma pergunta que não foi feita. Tartamudeia ao responder: sim sou o que sou. Agora a luz parece mais leitosa menos aguda e tépida. como se estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que permitisse a ela levantar a cabeça e abrir os olhos, mas ela nada vê senão que o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos. Não ouve perguntas ela não pensa em respostas, nem o pensamento existe, apenas o leite por toda parte, parece não lembrar de nenhuma pergunta mas ela responde lentamente: sim, também. Os séculos passam entre uma não-pergunta e outra. A luz se apaga lentamente. O branco abruma demoradamente. Imêmore. Completamente.

32.VAZANTE

Luis está bêbado, quer mudar de assunto. Feia insiste em fingir não vê-lo, Mércia se esforça em mostrar mais do que por sabedoria se quer ver. A musa Isabelissima está com o Ente. Hermítio lê. Ledório lê. Sr. Pavão está feliz, as suas meninas felizes, seu futuro genro presentemente feliz. Seu Ademar e Aluno estão felizes com as lágrimas derramadas e as cachaças bebidas aumentadoras de toda sensibilidade. Edmilson e sua mulher e os acompanhantes todos felizes, quase tem a crônica, pronta. Mércia e Belmigo? Nem tanto. Ele está zeloso de pernas cruzantes descruzadoras. O Ente beija Isabellle. Todos os outros falam sobre a enchente.

31.Reintroibo.

De volta ao lar. Luis sem planos. Luis sem Laura. Luis.
- Já que não podemos sair daqui então...
- Então o quê? Falou Zénão.
- O chope falecido? Pergunta Luis.
- Faltoso!
- Ausente!
- Alheio!
- Distraído!
- Desatento! Fala Zénão fechando o pinga-fogo.
- Belmiroooô! Gritou Luis, já que o atraso é de lei.
- Que foi comeu sal, não dá pra esperar? Fala Belmiro mais perto que se esperava, quase intrometido.
- Sal não, ostra e bacalhau! Luis.
- E a que esconde a beleza? Pergunta Zénão.
- Conto-te já, ela a figura sem tristezas aparentes quis saber quem eu era! Disse Luis. Sério.
- E você? Que disse?
- Deveria haver dito que era um caracol que carrega a casa, a origem, mas disse que não sabia, e que tenho medo de saber, e saber que não tenha afinal tanto controle do que sou ou penso que sou e que são décadas de uma edificação sem fim. Agora que fui lá novamente pareceu-me zangadamente acessível. Mas meu cheiro estava lhe incomodando!
Luis ainda crê que mulheres não têm metafísica. Têm sabedoria e sabedoria é uma raiz que afunda na terra em busca de folhas, flores e frutos, cada qual no seu tempo. Luis quer florescer no inverno, no outono e acaba por ficar meio encruado na primavera.

terça-feira, dezembro 19, 2006

30.Beocismos.

- Então a vida é romântica?
- Sim e nos apavora qualquer coisa que quer se afastar do romântico.
- E o quê se desgarra?
- Coisas aparentemente beócias como a criogenia, a clonagem, o homem no espaço sideral. Imagina você um homem que se nos apareça e diga: sou o primeiro humano imortal, vocês serão os últimos mortais, a ciência ou a casualidade nada poderá fazer a vocês senão que aumentar-lhes uns aninhos na velhice. Mas vejam, vocês e todos seus ancestrais, foram geradores desta possibilidade, não se aflijam, pois vejam, nada foi em vão.
-É! Causaria pavor, já pensou ser você o ultimo homem mortal que viu o homem imortal?
Tudo dito Luis olhava Feia como se pelos olhos dele a imagem de Laura saísse em raios luminosos e refletidos nos espelhos das gelosias em ângulo remontassem e sobrepunha Feia onde braço esquerdo caía ao longo do corpo com uma leve inclinação do torso que assim descarregava seu peso sobre o cotovelo direito, abstraída, abandonada, o olhar parado antes de sair do corpo, sem vida.
- Não! Grita Luis, não é razoável deixar que morra e ter que ficar com a minha própria fechada boca. Não morra. Não quero que você morra. Eu te quero assim como é. Nunca morrerá.
Enquanto seu Ivan, um pato quando um pato sai da água, que chegara entrementes Luis dançava perguntava-se, que diabo de errado tem as geladeiras, afinal as geladeiras gelam o chope. Seu Ivan foi representante da Brastemp e sempre se vexa quando, usam a frase mercadológica da empresa em relação às mulheres que conquista.
- Te apresento meu amigo seu Ivan. Belmiro brincante.
- D’ond’é que ele veio? Pergunta Antoine.
- De Tupã!
- Qu’é que ele merece?
- A peba gorda do irmão da anã.
- ÃÃÃ seus gracinhas! Grunhe Seu Ivan.
- Que tem o seu Ivan? Está triste! Pergunta Luis a Zénão.
Desempregado, quando até rufiões trabalham! Diz Zénão.
De onde você tirou isso? Pergunta Luis cheio de inveja.
Eu sou o teu Sancho meu velho!
Depois do valioso acréscimo de qualidade de vida geladeiras causadoras Seo Ivan defendeu cartões tíquetes restauradores modernizadores na redistribuição de migalhas e orelhas e pés de porco.
- Se coubesse no bolso dele, carregava a empresa ao bar, e a malvada chuta-lhe o rabo. Disse Luis.
- Vai tomar um esguicho de água limpa, Luis você está fedorento. Disse Zénão.
- Cheiro ao dia da criação! Disse Luis e adicionou - às vezes para que alguém viva alguém tem que ir pro inferno. E como um pároco pedante somou: e quia nulla est retemptio.
- Essa dependência é que é, romântica, meu caro! Diz Zénão.

O Atibaia segue estufado, grávido de gêmeas gotas grandes, passando a um palmo do chão do Deck. Luis pega da mangueira e se desenlameia no estacionamento, sob o olhar insatisfeito de Wirto.
- Onde está sua calça?
- Na casinha.
- Não volta pro bar assim não. Wirto tomando rédeas.
Luis banhou-se mal-e-porcamente e vestiu-se molhado, o calor do corpo secará tudo como secou a figueira. E foi em direção a mesa 21.
- Feia, soltando uma baforada, pressentindo um assédio mais pegajoso, rompe com um: Você está me incomodando. Até no cheiro, completou, como uma mãe falsamente zangada.
Sossegada! É que você só participou do segundo ato da criação, e já não havia barro. Fique tranqüila, que logo logo deus criará o perfume francês.
- Pensei que os santos ocos fossem feito de madeira.
- Perdoa. Foi mal. Escarnecendo. Retirando-se.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

29. O Sátiro.

Luis só em cuecas e sapatos chega correndo salta o defluente, gira em estrela como uma roda de carroça, para e salta com o corpo vergado sobre uma perna, cabeça para o céu, braços jogados, uma perna dobrada, mergulha na lama fétida emerge apoiado nas pontas dos pés e mãos olhos esbugalhados e orelhas pontiagudas balança o corpo como que transando com a lama, corre salta escala o banco de jardim, o povaréu surdo. Corre do banco para o coreto saltando arbustos olhando para o lado e para trás, segurando com uma das mãos às ramas da primavera do coreto pendulava, num trapézio improvisado hora sobre o já Atibaia hora sobre o chão submerso do coreto. Parou. Mergulhou do coreto para a ilhota, a meio caminho enterra as mãos na lama gira o corpo sobre a cabeça os pés voando até voltar ao chão, a besta-fera marrava, correu até a ilhota, uma perna em cada haste, salta o banco e em disparada salta o defluente, a multidão vai do atarantamento a uma algazarra jubilosa. Luis volta mutante, vivificado, braços caídos. Infantis. Exala suspiro fundo de quem lavou com lama a alma, enquanto caminha pelo estacionamento, chutando lama com pernas esticadas, espirrando água como um motor na proa.
- Que deu em você Luis? Pergunta Zénão.
- A lama, é a alma! Diz Luis enlameado.
- Você..., não sabia desta vocação para o estrambótico. Fala Zénão.
- O que há de estrambótico em dançar, no mais também gosto da ação e que se assim permanecesse, logo ele me pintaria como uma montanha graxiforme com uma cabeça enterrada entre as mãos em meio um enxame de mutucas. No mais Zénão, estamos ilhados, é o dilúvio.
- É meu velho. Fala Zénão. Juntou a ubiqüidade de Deus em sua forma água e a humana no dia de hoje. Zénão brilhando.
- Um não existe sem o outro e noutro eu não creio. Fala Luis zeloso.
- Hahaha em que ordem?
- Vice-versa.
- E ai Belmiro?
Belmiro em seu calção cruzara todo o estacionamento da galeria, em águas até o joelho. Voltava com os poderes das noticias novas qual revistas semanais em consultórios sem virar sabedoria. Cheirando a inundação e inundação cheirava a muita merda, humana, bovina, suína e enfim latrinas mamíferas e ovovivíparas. Mercaptan. Mas isso é o de somenos importância.
Diria a Luis o que aconteceu com Laura? Belmiro aconselhou-se com Wirto, todos sabem da veneração. É melhor ter certeza. Sentenciou Wirto. E Belmiro prosseguiu com o noticioso censurado.
- E ai o policia pegou a dona Ísola no colo enquanto o bêbado escapou da corda e foi pela correnteza, mas antes a correnteza puxou a calça do cara até o pé, ele tava sem cueca e a correnteza levou o cara até a pastelaria. Depois veio um banco lá do bar do Zé do Cleto o cara pegou o banco e sentou e cruzou as pernas. Depois esse louco ai dançou no meio da lama. Disse Belmiro de carreirinha.
- O lamaçal da felicidade comporta tudo que existe, quero dizer, queria que fosse infinito, e essa é a minha busca. Luis fazendo apologia da sua lambança.
- Até a morte. Disse Belmiro.
- Sim! E se não for isso aqui a festa prometida? Quanto tempo se perdeu na ante-sala.
- Inexorável. Diz Zénão.
- Salvadora.
- Como? Salvadora!
- Vivemos assim, tão sem desejos e paixões, com menos que a morte permite, e o que por fim fazemos é atabalhoada e romanticamente perseguir sua abolição.
- Que você quer dizer com romântico? Pergunta Zénão.
- Tudo que culmina com ela.

terça-feira, dezembro 12, 2006

28. Rio enchido.

- E ai Belmiro? Pergunta Zénão com ouvidos moucos ao prantear, no que Belmiro se lança na narrativa do visto na rua Maneco Rosa.
- As águas do ribeirão das Cabras estão quase na altura da ponte e numa velocidade de dar medo. Noticía Belmiro.
- Então é isso! Luis intrometido. Interrompe. Define. Essa água do ribeirão das Cabras é causadora desta exabundância do pacato Atibaia.
- Como Luis? Um riozinho entanca o Atibaia? Ignoram.
- Como? Já não cogitando o que não se cogita. Mas...Explico diz Luis.
- Então explique J.J. Belmiro fazendo graça. E sem explicar nada Luis levanta-se e vai a casinha.
E sabe o que aconteceu querido leitor? O ribeirão foi-se enchendo, ora lentamente, ora de borbotões turbilhonados, e o povo ia avançando por locais já não permitidos pelos bombeiros, chefes de ocasião, PMs, defesa civil ou puramente sensatos que todos por fim são. Alguém gritou que acabara de passar uma cadeira arrastada por um vagalhão que arrasou o bar do Zé do Cleto, e os objetos foram se nomeando e enumerando, de todos os tipos e razões de uso e desuso e por fim todos acabariam e acabaram por ter no leito do ribeirão sua campa ou boiando como as tábuas do cantor, quando ali todos achassem, e achavam, pensassem e pensavam, cogitassem e cogitavam, veio uma pororoca pelo ribeirão que os que viram a onda davam-lhe dois metros, metrimeio e que os que não viram foram por ai aumentando-a na nostalgia de não a terem visto, proporcionalmente à distância que estavam do fato.
Fato é que depois desta onda a pontinha ficou coberta pelas águas esguichando enfurecida como um gêiser e a ruazinha que nela dava, tornou-se um sonegador de águas com força de corredeiras, e uma parte desta água toda seguia com força em direção da ponte pênsil que cobre o Atibaia e que por ali um dia passaram as tropas constitucionalistas que vinham desilhar dos mineiros os sousenses de antão e agora e dela as águas caiam numa cortina escura sobre o estancado Atibaia que parou por ali e foi se enchendo, pois sabia de memória o seu caminho natural de descer sempre descer, mas desta vez encontrara o sanhudo ribeirão, hoje um pedreiro desconstrutor.
A devaricada batia na parede da casa em frente formando um imenso rebojo e ia com velocidade até a pastelaria onde equânime democrática formava um mangue e a calmaria do plenilúnio, com sua maré foi ilhando casas, pessoas, umas sós outras em cardumes. A velhinha da casa verde saíra de sua casa e tinha sua própria ilhazinha com quatro hastes de coqueiro em meio à turgidez da sizígia e tudo defronte a pizzaria Fidúcia. Ela estava infeliz e fazia sinais, e gritava um grito inaudível dado o som de cachoeira do defluente do ribeirão. Mas não dava para resgatá-la, a rua rio defluente arrastaria quem quer que fosse. Surgiu uma corda, e um policial que por hora não podia capturar essas águas fugidias há muito presas e escravizadas em represas e açudes particulares a melhorar paisagismos de condomínios lá pros lado e para além destes lados de Joaquim Egidio. Amarrou a corda no poste e jogou a outra ponta da corda para o pizzaiolo, também ele ilhado, que a amarrou no pilar da varanda da casa que por agora não tinha mais o endereço Maneco Rosa 21 com todessa água tinha condições geográficas de ilha, a ilha da casa avarandada.
Corda tencionada o policial meteu-se com técnica a atravessar o defluente, colocando-se à corda de tal forma que a correnteza do defluente não lhe puxasse e sim lhe empurrasse contra a corda tencionada. Cruzou a correnteza, sob aplausos da angustiada multidão e agora em águas calmas do pequeno mangue que ficava em frente da igrejinha de São Sebastião. Movia-se perscrutando o chão invisível lentamente arrastando os pés no submergido e desconhecido fundo que de memória também sabemos ali havia um banco de praça um hidrante uma roseira? Não!
Roseira não havia! Podia haver se houvesse vindo lá de onde toda essa água havia fugido com as marcas de quem começa fugir no começo da tarde e segue varando cercas rasgando roupas e peles rolando pelo chão quais escravos de uma outra época, pois os desta época não se sabem como tais com seus tíquetes qual feijoada e seus casebres senzalados, sempre a beira-rio, agora com o acréscimo de vantagem, inundáveis de lama fertilizadora.
A filha da senhora da ilha dos três coqueiros chegara de Campinas em prantos de quem perdera a casa, o cachorro, a mãe. - Perdi tudo! Tudo que tinha.- Tudo dito em prantos. Nascida e vivida para a tragédia aguada, rasteira e estúpida, que na televisão se lhe fez parecer assim ser, e agora a telespectadora à imagem e semelhança da sua atriz favorita. Tem medo. E há uma quase alegria trágica desta não divulgada opereta, mas continuava sua lamúria esperançosa de um subir o pano.- Deus! Meu Deus tenha pena de mim e me ajude -. Seguia a lengalenga sem se dar conta do de-fato. Mas os aplausos que a consolariam, vieram para o policial que agora tinha nos braços, como quisera o poeta, dona Ísola, salvada assim nupcialmente, sorrindo as lágrimas do medo, do desamparo.
-Ai minha mãezinha! Começa assim.
-Ai iai ai minha mãezinha. Seguia assim.
Tirania. E o polícia vencendo o mangue recente dessa tragédia propalada diariamente com a obrigatoriedade de uma cruz que muda de ombros que acabam por ser sempre os mesmos. Sem cunhar sabedoria. Nilo, Tigre e Eufrates.
Um dia aqueles açudes romperiam e romperam. Luis da Silva Neto, a cada passada por essa praça planeara um festival de teatro, a vocação do velho casarão com sua janela rapunzeica, o terraço balaústrico, seus tijolinhos veronenses. Dizia Luis o mesmo do coreto ali a beirinha do Atibaia, que lhe cortara o outro semicírculo dos outros todos coretos, e por uma razão escapou à lógica ao que este arquitetou. Impedindo-o de exercer sua vocação de ser essencial e talvez por isto permaneça lá isolado deste teatro comunal, onde o palco central fora à ilha dos três coqueiros.
Ísola e o polícia teriam agora de enfrentar a corda e o defluente do ribeirão para poder alcançar a terra firme da calçada do Correio e Telégrafos alvorotada de gentes, o louco agora sentado no espaldar do banco, batia com o graveto na água achocolatada, mercapta, à sua volta fazendo ondinhas. A corredeira exigia do policial que seus passos fossem cada vez mais curtos e que os seus pés cada vez menos subissem do chão, suas canelas em movimentos fortes sim, mas sim também inseguras eram duas quilhas de um único barco singrando a corredeira. Enfim a corda. Queria ajuda, e houve uma tentativa, um bêbado, bebera para além do medo para além dos portos seguros, mas não se precaveu e agarrou-se à corda do lado vazante e no segundo passo a força da correnteza tirou-lhe o pé do chão e ele flutuou agarrado com mãos inseguras, logo a corredeira arrastou para seus pés seu moletom, desvestindo-o, lavando-o, sentiu vergonha, nunca medo. Soltou uma das mãos para tentar puxá-lo e vestir-se, a operação durou pouco e ele nem conseguia por fim se vestir e segurar à corda, chupado pela correnteza, foi arrastado pela devaricada de costas como convém aos homens, bateu na parede da casa em frente passou pelo rebojo e continuou sendo arrastado até a pastelaria. Ali em águas calmas democráticas, sentado, descorçoado com águas até o pescoço vestiu-se assim. Levantou-se com um certo júbilo e cai estando meloso e ágil batia mãos e pernas tentando nadar, e nada, só fez em roubar a cena do Policial e de Isola.
-Ele vai morrer. Acudam este homem pelo amor de deus. Gritou em uníssono o povaréu.
- Braçadas e pernadas. O bêbado fez.
- Meu Deus. O povaréu.
- Levantou-se como quem tropeça. O bêbado
- Hahaha. O povaréu.
-Caiu de boca. O bêbado.
-Hahaha. O povaréu.
Levanta-se como quem faz flexões, já num lugar mais raso e a boca cuspindo lama, ou vomitando, nunca se saberá. E nisto já ia a meia corda uma heroína.
- Hum! Camiseta molhada. Murmura um grupo. Enquanto nossa heroína chega até aos protagonistas. Confabulam.
-Que tanto cochicham? Os curiosos do mesmo grupo.
Parece que o Policial não aceitou a ajuda oferecida, prevendo que lhe faltassem braços à travessia. Falou qualquer coisa com Ísola, passou da posição de tê-la nos braços, pré-nupcial, para algo mais desconfortável, primitivo, agarrada junto às ancas, no entanto mais segura, passou por baixo da corda, mantendo a técnica e com a outra mão segurou-se a corda, enquanto passava navegando um tamborete, que foi parar junto ao bêbado que espirituosamente nele sentou-se.
-Hahaha. A galera.
- Óóóóóó...Ó. quando falseou o passo o Policial. E tudo seguia perfeito no mais absoluto improviso, se algo sólito advém de telenovelas e Hollywood.
-Hahaha. Em derrisão alaria um filho de Deus.
No que o bêbado se sentava sobre banquinho e equilibrando-se cruzou as pernas ergueu os braços aceitando o riso e a chacota e algumas palmas numa fina estampa.
O Polícia chega a porto seguro com sua Ísola às ancas. Sob ehês, e clap clap.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

26. Re Introibo ad mesare um.

Devemos beber, falar, cantar e dançar, tudo e acima de tudo incessantemente e intensamente. Luis tem o copo de chope levantado, em ofertório.

- Essa é minha bandeira. Disse Luis, celebrando seu retorno a mesa um já bem ido na começão de água.

- Então Luis essa história, do beijo, você já havia me contado. Falta algo, quando você me contou aqui mesmo nessa mesa, foi mais crível, mais viva, havia mais suores, não que seja de todo ruim, tem até um certo estilo, não é plágio, não é uma impostura, mas enfim como você já me disse o seu desejo é escrever um livro, então que seja esse e assim. Estou errado?

- Não. Responde Luis secamente.

- E você o que você pensa?

- Estou tentando deixar a minha guerra de mesquinharias falando sozinha. E a vaidade também. Eu quero um critico. Gritou. Um não. Todos.

- Um dia há de vestir o fato da academia. Fala Zénão.

- Não tenho essa veleidade.

- Mas escrever um livro não deixa de ser uma. Ou um instrumento dela.

- Pardelhas! Agora a vaidade tem hermenêutica? Zombeteiro não entendido de palavras completamente.

- Claro.

- Vaidade custosa! Exclama Luis.

- Tudo é custoso. E por que você quer escrever um livro? Tem algo que não foi dito a humanidade, daquelas coisas dentro da gente que insistem em descalar?

- Nada disso não!

- Se você quer ganhar a vida, é um péssimo negócio. Seria para conseguir uma obra de arte? Um instrumento de transformar o objetivo em subjetivo ou no seu duplo, reinterpretando tudo da minúcia a essência? Pergunta Zénão.

- Sim meu amigo, ler o inconsciente coletivo do coletivo inconsciente para conhecer a mim mesmo. Saber das razões e suas determinações, das leis difíceis de fugir. Por exemplo, por que uma maçã cai? Por que está madura ou podre? Não! Cai só porque existe a gravidade, senão que ficaria madura ou podre lá no galho. E se não houvesse gravidade sequer existiriam macieiras ou arvores. Pode ser contraditório, mas o que faz com que caia pode ser o que faça crescer, a gravidade. A vida como ela é ou a invenção de uma vida tem sua engenharia. Luis lamuriento.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

25. Rezaiste

Belmiro pela porta do fundo do Deck trazia as noticias ainda quentes da enchente. Mercapta.
- Você viu Zénão o que está acontecendo?
Zenão não vira, pois estava discutindo o tal texto de Luis. Compenetradíssimo.
- Cadê J.J.? Perguntou Belmiro.
- Pare com isso Belmiro. Deixe me em paz.
- Luis Bebeu. Cantou. Está na 21 se engraçou com a mais Feia.
- Treta. Belmiro maquiavélico.
- Né não.
- É aquele negócio; conversa com a Feia simpática atira uns tijolos na mulher bonita que está sempre, pordeus, insegura.
- É por ai. Como você é xarope Belmiro.
- Li o Manual para melhor te xavecar[1]. Fala Belmiro.
Enquanto isso Luis toma do seu copo e se despede temporariamente das moças. Todos sorridentes. Passa pela 11 a mesa da discórdia, neste instante quarta-parte ocupada. Lá esta H. de Pádua fundador do separatismo sousense, tenho certeza se dito um Hijo de Puta, HdeP, ele fica fulo. A Europa se unindo e Sousas município? Evidente só ai poderemos cuidar melhor da APAs segundo um interesse sousense, não com um sub-prefeito pau-mandado dos Jequitibás. E lá vem chegando a base operária do Sousas Município Autônomo, SOUMAU. Jão Prodome chega.
- Fala dotor. Fala Jão.
- Falo, falo sim. Diz H. de Pádua e emenda: vou direto ao assunto.
- Pode falar doutor sem rodeios. Fala Jão.
- O cabeceira deixou quinhentos paus para repartir com o pessoal. Disse-me ainda: Dê mais a J. P., Ele gosta de você Jão. Ele disse, o Jão é o porta-voz, não ele disse, Jão é o munícipe, o povo em si, está nos bares bebe socialmente depois disse, dê um pouco para o jornalista como que se diz? J.C. Emedione outro tanto pro advogado GB Gabriel e falou assim olhando no meu olho, só volte a me procurar depois que for eleito, que vou então acabar com essa mixórdia e daqui a dois anos Sousas estará livre com eleições e você será o primeiro prefeito HijodP, olha que não gostei, mas que fazer? Era o homem ele mesmo sem recados disse ainda: comportas a montante, construir palácio dos Ingazeiros entre os dois rios, mesopotâmia Hdputa. Mas doutor Rezaistes talvez fosse melhor já fundar um principado então teríamos famílias principescas e principais. Não HdeP.. Doutor! Quase fiquei nervoso, ele sabe que não gosto, mas ele pode. Não esqueça as bases meu munícipe, as bases. Frisou. Os munícipes são a nossa força, depois mando tirar todo esse lixo de gente daqui com um chute nos rabicós de cada um. Sim senhor doutor Rezaistes. Eu disse. E ele disse ainda: entre na ação cidadã desse ano junto com o Jão P. faça camisetas enfeite os barquinhos recolhedores de petcolápias contrate modelos e vista-as com as camisetas, não coloque o meu nome que ainda não é a hora. Modelos? Será que chegam a virar mulheres, sempre só um modelo um protótipo não importa sempre sobra uma roçadinha aqui um bumbum distraído ali jantarzinho alegre lá no-como-se-diz? É práisso mesmo, de negócios, todo bonitinho, respeitoso, conheço o garçom e ele descola mesa do fundo, pés sob a mesa subindo canelas durinhas, penugens, calor subindo, mais um vinho, merecemos, foi um dia lindo, o povo na praça, as petcolápias amontoadas na Beira-Rio, fotos no Correio, na coluna social do XV, com sorte na do Correio, conheço o cara lá do Citibar, vinho branco Camilo Alves.
Jão Prodome bota as notas de cinqüenta na carteira, aperta a mão de H. de Pádua e escafede para o Central, que “lá que é o meu lugar”. Sai dizendo.
Luis na volta esbarra na estátua de Hermítio que lê Carta Capital que não se incomodaria ainda que o Bertolini passasse por aqui tocando o mini-trompete dentro da sua orelha.


[1]Manual de Xavecagem por Ecidão, com anotações de Nicola Machiavello.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

24. bah! histórias....hum..

HISTÓRIA DEVERAS INTERESSANTE DE COMO UM PRETENSO ESCRITOR DESOBRIGADO OBRIGOU-SE A EXPLICAR A PRETENSO CRÍTICO NÃO PASSÍVO LEITOR DA HISTÓRIA QUE AMBOS SABIAM ONDE NA QUAL NÃO PODIA HAVER COMEÇO NEM FIM NEM DEVERAS INTERESSANTE HISTÓRIA.


Zénão tem à mão ainda o maço de folhas envoltas num almaço impermeabilizado por uma fina camada de gordura onde se lê: O Beijo
- E este O Beijo?
- Este será o último capitulo do livro, por ser ele possível, não quererá acabar em desdobramentos, mas num beijo.
- Capitulo ou epílogo? Pergunta Zénão.
- Não importa serão as últimas páginas e por agora quero sua critica.
- E sua própria opinião?
- É sempre favorável às minhas crias.
- E onde entra esta poesia que li? Pergunta Zénão.
- Imaginei o personagem usando-a como instrumento de demonstração de sensibilidade, uma criança que empurra o copo cheio de leite só para vê-lo ele o leite derramar.
- Já têm nome esses personagens?
- Têm. Luis e Inês.
- Não era Laura?
- Não era Laura! Era?
- Não sei, acho que era!
- Você acha que ia por o nome dela?
- Não sei não, por que não?
- Acho que ela não ia gostar!
- Por que não?
- Você viu hoje?
- O que? Ela dançando com você?
- Então eu não esperava por aquilo! Ela tem atitudes que nem me surpreendem mais, dada a constância da inconstância.
- Mas se colocasse o nome dela isso ia mexer com você e permitir mais liga.
- Onde você viu isso?
- Vê os compositores, quando compõem para elas.
- Não é isso não Zenão, isso é pra acalmá-las.
- Deixa isso pra lá, como é o enredo então?
- É simples e ao mesmo tempo complexo.
- Como assim?
- Ela lhe dá papinha. Hahaha!
- E o que significa isso?
- Sabe Zénão, Luis não consegue transpor o círculo, parece que Virgilio o abandonou. E ela olhando desde dentro o vê invisivelmente familiar, mas não o permite descer, e nem não impede.
- Quer saber? Disse Zénão e continuou, Luis quer o perigo, mas o teme. Cobiça, mas odeia a dádiva. Acabará por ser vencido e não aceita. sabe que viver é uma luta continua e absurda e inapelavelmente fatal.
- Resulta em que, meu querido?
- Adaptar-se ao poder da fraqueza.

- Acho que sim Luis sabia que era mais fácil trepar com ela que a amar, como naquele dia que ela falou do tal Molyna e Luis já sabia e Luis jogador não quis umas cinco vezes fazer os caprichos dela e ela ardendo de desejo tanto que até seus olhos estavam brilhilubrificados e Luis dizia “eu te amo”. Quase a obrigava a dizer o mesmo por um pouco de sexo. Então Luis escarnecia dele mesmo para ela relaxar e então ela o deixava e saia atrás do Molyna, tudo porque Luis realmente a amava. O sexo em si é para Luis uma efeméride, e muitas vezes sustinha-se com putas e punhetas, e definitivamente queria com Laura sexo e amor.
- Isso é do mais refinado masoquismo! Diz Zénão.
- Como assim?
- Como? Negar sexo à mulher que insistentemente se ama! Que é isso senão masoquismo!
- Calma! No caso sádico também se ele só fazia seus próprios caprichos.
- Esse Luis estava era com muito medo, isso sim!
- Pode ser.
- Pode ser não, é, ele tinha era medo dela!
- Medo como?
- Medo! Medo do sexo com ela.
- Medo nada andava platônico cada qual com sua história que não incomodava o outro, nem ciúmes, nem desdém.
- Nossa você está louco, meu amigo, pensei que tinha se curado. Cadê o desejo?
- Às vezes o desejo...
- Quê que é isso?
- Não deixará contá-la nunca, quantas mudanças tanta interferência?
- Conte.
- Você não acha interessante se jogar tanto, a ponto de não restar outra coisa senão o jogo.
- Sim, mas não lerei.
Lere lerei lere lerei... Cantarola Luis. E segue - O texto exige de mim, ele arranca de mim o que eu não queria dizer à luz do consciente, imagina agora que eu que sou personagem escapulido do escritor e por ele esculpido, matreiramente a esguivar entre as bananeiras limitantes verdejantes que ele plantou para ser o meu jardim, dizer a ele que esse era o modo mais cruel e possível de viver uma paixão, mas eu queria que ao ler soubesse de si.

terça-feira, dezembro 05, 2006

23. De todas as águas a lama lava a alma.

- Aonde vai aquele povaréu pela Maneco Rosa? Jornalisticamente. Demanda o homem ferido na secção comum.
- Ô Belmiro! Vá se informar, que é do que mais precisamos. Pede e ordena Luis.
- Luis! Que é esse envelope junto com o jornal?
- Uns manuscritos que trouxe pra você dar uma olhadinha, são os trechos do livro, que morrerei a escrever, de que te falei.
- Olha! Fala Zénão abrindo o envelope amarelado tamanho A4 e donde saca um maço de folhas.




O silencio se instaura na mesa um, dada planura do assunto, e porque Luis já ia fazer um discurso que ele acha enfadonho, afinal quem te domina?
- Não sabia que você escrevia poesia! Fala Zénão. Referindo-se à primeira folha do maço já esmaecida e amassada, onde Luis mostrava uma vontade mallarmaica em letras tipo verdana, hora bold, hora em negrito e hora em itálico em diferentes corpos.
- Há muito mais que você não sabe de mim, mas na verdade é uma brincadeira preguiçosa. Dito também no mesmo jeito.
Enquanto Zénão ia lendo:




Anda, anda, anda a espera.
Espera.
Espera, espera, à espera anda.
Anda.




Anda e espera. Espera a andar.
A espera desanda.
O andar desespera.
Desesperando. Desespirando aindanda.
Transpiranda transpirando.
Pira parado.



A quantas andas?
Andava andrajos.
Andava trapos?



Trapaças.
Trespassas?


Eu nos trapos sei a sobras.


De sopas?
De sapos!
Assim soçobras, misses!
Sê sim. És Mis.
Assim na missa.
Sobras e cobras.
Miss em ação.
Andas às cobras.
Espera as sobras de sobejos beijos.



Rastejas a rés dos brejos.
Sem sombras no chão.
Salobras sobras às sombras.
O brejo sabe a uma feijoada de ontem.
Com sua película branca.



Uma aranha que perde o fio.
Que a prendia a teia.
Anda sobre um brejo de feijoada.

Anda aranha.
Me espera.

Zénão diz - Engraçado cara, podia ser as sombras sobras salobras, esperam mis em ação de sapos nas missas aranham a manhar uma película de teias de brejos que andam a espera de sapos e cobras. Mas tem algo, que não sei a que a espera anda a espera.
- Tem muito sim de sopa de letras jogadas do saco do arcebispo Tillotson, em defesa da deidade na criação do universo, como se não fosse um mero acaso, e se outros meros acasos de baixa energia e muito e talvez por isso um nada qualquer, preguiçosamente, lentamente em busca de menor esforço ainda, um meramente mero universo frente a outros possíveis quaisquer, sem nenhuma necessidade de agradecimentos e devoções.
- Hahaha
Ri também posto que bar é interagir. Mas parei por ai, voltei às anotações como um porquinho da índia metido com sua folha de capim-gordura que vai entrando pela sua boca, para sair na forma geométrica elíptica de uma pipoca doce na época Kino de Mazzaropi e do imensamente Grande Otelo sem mais nem talvez porque menos.

quinta-feira, novembro 30, 2006

22. Hermítio.

HERMITIO
Hermítio ocupa a mesa três. há, um jornal, meio editorial de uma carta capital e uma Itaipava aberta a tempos. Ainda vai pela metade, num balde de gelo. Seu copo com aureolas da espuma da cerveja bebida lentigradativamente segue entre folhas e revistas. É um que lê e que fracassa na sua sabedoria ou parece ainda ter muito por não compreender. Olha uma veja. i.e. numa época de saúde o que mais há é falta dela. Para ser sem vergonha, basta ser decente. Tudo mata, e as manchetes esquecem que a vida custa a morte. Esquecem que viver cansa e envelhece, já o envilecimento seria um tipo de oikos estúpido. O sr. não pensa assim sr. Hermítio? Com a mão no queixo, Hermítio coça com o indicador onde haveria de haver um bigode a pensar na resposta, Hermítio não diz, queria dizer... então diga sr. Hermítio sou todo ouvidos, muito embora a compreensão me falhe amiúde, mas isso é de somenos, Hermítio posso assim a si dirigir-me? Obrigado por quebrar este gelo, avancemos Hermítio avancemos, olha eu não consigo computar uma somatória de percentagens. Não tem importância, não creia que outros o consigam, pois se o fizessem seriam charlatões diante destes escaparates percentuais, cigarro mata de câncer, 67% dos fumantes moram em pequenos apartamentos cheios de fuligem dos automóveis, 43% dos fumantes que moram em apartamentos nas condições anteriores estão inadimplentes ou serasados, destes 67%, 97% sofrem de stress, 3% não puderam responder, pois 100% dos 3% dos 67% que não sofrem de stress, só não conseguiram hábeas corpus do campo santo. 90% dos 67% fumantes tem diabetes, São Paulo capital vende 1 milhão de pizzas por dia mesmo com a dieta do sangue, cada 50% dos 67% usam mais de um quilo de açúcar refinado por semana, os outros 50% não conseguiram entrar no programa de renda mínima do traído senador. 30% dos brasileiros morrem de cardiopatias vindas do tabagismo, 30% de cardiopatias vindas das gorduras hidrogenadas, 30 % outros morrem de triglicérides boas vindas de Jô pelas ondas eletromagnéticas, outros que não morreram não o fizeram por não ter onde cair morto, noves fora os 700 que morreram de morte matada ou plumbicorpus ou seja chumbo alojado em local letal. Se alguma morte fizer com que os mortos superem o número dos que se foram, será matéria de uma semana qualquer ociosa do editor ao ver a linda praia do Sahy ainda cheia de mortos vivos na fila de pastel de palmito da Benê. Outras fontes de mortes são traços nas pesquisas desta semana, já na semana seguinte as de hoje serão traços, aliás as pesquisas são feitas porque sobram verbas nos departamentos de pesquisas por falta de projetos e então se compram computadores e o Bill já manda o software com programas de estatísticas que pouco pedem para vomitar uma lista com este maravilhoso signo: %, que facilmente se imprime na forma pizza, torres, linha continua, etc... ao que vês há uma certa incongruência aritimética, sim esta dos dedos, patéticos dedos que a tudo se agarram. Como? Sim também creio na necessidade de informações, e análises, mas e o tal conheça a ti mesmo? Sim, mas quando ao sair de si para e pelo outro voltar a si... sim, sim Hermítio somos iguais, melhor dito semelhantes, concordo, sim há mesmo esta intersecção, desculpe em nenhum momento eu pensei em desembaralhar esta área hachureada, sim o que fazemos mor das vezes é aparta-la do non contido, sim tenho mais o que fazer, já que o sr. também, claro com tantas revistas a fazer, pudera nem bebe direito a cerveja e veja o gelo já derreteu no balde, eu sei que não é da minha conta, mas gelo com água em partes iguais chegam ao equilíbrio de temperatura na média, eu sei você não me perguntou, mas esta é uma informação pertinente, já que quer a cerveja gelada. Hermítio ainda não é o que se pode dizer um imbecil por própria conta, tem muito que ler.

quarta-feira, novembro 29, 2006

21. O bote de Caronte.

- É! Está dando para ver. O rio sobe. Luis louco por completar a frase do mineiro só é... Mas feliz por esquecê-la.
- Ah isso é só chuva não. É estouro de açude. Fala Zénão voltando da sentina tentando olhar o embaixo da barriga querendo ver se chacoalhou bem.
- Luis?
- Fala meu inquiridor.
- Você já ouviu falar em dedetização ecológica?
- Vi um papel colado ai no banheiro do Deck.
- Você não vai falar nada?
- Sempre vou, ( falando em voz baixa com a mão escondendo um dos cantos da boca, como se fora um segredo) nunca hei de me calar e deve de ser coisa tal como guerra cirúrgica. Ou então como em Espanha você pode comprar haxixe, mas não pode vender... Penso que o Zé Simão poderia explicar, ou então trate bem duma barata ou dum rato deixando-os bem fortes, então o rato vira ator e a barata a atar batalhas disseminando o terror aos outros da mesma espécie, e você só tem que matar os que ainda ratam ou baratam, sendo um ou dois indivíduos. Tratar o esgoto de suas casas ninguém trata. Saco. Deixe-me sentado no meu rabo. Tão cheios de razão como um bando de ruminantes com seus dimetil-sulfetos. Mugentes ou não. Resumindo é o mesmo que vestir preto para parecer mais magro.
Eu entendi isso como se a vida humana fosse por si só geradora de insetos, e assim por uma simples inferência concluo que só vamos acabar com os insetos se acabarmos com os humanos.
- É! Está cada vez mais bizarro esse mundão, nem os bois podem mais, mercaptan. Fala Zénão como se passasse o paieiro para o outro canto da boca antes da cusparada.
- É cumpadi. - Pegando o clima fala Luis - Pena que faz uma daquelas escarradeiras de louça que nunca vimos faltar. Formando cuspe na boca. Como a minha vida seria outra se tivesse escarrado numa escarradeira de louça azul e branca. Se menino adorava o penico de ágata embaixo da cama de José Itaca.
- Onde ele jogava a urina que a bexiga não continha contida no bacio? Pergunta Zénão.
- No quintal. Babaca!
- Na horta. Jacu!
- No pé de couve. Bocó!
- Misturava o mijo com fumo e punha no machucado, um verdadeiro azeite de Zúbia. Pereba!
-E saía correndo e jogando bola pulando cerca roubando frutas do pomar do Léo
Léo pomar do Léo...
... Laranja lima[1][U1]

Cantarola o menino que não quer crescer, tudo com uma atadura no peito do pé prendendo o fumo com urina, um cheiro fantástico de cogumelos secos e tomilho, uma trufa branca. Trufa é mistura de mijo e cogumelos chilenos secos, pensa o homem saudoso do menino.
- Penso que não é só a chuva a urina que enchem o rio não. Fosse só isso, subiria de mansinho, mas o rio está subindo aos supetões!
- Não é o rio que sobe, é um rio que cai no rio. Diz Zénão. O Poeta relembrado.
O bar foi se enchendo, agora está lotado, o álcool sendo consumido, os olhares se conhecendo, as vozes falando alto para os ouvidos dos olhares conhecidos ouvirem, risos aumentados, pois a seriedade espanta e tudo cresceu tanto que o Deck parece a barca de Caronte.
- Rumo a felicidade! Diz um marujo. No que encosta um grupo à beira do balcão, acotovelam-se com Alcides Benevides e Alceu.

-E tar né veio! Fala um olhando para as filhas do seu Pavão.
-É mesm. Excelente! Véi ói a muiérr!
-Dá pra perrde umas hora! Fala o um novamente.
-Tomá uma véi?
-De boa! Mas se pá, arrasto na barca quela cadelaça.
- Vam bora véi pagá uma nesse buteco não!
-E tar mesm, pro Tênis que o coroa tem conta lá!
-Dêmôrô , só se for agora!
-Vambora.
E foram-se.


[U1] Primeira composição músical de Ecidão.

terça-feira, novembro 28, 2006

20. Cachaça não é agua não.

A chuva segue caindo forte.
- O Atibaia está subindo ou é impressão minha?
- Também isso ai não é chuva, é tromba d’água. A água ficará maior que o rio. Responde Luis!
-Olha isso ai! Zénão espantado com o rio enchido. O rio subiu mais de metro. Chove amazonicamente como previsto. O Atibaia muito já encheu. É deslumbrante o volume d’água barrenta que desce. E mesmo um exímio remador subiria por essa água toda, dá mesmo gosto de ver, ainda que resulte numa mistura de medo e admiração, tamanha a força do rio. Parece uma escola de samba entrando na Sapucaí, ocupando todos os espaços, mas nem tudo é beleza, tem lixo. As sobras dos piqueniques que andavam subtraídas agora estão somadas. Quem terá bebido daquela garrafa de coca-cola de dois litros de plástico. Pareço o Luis tentando adivinhar de onde vêm os copos. Voltando a garrafa de pet cola que bóia com uma mensagem dentro onde o destinatário e o remetente é o mesmo. Eu! Você!
E uma gotinha simpática, transparente, destilada espatifa-se no untuoso águas-claras, foram-se os índios e os seus nomes às coisas permanecem ainda que tenham perdido, o sentido , a forma, a cor.
-E Laura que não volta! Diz Luis.
-É! E você sempre otimista.
-Que fazer?
-Descrê.
-Melhor é mudar de assunto.
-Mudado.
Luis não crê na pureza das intenções, acredita serem uma soma de sombras claras gerando uma mais escura.Como não fazemos filosofia, porque a filosofia descreve com palavras o que se pensa atrás do que se é ou se pensa ser, não os adornos ou fingimentos, fazemos letras e as musicamos onde a melodia e o ritmo completam a deficiência da letra expressadora do pensamento. Luis filosofa para seus rins, pâncreas e adjacências anais.
- Você está enganado penso que fizeram poesias. Diz Zénão.
- Quantos anagramas tênhêm...? Demanda Luis.
- No falo, No lofa, Fa lono, Lo fano, La fono e todas outras. Mas não é por ai!
- Olha o rio encheu mais. Refala Zénão.
- É capaz de chegar à terceira margem.
- Impressão tua! A terceira margem é para poucos.
- Um mineiro. Só é... diz Luis sem completar entrando no labirinto rio estufado rente profundo e insaído olhava não olhava de poder por mão não punha de tanto medo que não tinha de saber mesmo que nem era que descia ficado cheio ali à mão do rio não estendida sem querer levar de ficar ancorado ali nem me esquecia de tanta lembrança mais subia mais bulia comigo tirando margem pondo rio na deserta siliagem que plantei vida inteira pior que havia sem saber ele vive em si próprio quando entra igrejinha adentro pensando de fazer bondade até desanima de não ver a imbuia pensa os afogados fazem festa a ele ai se anima e enche mesmo sim e desborda.
- O álcool é que chega a terceira margem e chega e vaza. Diz Luiz em resposta a resposta de Zénão.
- E o álcool Luis?
- O álcool? Dou-me muito bem com. Ora domínios, ora dominado. Derruba-me, faz-me um bêbado que rasteja à sarjeta. Sempre uma relação discutível. Mas também tem o prazer da bebedeira, onde os contornos e arestas não são tão rígidos. Desobriga. Restando a brincadeira, a fantasia.
- Que fantasia? Se você só pensa na Laura?
- Não, esta é uma conseqüência da intertextualidade da fantasia, Laura é meu ponto de partida por sinal adorável, transformei-a numa jóia rara, dupla e maldosa.
- E a bebida em si?
- Sim o ritual, o copo de chope não é maravilhoso?
- Nem tanto!
- Então imagina uma pinga de salinas num copo pequeno cheio até a boca, ai você coloca uma palha de cana nesse líquido mergulhada sobrando uma parte para fora, então você faz uma oração assim. Óh granda filha da puta, granda patifa, marvada cana, que diante de mim volátil teimosa forma saliva na ponta e embaixo da língua que antes de ti beber já bebo e que neste infinito desejo qual reconheço minha impotência no resistir dou aos santos prego-lhe fogo na palha que você apagara com seu fogo a me incendiar. Que tal?
- Pode ser, há o fato de o padre erguer o cálice de vinho, tecer loas em latim, e bebe-o qual sangue de Jesus.
- Então por que não criar novos rituais, novos vícios, porque o tradicional, o antigo é bom? Se um dia remoto eram frescuras como bumbum de bebê?
- Quê! Olha o rio já subiu mais de metro. Zénão falando do rio enchido mais cheio.
Acho que Luis se irrita um tanto que não sei com a música. Penso que a música o impede de pensar livremente, não que creia em liberdade, ligando zonas de sentimentos até então abandonadas. E somado a isso um certo beatismo suspeito.
- Ah! a MPB!
- Esqueça a MPB, Luis, você não entende nada.
- Veja bem Zénão, o cara no fundo era pouco para ser filósofo, a gratuidade do talento inicial em nada avançou, senão que em direção de uma certa banalidade, excêntrica, que de partida fez corar seus reprimidos admiradores. Seja, ele não conseguiria sê-lo porque não consegue até hoje desvincular a produção do seu próprio daseim (gargalham), sua (dele) lavoura funciona como um bajulatório ensimesmado com o brilho da sua idéia, não sabia cantar, e nem tocar violão, mandioca cozida, Nescau e mais açúcar para a larica.
- Não, não e não! É mais que isso. Fala Zénão enfático e já de pé pronto pra ir a casinha.
- Eu sei. Esses caras já provaram para mim que cada um de nós tem a sua música, poesia, voz e toda infinidade de atividades que temos e as que ainda podemos inventar. Como não sabiam a canção praticada, não tinham a voz adequada e não sabiam tocar nenhum instrumento, inventaram o próprio modo de tocar, cantar e compor. Hoje já nos acostumamos com eles suas músicas e suas vozes. Disse Luis, querendo agradecer a Zénão.
- Redimido. Isto é criar. Deixe-me devolver este chope. Zénão sondando a bexiga.
- Isso mesmo Zénão, devemos reter o que nos pertence, o resto é do rio. Disse Luis, ouvindo uma música antiga cantada por W.C. que foi trilha sonora da puberdade num episódio digno de se contar, ainda mais que mexe tanto com Luis que o joga pescoço para trás arregala os olhos para o teto e vai girando lentamente a cabeça indo das gelosias passando pelo balcão chegando ao jambolãozeiro e ai deixando cair o queixo no colo. Saindo da somatória de probabilidades de um cérebro agindo só, tentando se livrar da música, de Alécio, de Alvinha, de Joana e do barro da terra roxa socado em meio aos dedos dos pés descalços em dias de não missa ou de subir em patíbulos a homenagear Tiradentes.
Enquanto isso no banheiro, Zénão espera alguém sair. Então (ele) esse alguém sai.
- Não existe nada melhor que uma bela duma mijada! Disse o que saiu.
- Ou eu não sei mijar ou você não sabe trepar! Disse Zénão.lembrando-se da piada do Chic’Oreia. No que o que saiu não achou graça. E Zénão dentro da casinha, lia um cartaz colado na porta, xiiiiiiiii, olha para o teto, xuaaaaaa, olha para ele, olha a espuma, bom também, olha, xuxiiii, mesmo bom, ble, blue, ploft, chacoalha. Junta as pernas separadas. Feche éclair...

terça-feira, novembro 21, 2006

19. A galinha do vizinho.

-Luis olhe quem chega! Diz o boquiaberta Zénão.
-Isabelle! Por júpiter, a única mulher com ISO bela, atrás e à frente. Fala Luis.
O que é preciso para ter o certificado ISO bela, vejo que tudo se vai vulgarizando consumindo como o praguento do mouro viu e previu. Animalizando. Quanto se faz para ir no sentido oposto mais se aproxima das leis naturais, no meu ponto de vista, onde o jeans entrar, se o jeans um número a mais.
-Que mais nobre consultor?
-Cós baixo, caminho que leva ao vale do monte Vênus onde o jeans anda atolado.
-Que mais, fala o salivante Zénão.
-Se mais! Seria para pura gula companheiro.
E cruza e descruza. E polpas a mostra dá para ver o calor. Se assim continuar esses dois bispam miragens.
- Está mordiscando. Zénão via através gelosias e seus ângulos cúmplices.
- Cruza descruza. O outro.
- Vou ter uma polução, acordado!
- Você falou a minha fala.
- Ela me deixa sem fala. Perdi o amigo. Fala Luis.
- Hahaha
- Hahaha.
Sim, risos vivificadores, não uma mera derrisão, dando leveza a toda imundice pensada sobre o que seria belo, se não fosse tão vulgar como um comichão anal coçado em publico.
Enquanto isso na mesa 6 um povo em dietas discutia as Dietas de um chino vedanto que encheria de ódio o odioso bigode nietzscheniano, mas a vida segue sem ele.
Ah! Ele é ótimo disse Ela. A Marli, lembra da Marli? Então já perdeu oito quilos.
O quê? Disse Ela-outra. Não! Você não acredita? Como? Sofrimento? Imagina! Pode tudo, ele me proibiu de comer, nabo, melancia, acelga, caqui, chuchu. E também me proibiu de beber: café e refrigerantes. Eu vou sentir falta de melancia e café.
Luis sentia os toucinhos migrando do glúteo vindo pela lateral do pernil desviando pela virilha e ao chegar na protuberante barriga a se miscigenarem com a panceta e seguem a subir em busca da terra prometida, o cérebro.
- Você viu, a Mércia fez com que me esquecesse Isabelle. Fala Luis.
- E por falar em Isabelle, onde ela foi? Pergunta Zénão.
- Esta lá com o Ente, diz Luiz meloso de zelo.
- A chuva está mesmo forte. Diz Zénão.
- Estou com vontade de dançar no meio da chuva.
- Como crianças na enxurrada. Fala Zénão.
- Pobre Laura de bice nessa chuva!
Toda molhada, literalmente! Diz Zénão.
-Não é para o teu bico. Diz Luiz.
-Nem para o seu, pelo jeito!
-Esqueça Laura, pordeus!
-Eu esqueço já você... Diz Zénão sem economizar reticências. E Luis entra dentro do copo de chope como uma mosca e começa a andar sobre o nobre creme e esse começa a pesar nos seus pés, então tira com pena e cuidado a mosquinha com a ponta do indicador e ela sai dentro de uma gota do creme, Luis a pousa sobre a mesa, seca suas asas com a pontinha do guardanapo, mas ela não voará, nunca mais. Então Luis olha para dentro e diz.
--Zénão! Acabei de fazer um campoema, quer ouvir?
-Manda velho!
-Se diz: Istência.
Istência de pedra
A pedra iste se eu isto.
Eu isto se você iste.
Você iste se eu e pedra istimos.
Pedra iste se eu você. Nós.
Eu você pedra. Sim.
Se você pedra eu!
Se eu pedra você!
Algo se pedra!
E eu você?
Ex...
- Nossa Luis que lindo! Gostei do Istência. Diz Zénão e completa e se terminasse co Resi...
Os olhos não obedecem à cerca amiga. Belmiro traindo o amigo, Belmigo estaca ao lado da mesa um e chega mesmo a agachar fingindo ter algo de pé–de-ouvido a dizer a Luis.
- Puxou a saia pros joelhos e encostou os joelhos. Diz Luis.
- Fim de festa, entrou água na barca.
- Culpa do riso e o Belmiro descarado. Diz Zénão.
- Não foi pelo descaramento, mas sim pela alegria, e logo agora que chegam ostras e bacalhau, falha o visual não casualmente.
- Tenho a dança como forma de celebração. Ainda Luis.
- Celebrar o quê?
- A zoina. A neve never aqui e dar calor for Eva.
-Hahaha.
-E a peta humana pra acabar. E de lambuja à fertilidade destas águas que vem preparar o espírito para as águas de março.

18. Parecer. ...parece. Mas não é.

- Que é que acha de um bacalhau Luis? Pergunta Zénão. Querendo que Luis desconsidere Belmiro que o chamou de J.J..
- Não precisa intermediar mais nada não, Zenão!
-E se fosse lá, pensa Luis, diria ao Belmigo - sua mulher está me mostrando a sua (dela) boceta. - E o Senhor não gosta?- Perguntar-me-ia ele, cínico. Melhor não ir.
- Então vamos de bacalhau Luis? Disse Zénão.
- Sim há a visão! Com bacalhau soma-se o cheiro! Um acepipe perfeito!
- O que seria um acepipe perfeito? Pergunta Zénão.
-Tirante o cheiro, o gosto, a textura, a insaciabilidade e iconoclastia! Não sei - poderíamos ter o acepipe comunista, o separatista, o aristocrático, o estético, o excêntrico, o do sonhos, o improvável, o impagável e o intragável. Cada qual com sua classe.
Mas o inexoravelmente perfeito, que a todos fosse possível cometer e que a todos agrada? Insiste Zénão.
-Uma mércia!
-Hahaha!
-Hahaha!
- Vai Mércia, isso mesmo! Diz Luis no que Mércia abria um pouco mais as pernas.
-Isso é uma profanação Luis! Diz Zénão.
-Acho não. Temos que compor a cena, só isso, tomar parte dela é o que nos cabe, forse altri narrem.
-E quem sacará juízo? Pergunta Zénão.
-Espere o pano baixar!
-Hahaha!
- E ostras?
-Que tem as ostras?
-Ostras e sexo!
-Sim tem virgindade em jogo, a luta para se abrir e saciar o insaciável e antes de tudo que dizer da textura?
- Sim. Nada a dizer senão que esperma.
- Hahaha! Ambos riram inebriados, Luis olhava por tudo, Zénão fazia discurso apotídico da visão como forma de obtenção de informações. Alguém algures dizia que Romário deveria ser convocado. Que a chuva refresca. Que os alemães não tem espontaneidade. Que Eça é melhor que Machado. O contrario. Que o juiz roubou. Que fulano faliu. Que recebeu um emeio que dizia que Borges não existe. Que a mulher mudou a vida do Caetano. Alcides Benevides ao ouvir a palavra Romário, diz para Alceu: não é que o Romário não treine, aquela corridinha dele de passinhos curtos escorregando a ponta dos pés na grama é que dá a ele aquela arrancada fabulosa em pouco espaço. Cides! Interpela Alceu. Menos, menos, o cara é profi, tem que treinar sim. E o Chico’oreia imitando o Lula. Que o rio está enchendo...
-Espetáculo de arte vária. Vejo a ensancha da saia. Mas o marisco mais que ostra se assemelha. Disse Luis sentindo uma fogueira ascender.
- Calcinha... Murmura Zénão.
- Ver, cheirar, tatear e degustar! Mércia, Ostras e bacalhau! Fala o iconoclasta.
- Toda indigestão é má, mas a de ostra é péssima. Fala Zénão, e no caso o que vem a ser indigestão?
- Paixão não correspondida?. refala Zénão.
- O visual é grátis e as ostras são vivas e de Cananéia. Fala Belmirador publicitando porções do Deck, para ver se aumenta a féria.
- Vivas sem nunca terem saído de casa? Uma vida sem aventuras, onde morada, fortaleza e território é o mesmo sitio onde não há nós outros?
Enquanto isso a mini-saia de Mércia virava uma micro-saia, e ela pousava os pés no descanso da mesa que ficava a um palmo do chão e levemente abria e fechava suas pernas torneadas ainda que não fossem, mas eram e se podia ver do sapato a calcinha e antes dessa o começo da vaga.
- Se estivesse só. Não faria isso. Fala Zénão.
- O asno além de cruzar o rio ainda protege da investida d’algum Escobar incauto. Se todos não fossemos.
- Fossemos qual?
- Ambos. O um quando cobiçamos, o outro quando as temos. Mas de certeza faria mais gozo a ele se estivesse aqui, e visse o que sentimos. Sentindo o que vemos.

17.Carta do leitor.

Na nove, mesa de plástico branco, quase na saída entrada do bar que beira o rio e a rua, sentou-se Ledório, ele lê a Folha pensando o jornal como posto mais avançado da intelectualidade paulista. Como homem que se pretende inteligente, se obriga a retrucar diariamente a critica dos críticos aos críticos fazeres de nossa representação democrática. - Falácia! - Diz Ledório. -Falaciosa democracia sentada em minhas costas -. –Falácia -. Meu voto, meu poder despojado obrigatoriamente –. Rumina Ledório. Ouvi dizer que ele carrega um medo único. Parece coisa ridícula, uma bobagem sem pé nem cabeça. Você pode achar risível e banal essa história. Foi por isso que resolvi passar a limpo. Os freqüentadores do bar Central e do Esquinão o chamam de Cérbro. Uns no bar Central quando querem falar “direito” dizem: Celebro. De todos ouvi - é muito inteligente - fala línguas, estudou na Unicamp, mas por culpa do tal medo, abandonou tudo e toca aquela loja de rações. Tentou trabalhar no açougue do Facina, mas não se deu bem. Às vezes nos jornais lidos e relidos por ele nos quais embrulhava as carnes, aparecia um quadrinho que de longe via se tratar de uma enquête. Com medo de em uma dessas horas o olhar fugir de um lugar e se fixar perigosamente em outro, e ter que responder ainda que mentalmente a tal pergunta, deixou o açougue. Lê os jornais e muito embora eles tenham se banalizado, mantêm cadernos onde Ledório se encontra seguro. Mas a cada reforma editorial, acode aos cadernos com muita precaução. Demora muito tempo a voltar a velha confiança. Mesmo em cadernos de economia, política, de noticias internacionais onde os assuntos são selecionados. Não se encontra seguro. Sabe que ocorre às vezes de ultima hora uma nota que deveria estar lá no tal lugar e não está, pois o tal caderno deve ter sido fechado antes dos outros, que sempre ficam esperando mais uma fala chula do ministro. Está sempre atrás de soluções para o seu tormento. Quis cobrar do nobre deputado, nosso vizinho, uma micro mudança ortográfica. Onde se obrigasse à utilização do “?” invertido antes do começo da pergunta. Ademais como já o fazem nossos vizinhos do Mercosul. Por fim não teve coragem, e por isso aumentou a precaução ainda mais. Em anos de sufrágio, quando proliferam as pesquisas de opinião, ele sempre muda de calçada e atarantado balança a cabeça para lá e para cá, e vai resmungando “não! Não! Estou sem tempo agora, me desculpe, se faz o favor”. Diz. No estádio, muda de lugar quando aquela luz o ilumina, não fica para ver o microfone querendo entrar em sua boca para desentupi-lo. Nem de brincadeira, nas ante-salas de qualquer consultório, folheia revistas velhas. Fica nervoso ao abrir a página de seu provedor da internet, fixa os olhos nos “x” fechadores de janela, mantém a setinha do rato sempre a postos para clicar mais rápido que o Clint sacava seus colts. Ao ver a palavra “responda” num piscar de olhos clica. Via de regra vai direto ao seu correio eletrônico. Na lixeira nunca esteve, deixa que o provedor resolva por esvaziar. Remove qualquer coisa minimante desconhecida, sem abrir. Abre somente o que tem absoluta certeza. Vive do medo que lhe perguntem o que acha ou pensa da Rita Lee.
No mais Ledório é um resignado, no seu não fazer, o seu fazer tem pouco valor de troca reduzido diante do por consumir que lhe impacta. – Falácia -. Diz econtinua. Eles me viciam, suas analises pontuais, cercadas de arame farpado para que não escapem do cercado da ordem sequer olhem pelo buraco da cerca. – Falácia -.Diz ele e continua: sou consumidor inveterado de falácias, com seus miligramas de incoerência e outro tanto de verdades parciais. Diz mais: é melhor ler o Cony que anda lentigraxo equilibrando-se na cerca. Sim hoje é o Cony. Diariamente Ledório elege um articulista ou cronista para malhar no painel do leitor onde nunca nada seu foi publicado, mas Ledório não desiste, envia via eletrônicos meios e imprime uma cópia que a esta altura do dia está colada num poste, sonha em ver no painel seu nome impresso. - Hoje está fraca esta folha só me resta mesmo o Cony - diz de si para consigo. Não Cony não. – arrepia-se - parece uma azeitona Azapa com sua carnosidade escura aparentemente espetável, mas quando com o palito tenta espetar só consegue mesmo tangenciar e a Azapa desliza para o lado e sobe na beirada do prato raso, quase foge, mas derrapa na rampa e volve, como uma criança no escorrega, ao centro do prato. Há que se espetar bem no meio da parte mais alta do cós, não no umbigo que fica no pólo. Pensa Ledório e ademais são dois umbigos, melhor dito, olho e umbigo que não se vêem, se fosse o caso diria ao olho, olho você é ônfalo, umbigo fique de olho, não ia adiantar é o caso de ser certeiro, mas acabará por ser num golpe de azar. Ledório não precisa ler, é um idiota quase autodidata, não fosse o curso de letras no IEL. Enquanto isso na mesa um o mesmo continua igual.

sexta-feira, novembro 10, 2006

16. Retrato do artista quando bêbado e uma mércia ulula

Luis sabe se entreter e quer se entreter na ante-sala da guerra que haverá de travar, ainda que os jogos lhe saiam um tanto espasmódicos. E lá vai ele.
Chá nixda. Da chope. Por fim diz, e o mestre?
-Você acha que ela o traiu? Pergunta Zénão.
-Penso que não.
-Mas por que Capitu não retorna?
-Porque seu filho era o filho de um fantasma, antes foi traída. A mãe através do pai e o filho inocente através da mãe.
-Quero ver o desfecho disso, continue- disse Zénão descrendo.
- Capitu não partiu e se não houve partida não poderia haver retorno, por isso ela não volta, no mais a má acha do Bento, sua indecisão incubada e sua covardia a decapitaram.
-Sim! E Escobar? Disse Zénão e descreu só com um sorriso de lábios fechados, um escárnio carinhoso.
-Asco bar. Puro asco. Escobar. Escrabo. Escravo. Implantado por Bento a seu serviço e você tem ai o Bento traindo-se, traindo o fantasma e Capitu. E veja que Capitu pode vir de kaptum.
- Como nunca pensei nisso? Perquire-se Zénão.
- Bento a traiu ainda mais. Continua Luis. Como réu, testemunha e juiz dele mesmo, inexpugnável diante da imensa força de sua fragilidade em manter um segredo de infância, jurado no quintal da casa de Capitu e no seminário. Sua homossexualidade.
- Milk shake! Brinca Zénão
- Pois é! Não ter ele o filho, mas ser ele o pai do filho de um fantasma, já que o espectro do escravo rondava. Que diferença faz Suíça ou Dinamarca ou algures podre como, mas ele o pai do filho de um espectro não soube a si interpretar, desconhecedor do papel, já que um não era filho do que não era pai. O pai, o filho do espectro e se espectro for espírito e o espectro em si, isso se assemelha a Santíssima Trindade cujos membros não se sabem.
- É iss’aí!
Feia neste momento parecendo ser a bailarina egípcia ou Shiva, quer esconder o cigarro a meio dos dedos indicador pai-de-todos, cabeça para cima e a boca chaminé soltando a fumaça restante na pleurifornalha, aperta a guimba torcendo-a até a morte no cinzeiro, finge a Luis um olhar pasmado.
Um casal senta-se na doze. Ela de mini-saia, ambos de óculos escuros. Ela ciosa dos olhares espreme por trás a saia contra as pernas. Senta-se.
- Vá lá Luis. Referindo a Feia. Diz Zénão.
Feia acende outro cigarro. Mão para trás e ao alto repetindo o desenho religioso egípcio, hindu, Shiva, sopra para cima. O incômodo incomodado, esquece que o melhor do fumo são nuvens saindo da boca dando ao fumante dimensões demiúrgicas, não a urgência do desaparecimento da culpa.
-Você brincava de falar só com frases de canções? Pergunta Luis.
Como eu já disse, espasmos. A da mini-saia abana o fumo, que sempre vai no sentido da intolerância.
- Claro. Zénão responde. Cada palavra que você disser canto uma canção. Somou.
- Um amigo meu brasileiro lá em Berlin...
- Que tem Berlim?
- Um cara que falava inglês só com frases dos bitous.
- Hahaha! Só com frases das musicas?
- É.
- Hummmm! Cruzou. Diz Luis.
- Eu vi. Pelas gelosias.
- A Feia vem aqui, já que você não chega!
- Vem nada. Ela vai é tirar no toalete a salsinha do dente, e quando tangenciar estes secantes, vai forçar o fim do espinhaço para trás os peitos para frente jogar as madeixas do seu cabelo duro para um dos lados com um movimento de cabeça e revoltá-los com uma das mãos para o lado que estavam enquanto com a outra aperta a puxar a ponta do nariz tudo sem esticá-lo olhar para o caixa Antoine que é o único ponto seguro nestas margens do Atibaia, um espelho jacteado, e dobrará a direita quando veremos amoldados seus atributos posteriores dentro do jeans, que nós por uma obrigação secular julgaremos e com as pilherias esqueceremos de desfrutar o deleite dessa maravilha duplicada, vaga.

- Bunda baixa funda racha. Diz Luis.
- O é tem detalhes? Pergunta Zénão.
- Tem se o É também é objeto?
- E o é tem detalhes. Pardelhas! Insiste Zénão.
-Tem e os detalhes são puramente estéticos ou utilitários e ai são puramente utilitários. E Luis leva a mão à orelha sob os cabelos e franze a testa arqueando as celhas.
Neste momento chegou Edmilson com mais quatro amigos e sua mulher, seis. O serviço emenda a treze com a vinte três. Nutos e donaires para os do Choro. Ah! Este é seu Ademar. Edmilson! Prazer! Prazer! Minha esposa! Prazer! Prazer! Aluno! Edmilson! Prazer! Prazer! Amigos! Ademar! Prazer! Prazer! Podem ficar a vontade. Est Deus in nobis.
- Que você tem na orelha que tanto cutuca e puxa e quer ver? Vá olhar no espelho. Flagra Zénão.
- Ainda não sei, mas acho que minha orelha afinou a parte de cima. Diz Luis.
- Deixe-me ver.
- Não.
- Você está louco! Luis se levanta e vai até o espelho pega a orelha e puxa tentando vê-la diretamente, não crendo no espelho. Volta creditando tudo a seu estado inicial de temulência.
-Você procurando utilitarismos nos defeitos? Ó Luis!
-Prefiro, Ó... deixa pra lá! Ainda encanado com orelhas pontiagudas. Já não me faltam um rabo e uns cascos. Pensa o cinosuro.
O serviço anda atarefado emendando mesas. Chega senhor Pavão com suas mulheres. Chi! O genro futuro sempre presente, também com uma morena dessas, coitado do Euclides, não chegou a presenciar o que é miscigenação. Pavão sem duvida é, em havendo, um homem feliz.
A moça da doze destrançou as coxas. Zénão olha pelas gelosias espelhadas refletindo o bar que é a imagem da vida.
Luis. Frontal.
- Vi. Disse. – a mércia abria lentamente as pernas – e ainda mais vejo.
- Vamos comer um algo Luis? Que isso aqui está ficando animado.
- Chame o cardápio. Diz Luis no que o serviço passa com a bandeja cravejada de caipirinhas de lima da pérsia.
- Belmiro que tem ai nessa ucharia?
- Olha o cardápio, é pra isso que existe! Belmiro grosso qual moerão de canto de cerca, jogando o cardápio sobre a mesa com a mão que não palmilhava bandeja.
- Demorou, comédia! Fala Luis na crista da onda da gíria. Insiste Luis. Comédia. Você que tudo sabe, sabe o nome da de mini-saia?
- Sei. É Mércia J.J. Responde Belmiro voltando da entrega de caipirinhas ao seu Pavão. E o cara é meu amigo, continua Belmiro.
- Isso lhe subtrai valor. Diz Luis querendo arrumar tretas com Belmiro no jogo de pequenas agressões, mas Belmiro não capta.

15.Balcão.

Balcão.



Enquanto isso no balcão Alceu e Alcides Benevides trocam impressões sobre...
- E aquela mulher Cides?
- Como você é curioso Alceu!
- É. Ela parece ser gente fina!
- Finíssima, elegantíssima íssima!
- Vocês ficaram juntos?
- Tá bom Alceu pela milésima vez te conto.
- Não estou forçando a barra, mas folgo ao ouvir essa historia...
- Tudo bem. Veja bem Alceu, por todas as qualidades dela e o cara impressionante que sou,( risos) nossos encontros, olhares, esgares, beijos e a não formalização de um namoro acabaram por despertar um interesse imenso nos outros a respeito da historia e para somar ia numa crescente mania pela narrativa, pus-me a narrar, para audiências várias e muito interessadas. Chegou um momento que eu e ela não conseguíamos mais produzir tantos novos capítulos que ia eu feito um Benedito Rui Barbosa entremeando, primeiro fatos que facilmente eu fazia acontecer, as vezes nem queria sair com ela,mas a historia era um “bebebe” a céu aberto e já me queriam ver com ela para ver nosso silêncio, embotados um no outro, depois pequenas invenções possíveis... não posso negar que nos usamos todo o tempo. Como se usa um papel higiênico. Só que por uma qualquer circunstancia esse papel higiênico era nada mais nada enos que umas folhas de papel bíblia arrancadas das obras completas de Carlos Drumond, lidas com paixão e desespero antes de enfiá-las literalmente no cu.
- É foda né Cides!
- Põe foda nisso Alceu!
Balançaram as ambas cabeças e brindaram.
- Saúde! Ambos disseram.

quinta-feira, novembro 09, 2006

14. Edite bibite.

Eu lá com ela naquele como se diz bar do Cleso. Um verão meloso, grudento! Estava especialmente espirituoso, junto com amigos e Laura. A moldura foi se quebrando no que os amigos foram um a um se retirando, e nós mantivemos o mesmo ritmo de euforia quando grupo estava presente, demoramos um pouco a nos dar conta da solidão de cada um em um no universo expandido a que éramos um alguém a beira de uma estrada de terra ao norte das veredas Gerais que um alguém vê e ouve uma caravana ao longe, à medida que avança o bando o vozerio aumenta até que esteja a sua frente e então diminui no que se afasta até o último latido dos cães. O silêncio pesando. Rulque o garçom guardou mesas e cadeiras. Disse boa noite! Boa noite! Éramos sós e sérios. Seriedade que se consegue depois do riso. Eu ardia da minha fogueira de lenhas juvenis, mordia com os dentes de cima o lábio inferior, vulgar, espesso demais, e a minha frente a vida para uso compartilhado quase minha. Laura parada. Olho e olho parados. Escolho um cravo dos do seu nariz, a mão no queixo. E o camundongo imóvel. A gata com patas fofinhas, as garras recolhidas. Afaga a presa. Eu, quanto mais árido e se ácido melhor, não fujo. Algo se posterga, a febre não arrefece. A pata-de-vaca estrala uma vagem. Passa um carro. Os pés quentes. Laura ocupa-se da cabeleira. Colhe-a toda. Uma melena caiu pelo rosto até a boca. Laura prende os cabelos faz uma calda segura pelo indicador e polegar. A outra mão sujeita o maço, enrola um arranjo. Faz falta uma Bic. Não. A Bic resolveria. Balança a cabeça desfaz-se o coque. Volta ao rabo de cavalo. Que também se desfaz. Cabelos soltos como labaredas de um fogo interior. Emoldurando. Encaixilhando. O que? Eu só tinha olhos para a sua boca. À sua boca a outra boca. Logo tinha olhos para os olhos (dela). E os olhos vendo o invisível. Eu reduzido a olhos familiares eu olhos meus ia da boca para os olhos dela e dos olhos para a boca, pulava o nariz, falhava o buço. A boca de Laura perto de abrir mostrava os dentes e os de cima não tocavam os de baixo, lábios levemente carnudos entreabertos, o rosa da gengiva a língua rosa, o rosa dos lábios, os carnosos lábios em si. Fatia de romã. Carmesim. Carnirosada. E meus lábios grossos entreabertos. A língua caída, pousada atrás da muralha de marfins no sumo dela mesma.
A espera anda à espreita. Meu corpo todo, um infinitésimo. Átomo entorpecido. Peão quatro do rei contra peão quatro da dama. Eu de pretas. Vulnerável humanidade. Inútil lutar. Algo movendo em jorros quânticos. Meus braços caídos e na longínqua extremidade as mãos imensamente pequenas. Cuidado não vá deitar abaixo o leite da gata menino! Evoquei toda sensibilidade queria vê-la transbordar, tremo por não saber qual será a última tampinha no copo d'água que o fará transbordar.
A namorada, a cabeleira, o marfim, a carnirosada, o hálito quente úmido que meu nariz, meus lábios iam interpretando ali a vida através da avidez dela avizinhada. Meus pês-orbitais braços, saindo do mundo atômico abaixo de meu queixo, levam primeiro a mão ao rosto quente de Laura que prende dengosamente a mesma mão contra seu ombro, a outra mão com a uma emolduraram o rosto dela. A minha uma mão desliza para trás da orelha e vai a nuca em meio a cabelos colados na pele que o indicador e o médio entesouram e descem pelos fios longos até as pontas onde a mão se abre e sobe em concha enchendo e vertendo cabelos e assim cheia chega de volta à nuca. Olhos umedecidos olham olhos chamejantes e nada vêem senão que, desvendam relutâncias fragilizadas na ausência de palavras diante do desejo, sobre pernas remotas que me prendiam a terra com desconfiança em Newton e vacilam diante da gravidade do abismo. A uma mão permanece secular segurando cabelos incontíveis e a outra mais divertida enlaça dedos. Distância abissal de dois narizes. O ar que ela expira já saiu de mim e de volta expiro, uma perna dobra o joelho o bastante para tirar o calcanhar do chão e ela treme como vara verde. A uma mão ainda segura cabelos e o seu polegar alcança o lóbulo. Brió. A outra mão com a mão dela brincam de espelho, sobem descem. Meu pé alçou vôo rumo à escarpa e meu joelho encontra o joelho dela entre peles os panos. Minha mão que brincava com a mão que agora pousou no meu ombro está na cintura dela. Os seios dela por agora são sonho nuvens do futuro. O olho no olho e joelho desliza joelho. Encoxam. O forno aceso a lenha seca os ventres se tocam. O centro de massa começa seu governo. Os narizes desviam-se. Os lábios se tocam. Edite bibite.

Luis sabe que isso levado adiante será capaz de o matar, e que foi longe demais, deveria saltar antes, pisar nos freios agora? Ser alcançado pelo véu de poeira que lhe cobriria o fracasso, tudo parece improvável, “como o amor pode fracassar”, mas como enfrentar o pesadelo de um bebê chorando que Luis vai ninar para que volte a dormir, e o bebê ri com dentes de Laura e diz com voz de Laura, “eu não te quero” fria e doce. Qual uma linda frase em alemão e no final um Nichts. E depois? Depois não podendo comer a própria memória Luis pensa nuns biscoitos com chá no que Capitu vem puxando um barbante com bandeirolas e numa delas os olhos de Laura são mais dissimulados que os da penitente, mas Laura é só um prefácio de um livro inacabado porque ela sumiu e Luis é um personagem que quer fugir do próprio manuscrito e resta-se suspenso a mercê de um escritor negligente que o abandona na mesa um à própria sorte.

quarta-feira, novembro 08, 2006

13. Sancho,

Eis que Zénão se anuncia. Zénão mete a colher de pau bem no meio do púcaro a cozinhar o fubá. Um plóc será fatalmente queimado pelo angu. Zénão é todo-dedos.
- Está derretendo toucinho? Pergunta Zénão. Achegando-se.
- Trouxeram outro ator? Pergunta Luis.
- Temos que dialogar. Não pensa assim?
- Não. Estou flertando, o passado, o futuro sem/com Laura, a Elena da 21 que o demônio acordou para mim. Responde Luis.
- Interessante! Fala Zénão. Que fazer? Você já pensou em Menelaura?
- Clementinamente expele Luis: Nem as deusas suportam a metafísica do tempo.
- Eu sou o hipócrita. Subentende-se.
- É pessoa e ela é Feia. Mascando as palavras com molho choposo.
- É Feia, fala o outro. Que atrai? Completa.
- A possibilidade, o efêmero. Diz Luis.
- Mais um chope pra me esconder debaixo desta tua saia... cantifala o um e repara que a chuva começa a cair, pingos gordos suicidas que se espatifam no rio levantando cogumelinhos de reclamos fazendo ondas concêntricas destruídas por outros pingos da mesma forma gordos.
- Cusparadas divinas. Fala um.
- Quem o entenderia. Fala outro.
- Um meia-pressão Belmiro, você não dá conta? Fala! Que pego direto ao balcão. Fala Luis ao que Belmiro flanava entre as mesas palmeando seu inox com esponja antideslizante absorvente.
- Sem pression Jotajota. Belmiro hablando.
- Sin. Y Cuidao. Retruca o andaluz raivoso.
Segundo intervalo dos chorões. O volume das vozes diminui, as pessoas se olham por todos os meios, inclusive o de não se olhar. O serviço anda mais atarefado, pois a sede aumenta, com o aumento de calor causado pelo começo da chuva de verão.
- O que será que será o que será que será da canção? Pergunta Luis.
- Desejo! Fala Zénão.
- Meu desejo!
- O que você tanto mexe Luis?
- Acho que são pelos que sobraram do corte de cabelo. Acho não, penso que são.
- Que tem a sua obsessão? Pergunta Zénão, modulando a voz querendo tirar peso da palavra ao cutucar o ferido.
- Não sei... mas... Sem mas! Reforça. Não sei mesmo, e o pior é mesmo que não sei.
Luis sabe, claro que sabe, só diz isso que ele disse quem realmente sabe que se fosse J.J. lhe poria poesias na boca, ao contrário deixarei que sinta por si só sua força agindo contra ele mesmo nessa preguiça que se encontra.
- Só o Chico para escrever janela sem gelosias e ficar bonito. Fala o mirador de gelosias.
Conversa de bar é de contínuo assim, aquilo lembra outra coisa que liga noutra como em sonho e isso explica porque Zénão foi falando que o Chico consegue palavras que ninguém coloca com tanta naturalidade e beleza.
- Você insiste neste paralelepípedo.
- Mas, não é?
- A poesia é da família. Espeta o compulsório.
- Você nunca leu o Sergio. Conversa recorrente. Fala Zénão riscando o sabre no cimento queimado do Deck.
- Li. – diz Luis – e segue dizendo - tece a história do ponto de vista dos heróis, faz a nossa história parecer um conto de fadas.- Blefa.
- Você comprou isso da esquerda stalinista fossilizada surreal. O problema é que ele não especulou como essa mesma esquerda.
- Que mané esquerda! Problema é que a direita, acaba por crer nessas especulações que ela lê da esquerda.
- Por isso leio tudo. Querendo fazer a segunda e louco para colar o setecopas na testa.
- Então me ensina como se faz um suave barbear?
- Pincel úmido dormente em substância conseguida da mistura de gordura com soda cáustica, igualmente adormecida, e dá cá meus três tentos. Fala Zénão e continua. Agora me diga o que tem a ver Florisbarba da baba do sabonete com o Sergio Buarque?
- Talvez o Chico esteja para o Sergio assim como o Paula corno manso que anda um romance inteiro com um sabonete no bolso da calca para o grego arcaico. Fraco não é? Disse Luis. Vale um milho?
- Hahaha!
- Hahaha! Luis ria com gosto e entra com gozo no labirinto Laura... e dou-lhe voz.

terça-feira, novembro 07, 2006

12.Dulcineia.

O galo canta nas bordas do universo. Laura chega ao Deck. Luis ainda não a viu. Quando Luis vê Laura, é o mesmo que um sonho duplo, é justapor imagem e objeto, estando acordado. Um sonho materializado, que se não resultasse perfeito seria um realismo dispensável. E para ser tanto! O que tem Laura? Além de um nariz pessoal, lábios um tanto carnudos, dentes brancos e grandes e lá dentro da boca um tom de vermelho rósea de vitela, um tanto para o inverossímil e o cabelo acastanhado claro, que quando presos nos dias de verão. Por sorte são tantos os dias de verão, ainda que julguemos insuficientes. Os seus cabelos presos. Diz Luis e não se farta de repetir, caprichosamente desmelenados e as madeixas escapulidas do torcido amarrado grudadas a pele da nuca por algum suor cheirando a cashemere pour homme, tem Luis invariavelmente o desejo de morde-la toda, ainda que não esteja naquela meia hora de pele que todos um dia tivemos. Que mais? Sim Laura tem um certo humor dado a um tanto de perfídias, às vezes mente sem sinceridade, e é por isso irrepreensível. Luis decanta sua elegância, por ser muito pouco inclinada ao mal-dizer e a uma certa fuga caprichosa, como se caíssem os disjuntores da percepção, elegantemente intocável. Laura gasta energias sem paixão, pelo atlético próprio. Para Luis uma mulher perfeita deve ter inclusivamente defeitos, e ei-lo: Ela é prudentemente imprudente. É isso, um alvo efetivamente móvel num game infinito. Capaz de safar-se com calma dos imbróglios em que se mete. Luis a estuda pacientemente à caça do golpe que fosse fatal ou antes fosse uma saída. Ausfahrt. Qualquer saída duma Autobahn também qualquer. Pior de tudo é que Laura é um ideograma em Beijing, e Luis analfabeto em mandarim está perdido indo para Minas. E sabemos o resto. Então se esquece das pequenas audácias. Luis a quer toda, ela tem os olhos possuidores duma tristeza de expressão profunda, açodada, esquecida. Luis entrou e talvez se deparou com coisas terríveis e ficou com igual olhar. A ver se sai!
Laura consegue pegar Luis distraído ouvindo galos, olhando periscópio, velando e bebendo o Atibaia. Laura tapa-lhe os olhos.


...Tô no poço!
Quem te tira?
É meu amor!
Com o que?
Um beijo e um passeio.


Luis entra na brincadeira e perscruta, tateia, cheira, tentando em meio a um amontoado de informações desvendar quem lhe tapa os olhos. Pela cicatriz e seus dedos longos! É Laura. No entanto o perfume ainda que melhor que o velho conhecido da memória é outro. Quase se irrita com o próprio desesquecer. Relaxe diz de si para consigo, vamos brincar.
- Minha eterna namorada! Disse o cabra-cega.
- Não! Bobo. Sou namorada de ninguém não.
- Bobo não, babão e como tal sou ninguém e não, e você trocou de perfume, Laura?
-Sim, e não te agrada?
-Agrada, mas isso não se faz.
-O que não se faz? Você, o eternamente insatisfeito!
-Perfume é coisa séria, uma mulher como você realmente elegante deveria manter a fidelidade ao sempre mesmo perfume.
-De onde você tirou isso?
-É uma antiga regra francesa.
-Não estamos em França.
-E porque usa perfumes franceses?
-São os melhores.
-Respeite uma regra e há de respeitar todas.
-Diga-me Luis da Silva de onde tira tudo isso?
-É um erro do encadernador. Trata-se da historia de um negro com aparência de branco, um sedutor que matou a namorada branca, para vingar a morte do irmão negro, matado por brancos.Boris Vian me fez acreditar que ela não percebe que ele é negro.
-E você me matará?
-A seguir o enredo do plágio, teria que a creditar que sou negro, e antes teríamos que ser namorados e fazer muitas coisas saborosas antes da morte que é o prato principal, mas jamais te mataria, em pior hipótese você é meu refúgio.
-Por que isso agora?
-Não sou tão mal quanto pensa. Digamos assim um certo mal benigno.
-Diga-me Luis do Benigno-Mal, que coisas tão más, que boas e saborosas podemos fazer? Que não tenhamos feito.
-Dançar um choro, por exemplo, não danará a tua vida e no mais nunca dançamos. Se aceitar, dancemos!
- Sem afetação? Aceito.
Um selo e ao pé da mesa um dançaram suavemente, Rosa.
-Você ainda não aprendeu a dançar. Disse Laura.
-E quem te disse que há uma forma de dançar?
-Existe Luis. Cada atividade humana tem sua estética.
-A estética do que existe! Será imutável?
-Luis devo ir, você continua o mesmo e quer… deixa pra lá. Disse Laura.
-Você está sempre indo! E fico só com sua Má Lauria! E minha febre não arrefece.
-Luis isso já perdeu lá a sua graça! No mais marquei com amigos um passeio de baique pelas trilhas de Joaquim Egidio e eles estão me esperando, passei só pra falar um “oi” pro Wirto, você está no lucro. Maluisco! Eu volto. Falou com um riso plácido entremeado de possível escárnio e lança uma semente de esperança, tantas vezes semeada, e igual número vezes esturricadas na própria aridez.
- Você é a concha que carrego pra não ter que voltar. Disse o caracol com sua casa interior.
- Você é ótimo encenador, Luis, mas o que haverá depois do ardil?
- É Laura, ruim seja quem se toma ruim, veja que foi você quem me disse isso há tempos atrás. Disse Luis revolvendo páginas quixotescas.
- Esqueça, são páginas viradas, meu querido. Disse Laura.
Luis vê o passado rindo, dando adeus ao futuro, é uma perfídia roubar ao coitado os estoques de manutenção para que não vá adiante nem em sonhos, então ele luta.
Esquecer nunca! Toca é baralhar as cartas. Tenho mesmo que melhorar a abordagem, Luis ia dizer isso, mas não seria no bar em meio a tanta gente, que se poderia construir alguma coisa com Laura, haveria de ser em segredo quase casto, a dois quando se tenta embalar o sono, ou em qualquer lugar onde pudesse tira-la do mundo, ou onde este não fosse mais que uma possibilidade do pensamento. Aqui no bar com este alvorotar de olhares, onde ela goza com esta sensação e assim vestida informa aos interessados que está para o mundo, mas não disse, ao contrário, disse Luis.
- A menina virou frasista? Respondendo a ultima fala de Laura.
- Você vê? Disse Laura um tanto coquete.
Laura com seu short justo de ciclista, seus cabelos meticulosamente descompostos, uma visão inesperada de uma mulher elegante e por isso ainda mais sedutora, deu mais um sopro na chispa e retirou-se rumo ao estacionamento e Luis resta-se escangalhado. Remoendo perfídias em forma de maçã e peixinho-dourado. Escangalha o último choro dançado. Que se ainda fosse o ultimo tango, escangalharia. Refazer? Inútil pergunta. Mas por que me beijou? Será pena? Ou será uma boa e lenta e terna vendeta?

sexta-feira, novembro 03, 2006

11.O um de novo.

Um no entanto sim, sim voltemos ao um.
Tudo sempre agachado acerca de Luis. Luis não sabia o que era fome e sim comia quando algum almo aparecia, se houvesse fome seria uma fome ancestral. Inútil comer então, assim vamos comer, meu filho! Mostrando com o queixo os saquinhos da padaria União, como se fora um peixinho dourado. Significado ignorado por Luis, alheio ao marketing. O único que conhecia era a bolha de água correndo prateada na folha de inhame que usara nas horas da sede em riachos de águas cristalinas e nem tanto que cruzou neste seu vagar. Com algum esforço José Itaca, que não era mais um jovenzinho, se pôs ereto, abriu a porta e deu passagem ao menino que mesmo sem estar seduzido pelo peixinho dourado da padaria, aquiesceu.
- Inês! Bradou Jose Itaca, esquente água para o banho do menino.
Com Luis a sua frente e o empurrava com suas pernas e barriga.
Vamos José!
Luis! José não. Disse Luis.
Hoje o acontecido tem para Luis a dimensão de um jogo de berlinde, onde era teco. E, menos que o gol feito por Marco Aurélio desde o meio campo encobrindo Veloso, numa quarta-feira que de tão radiosa poderia ter sido domingo majestoso, caso não fosse. Insiste tanto nisso que chego a crer, e sei também que nenhum ponto de inflexão leva ao mesmo de onde vinha. E assim tal equação nos deixa com duas soluções e sabemos que a solução opera sobre a variável e a variável fixada induz a mais soluções. O objeto e sua sombra com a luz no infinito se movem ao mesmo tempo. Mas voltemos a sua história de passagem pelo Deck.


Ana laranja.
C vitamina...

Luis recorda mais um troço da cançoneta e o pandeiro do regional acena, ao que as moçoilas responderam com leveza, donaires, velhices fossilizadas em repertórios. E o regional segue adiante num passo mais lento. Elegantes como um estouro de zebras do discóveri tchenel.
Chega ao bar Seu Chapéu o pé-de-valsa campineiro com Sua Par. Deslizam entre as mesas, rodopiam, nariz a nariz. Sério ele, delicada e dedicada Par na aba de Seu Chapéu.
Luis assim que viu Feia, engoliu isca e anzol e quando já se babava e enquanto isto queria de si para consigo explicar o porquê daquela Feia nisso (dele). A felicidade só ocorre nos desvãos do efêmero? Inútil pergunta. Mas perguntou-se. Não houve resposta que não fosse um leve contrair da face, abrir ventas perder o olhar no horizonte perquirido, que neste caso era ela nela mesma a que esconde a beleza. Definiu isto e nisto põe-se em sorrisos quase de dentes. Afinal a resposta sempre será, não me importo quão pouco ela dure.
Da estratégica mesa da diretoria do Deck Bar vê-se toda a fauna do bar e a pouca flora do assoreado Atibaia ciliado por cinco coqueiros, dois pés de ingás e um jambolãozeiro, casa de casal de saruês, isso nesta margem onde se planta bar, e bambuzal à outra margem. E na ponte que cruza o rio pessoas cruzam vendo a vida definhar com o rio, e um homem pesca quem sabe a última piaba.
A faina dos chorões do Choro Bandido apimenta os olhos e arranca lágrimas do carinhoso Ademar que explode em mais palmas secundadas primeiro por Aluno e logo toda freguesia.
A bonita manipula um batom, agora vasculha a bolsa em busca... pordeus! Um espelhinho periscópio, agora gira o periscópio, Luis está no foco, que com o polegar e fura-bolo arregala os olhos e com o fura-bolo da outra mão espreme o nariz para cima, um sátiro brincalhão, agradou. Pergunta, será que falarão de mim uma as outras. Responde, não fiarão antes no ciúme uma das outras, e assim me privam de alguma preferência que às preteridas tolhessem a esperança para sempre.
Luis quer chope. O serviço anda meio bossa nova. Ao berro rókenrou de: Belmirô! Luis ribombando decibéis um tom acima do chorinho, faz Belmiro ouvir o pedido. A demora insiste na sua eficácia, mas em hora boa Luis divisa o meia-pressão escorrendo creme na bandeja. Cena de transbordamento que Luis da Silva Neto, aqui dito Luis, adora presenciar e participar, pois a tudo somam boas recordações bávaras, a desmadrar e deslembrar para sempre o ancestre angustiado. Mas como fugir de sua própria angustia!? Luis consegue não mais que uma farsa.

terça-feira, outubro 31, 2006

10. Um Tico, um teco.

Outros no entanto não tiveram tal sorte......Era uma vez Tico. Que fora pititico. Ainda menor que Luis. Hoje é grande. E dizem que já é demaior. Ninguém sabe. Certidão nem tem. Corre risco de morrer sem mesmo registro de nascido ter. Tem da vida todos tais anos que não podem ser medidos, senão que via um carbono raro. Mas quantos? Todos? Sim muitos! Queiloses todas pelo corpo, mais que anos? Ou mais que raros carbonos. Quem pode saber! “A mãe disse que me teve com treze, ou foi o Lico que morreu? A mãe não sabe, lembra de uma novela, qual seja, Vale-tudo, não foi em antes? Mas a mãe dizem que o pai matou! E matador fugiu para São Paulo, ah! Se achasse o pai! Juro que matava”. Ficam as marcas. Uma aqui é vacina, ali perto do fígado só pegou por fora, no bucho mesmo, nenhuma. Essa ai na perna é tiro? É. Policia? Tico não sabe se fogo amigo. Menino. Um montão de fugas pelo brejo, descampado, saltando muro, caindo e rasgando a pele em quiçaças. Hoje! Agora mesmo, entra na boca com quinze mangos enrolados apertados na palma da mão fechada e sai dela com papel no lugar do quinlão e uma luz diferente pisca na entrada do beco, “não moço dá um tempo, dá volta, sujou”, mas não era nem e assim de rápido se pá! Limpou. Mais quinze para Tico dar para Lilica, depois Lilica distribui. Agora o papel é para o moço conhecido. “Caprichado” diz esse sendo ele muitos, Caco, Caico, Caíque Kiko, Tatá, até mesmo doutor advogado João Alberto, candidato ao erário, do tanto que ainda não foi abiscoitado, músicos sem e com música, os que acham e os que são, os que não são e os que não acham, só por folia, só aos sábados, de domingo, de segunda, de terça, papel papéu, papér, excelente e tar. Se quisesse era só armar uma rede e ir pescando. E Tico cantava.

... Vida me levar
Vida leva eu,
Deixa vida me levar
Vida leva eu.
Frio que faz olha que frio fazia e Tico descalço num calção e numa camiseta “Rezaistes para senador”. Muita suja a camisa, mas não de hoje, já lavada e ainda suja, encardida, mas isso não é ruim, ruim mesmo é estar rasgada e torta por causa do pano ruim do corte ruim e tanto ruim que quase que saia pelo ombro esquerdo a gola alargada e torta. Está mesmo frio e Tico põe os braços por dentro, ficam as mangas tortas balançando sem os braços que se cruzam sobre a boca do estomago dentro da camisa, rasgada encardida e torta. Frio. O cão na barriga e o cano no púbis. Frio. Tico esfregando a sola de um pé no peito do outro, esquentando, distraído, olhando o olho do gato ou ratazana rebrilhando farol de mais um carro. Sujou diz, dá uma volta, limpou, quinze, papel, papéu, papér, excelente e tar. Moço atenção! Todo cuidado é pouco, Tuim morreu ontem, “os home?” “‘m se sabe” “fogo amigo?” “Pode se”. Então agora do topo falta Lilica para Tico ser patrão. Isso põe caraminholas na cabeça do menino. A mão no cano dentro do calção, Tico sorri, vai ser patrão do Branda, desce mais as mãos dentro do calção, pega segura, passa no cano do três oito, fica um pouco excitado, tem uma vontade de fazer uma zoeira, fazer uma barca no Cambuí e descer com a Samanta para Ubatuba e depois faz outra barca lá e subir. Mas Samanta ainda é de Lilica. Pode ser amanhã. Medita Tico e conclui: “Não essas coisas não se deixam para depois, tem que ser hoje, mas hoje ainda vai longe, quase até amanhã e dizque Lilica lê intenções nos olhos”. E pensativo pensa. “Advinha tudo tem parte...”. Pondera em si, e pergunta: “Já pensou ele desconfiar de mim?”. Só para responder: “Não eu não seria siso de fazer sem nenhuma de boa de chance”. Conclui: “Melhor sossegar os pensamentos”. Farol no olho do gato, “não moço”, “apaga a luz de dentro”. Todo sussurros diz e rediz: “Sujou, olha os home lá éivem, agora não”. Agora Tico tem umas contas desacertadas comendo miolos de dentro da cabeça dele. Dizem que numas assim tem que ter o dedo leve e coração frio qual barata! Ou os nervos nervosos de aço? Tico não sabe e fica nervoso, de não saber. Dá um rolê brou: Kiko, Nico, Caco, Caico, Caíque tanto faz. Nervoso orienta com sinais. Rolê, Rolê mano, soletra sussurra, com cara de ódio medo. A policia chega e pára, desce na toca, Tico entra na toca e pá pá pá pá pá pá. Dois na cara, dois no peito bem no meio para não estragar a peita de botões abertos e dois nos pés descalços dele também para se acaso morto ande. Lilica de deitado na cama com Samanta, deitado ficou meio para sempre. Samanta não chora, é mulher do patrão da hora, do outro, desse e do próximo é só se manter assim gostosuda apertada dentro do short vaginal. Samanta sabe o que ninguém sabe e que não dirá a ninguém e mesmo que quisesse, não poderia. No mais as pessoas daqui ninguém mesmo liga ou dá ouvido pensa ela. Então é prática e revira os bolsos de Lilica. “Isso é meu pertence”. Samanta diz a Tico. Ele nem discorda, mas tira o da mão dela, nem palavra falada dita foi ouvida nem da outra parte nem da uma.
Tico rei canta:

“Vida leva eu,
Deixa vida me levar,
Vida leva eu”

Tico vestido tudo de marca, não o patinho voando, mas sim bumerangue parado no ar no tênis, camisa de Lilica, calça de Lilica, e o tênis. Lilica tem pé muito grande, mas vestiu o naique pegou Samanta pela mão e saiu da toca e Boca disse “vai fazer uma zoeira patrãozinho, vai hoje é o seu dia, aproveita” Boca é mais velho tem quarenta, e nunca foi patrão, diz que não quer, mas Tico quer e Tico fez o que queria fazer. Foi para Ubatuba. Tudo isso antes de saber que ia matar o prefeito, depois não matar, e depois nem sabe se matou, nem acha que foi ele, podia matar, mas não lembra se pediram, se pediram! “Fui eu”, porque não conhecia o prefeito, mas se pedissem, mas foi e não foi e Tico anda confuso. Pra uns diz que sim e que não pra outros. Mas antes de estar confuso está em Ubatuba com Samanta e passa peróxido cremoso no corpo inteiro grande de Samanta, Samanta jamanta podia ser artista e riscando na areia úmida faz um coração e uma flecha que o atravessa, deixa Tico ver não, Samanta apaga tudo de sua arte nuvem mudou quimera o que foi não era e o que era não foi, não bailarina não poderia ser, ela é muito grande, Tico fica menor ainda perto de Samanta, ela borcada com a cara socada na areia, sem canga, sem toalha, rola e é um croquete, com o buço, muito buço, mas muito brancos, os pelos das pernas, dos antebraços também peroxidados, correm para água gelada e Tico nem Samanta sabem nadar. Tico mergulha no raso, rala a barriga na areia preta do fundo que também entra no calção, no cabelo. Enquanto Tico se livra da água que lhe entra pelo nariz, balançando a cabeça atirando a água retida nos cabelos. Samanta olha pra um coroa branquelo sentado numa cadeira plástica do quiosque e ele tomando caipirinha. Tico pergunta sem consciência negra: “ você vai preferir a coca laiti?” Samanta diz que não. Ela gostou do ciúme. Ele quase se arrependeu do zelo. E mesmo dentro do mar gelado o dele ficou grande, ficou duro, beijou, passou a não por dentro da asa delta verde limão dela, foram mais pro fundo ele afastou para o lado a asa delta e amou melhor que Lilica escolheram um outro carro que não o que os trouxe a praia.ela disse: “ era brabo, mas na hora do vamos ver...” Ele não disse que era a primeira vez dele. Ela sabia. E calou.
Eles voltaram?
Não.
Foram enterrados e desenterrados, para que a perícia lesse em seus corpos os escritos deixados pelas cápsulas, e o capsógrifo desse pergaminho nunca foi traduzido.