Eu lá com ela naquele como se diz bar do Cleso. Um verão meloso, grudento! Estava especialmente espirituoso, junto com amigos e Laura. A moldura foi se quebrando no que os amigos foram um a um se retirando, e nós mantivemos o mesmo ritmo de euforia quando grupo estava presente, demoramos um pouco a nos dar conta da solidão de cada um em um no universo expandido a que éramos um alguém a beira de uma estrada de terra ao norte das veredas Gerais que um alguém vê e ouve uma caravana ao longe, à medida que avança o bando o vozerio aumenta até que esteja a sua frente e então diminui no que se afasta até o último latido dos cães. O silêncio pesando. Rulque o garçom guardou mesas e cadeiras. Disse boa noite! Boa noite! Éramos sós e sérios. Seriedade que se consegue depois do riso. Eu ardia da minha fogueira de lenhas juvenis, mordia com os dentes de cima o lábio inferior, vulgar, espesso demais, e a minha frente a vida para uso compartilhado quase minha. Laura parada. Olho e olho parados. Escolho um cravo dos do seu nariz, a mão no queixo. E o camundongo imóvel. A gata com patas fofinhas, as garras recolhidas. Afaga a presa. Eu, quanto mais árido e se ácido melhor, não fujo. Algo se posterga, a febre não arrefece. A pata-de-vaca estrala uma vagem. Passa um carro. Os pés quentes. Laura ocupa-se da cabeleira. Colhe-a toda. Uma melena caiu pelo rosto até a boca. Laura prende os cabelos faz uma calda segura pelo indicador e polegar. A outra mão sujeita o maço, enrola um arranjo. Faz falta uma Bic. Não. A Bic resolveria. Balança a cabeça desfaz-se o coque. Volta ao rabo de cavalo. Que também se desfaz. Cabelos soltos como labaredas de um fogo interior. Emoldurando. Encaixilhando. O que? Eu só tinha olhos para a sua boca. À sua boca a outra boca. Logo tinha olhos para os olhos (dela). E os olhos vendo o invisível. Eu reduzido a olhos familiares eu olhos meus ia da boca para os olhos dela e dos olhos para a boca, pulava o nariz, falhava o buço. A boca de Laura perto de abrir mostrava os dentes e os de cima não tocavam os de baixo, lábios levemente carnudos entreabertos, o rosa da gengiva a língua rosa, o rosa dos lábios, os carnosos lábios em si. Fatia de romã. Carmesim. Carnirosada. E meus lábios grossos entreabertos. A língua caída, pousada atrás da muralha de marfins no sumo dela mesma.
A espera anda à espreita. Meu corpo todo, um infinitésimo. Átomo entorpecido. Peão quatro do rei contra peão quatro da dama. Eu de pretas. Vulnerável humanidade. Inútil lutar. Algo movendo em jorros quânticos. Meus braços caídos e na longínqua extremidade as mãos imensamente pequenas. Cuidado não vá deitar abaixo o leite da gata menino! Evoquei toda sensibilidade queria vê-la transbordar, tremo por não saber qual será a última tampinha no copo d'água que o fará transbordar.
A namorada, a cabeleira, o marfim, a carnirosada, o hálito quente úmido que meu nariz, meus lábios iam interpretando ali a vida através da avidez dela avizinhada. Meus pês-orbitais braços, saindo do mundo atômico abaixo de meu queixo, levam primeiro a mão ao rosto quente de Laura que prende dengosamente a mesma mão contra seu ombro, a outra mão com a uma emolduraram o rosto dela. A minha uma mão desliza para trás da orelha e vai a nuca em meio a cabelos colados na pele que o indicador e o médio entesouram e descem pelos fios longos até as pontas onde a mão se abre e sobe em concha enchendo e vertendo cabelos e assim cheia chega de volta à nuca. Olhos umedecidos olham olhos chamejantes e nada vêem senão que, desvendam relutâncias fragilizadas na ausência de palavras diante do desejo, sobre pernas remotas que me prendiam a terra com desconfiança em Newton e vacilam diante da gravidade do abismo. A uma mão permanece secular segurando cabelos incontíveis e a outra mais divertida enlaça dedos. Distância abissal de dois narizes. O ar que ela expira já saiu de mim e de volta expiro, uma perna dobra o joelho o bastante para tirar o calcanhar do chão e ela treme como vara verde. A uma mão ainda segura cabelos e o seu polegar alcança o lóbulo. Brió. A outra mão com a mão dela brincam de espelho, sobem descem. Meu pé alçou vôo rumo à escarpa e meu joelho encontra o joelho dela entre peles os panos. Minha mão que brincava com a mão que agora pousou no meu ombro está na cintura dela. Os seios dela por agora são sonho nuvens do futuro. O olho no olho e joelho desliza joelho. Encoxam. O forno aceso a lenha seca os ventres se tocam. O centro de massa começa seu governo. Os narizes desviam-se. Os lábios se tocam. Edite bibite.
Luis sabe que isso levado adiante será capaz de o matar, e que foi longe demais, deveria saltar antes, pisar nos freios agora? Ser alcançado pelo véu de poeira que lhe cobriria o fracasso, tudo parece improvável, “como o amor pode fracassar”, mas como enfrentar o pesadelo de um bebê chorando que Luis vai ninar para que volte a dormir, e o bebê ri com dentes de Laura e diz com voz de Laura, “eu não te quero” fria e doce. Qual uma linda frase em alemão e no final um Nichts. E depois? Depois não podendo comer a própria memória Luis pensa nuns biscoitos com chá no que Capitu vem puxando um barbante com bandeirolas e numa delas os olhos de Laura são mais dissimulados que os da penitente, mas Laura é só um prefácio de um livro inacabado porque ela sumiu e Luis é um personagem que quer fugir do próprio manuscrito e resta-se suspenso a mercê de um escritor negligente que o abandona na mesa um à própria sorte.
quinta-feira, novembro 09, 2006
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