quarta-feira, outubro 18, 2006

3. Para

Luis indo para a fabrica...


Um galo canta acerca. Um rádio memorioso sona:

...pipoca aqui, pipoca ali...

Abriu saudades de um maio. As ondas reais, vazam de janelas, vindas de uma potente tecnologia a endoidar moléculas do ar:

... a te querer e te querer...!

O verão vai pelo meio pré-aquecendo carnavais, inda que não soem marchinhas. Faz um sol de rachar mamonas. Sói chover amazonicamente à tardinha. Nosso herói caminha indolentemente com um estoque de bamb. Bambu ótimo para vara de pescar. Vai apagando pegadas na estrada do ir e vir. É sabedor que esquecer é lembrar por completo, minúcia a minúcia. Então esquece, vivas imagens das oficinas de berloques, papeis reciclados, bijuterias, pinturas, marcenarias, carpintarias, artesanias e vitrais do hospital, Sanatório Dr. Candido Ferreira.
Plenilúnio. Os gatos e gatas estão exaustos nos beirais. Os cães estão à sombra de outros e ainda mesmos beirais, lambem-se os próprios genitais, coçam-se o pescoço com as patas traseiras e lambem-se-lhas. Luis olha para o céu procurando a lua que virá de Joaquim Egidio. Muito cedo ainda para esse ser noturno, pensa. “Por que a lua tem aquele talco?” Pergunta-se Luis “Que intempéries dissolveram a rocha lunar?” Sua ignorância não responde! “Que erosões, minuanos, que não-águas?” Sem obter resposta, revolta-se - Uma pegada no chão que não vinha nem ia a lugar algum deixou a humanidade à mercê de um passo. E ela a lua? Faz maré, luar a beira-mar, eclipses. Satisfeito Luis desbastará a cabeleira porque ele nada entende de lua e cortes de cabelo. Fará isso a meio caminho da ponte do Atibaia e Sousas, na barbearia de seu Navalha. Chamo-o destarte dada barbeiragem do corte. Além disso? Luis ouve Navalha pensando em Laura...
Luar há no laurel
dum luar a lual
há Laura a laurear
luais e luas no olhar
loas a uma Plenilaura...
Seu Navalha usa o polegar para esticar a pele da costeleta junto a orelha, fazendo o pé-do-corte com o cabo da navalha secular trançada entre dedos e a pinça polegar-indicador a manejar a lâmina.
- Reeék. Diz a lâmina, no que fica cheia de creme e pontas negras e grises de barba e Navalha a limpa na palma chonchuda da mão em concha.
Reeeék. Repete a lâmina. Enquanto Luis inclina ainda mais a cabeça, mirando a espuma grudada a palma da mão de Navalha.
Alguém sempre vende uma cachacinha, né! Diz o seu Navalha. Infiro que falou dos usuários a flanar pelo distrito.
- Você depende ... de ...que ... de você. Arrolha Luis, mudando de assunto, já que ata idéias próprias e já concebidas a respeito.
- Nós, quem? Pergunta Navalha, começando a pensar coisas.
- O espelho que nos duplica. Fala Luis olhando para o espelho ele naquele guarda-pelos metido, com as mãos por baixo dele... braços atados, Luis tenta coçar a orelha inclinando a cabeça e levantando o ombro.
-Ahn! Desengasga-se Navalha.
Navalha prossegue o ritual: Álcool, talco, velva e umas escovadelas no pescoço depois desdobra a gola da camisa dá a escova a Luis que dá umas escovadelas desleixadas nas pernas das calças e pronto. Sai a par de coisas e pessoas e algum veneno destilado. Na barbearia onde esteve em mãos de Seu Navalha por vinte minutos, e com o tal noticioso obtido terá o básico para sua estadia na pequena Sousas. E lá vai Luis.