quarta-feira, novembro 29, 2006

21. O bote de Caronte.

- É! Está dando para ver. O rio sobe. Luis louco por completar a frase do mineiro só é... Mas feliz por esquecê-la.
- Ah isso é só chuva não. É estouro de açude. Fala Zénão voltando da sentina tentando olhar o embaixo da barriga querendo ver se chacoalhou bem.
- Luis?
- Fala meu inquiridor.
- Você já ouviu falar em dedetização ecológica?
- Vi um papel colado ai no banheiro do Deck.
- Você não vai falar nada?
- Sempre vou, ( falando em voz baixa com a mão escondendo um dos cantos da boca, como se fora um segredo) nunca hei de me calar e deve de ser coisa tal como guerra cirúrgica. Ou então como em Espanha você pode comprar haxixe, mas não pode vender... Penso que o Zé Simão poderia explicar, ou então trate bem duma barata ou dum rato deixando-os bem fortes, então o rato vira ator e a barata a atar batalhas disseminando o terror aos outros da mesma espécie, e você só tem que matar os que ainda ratam ou baratam, sendo um ou dois indivíduos. Tratar o esgoto de suas casas ninguém trata. Saco. Deixe-me sentado no meu rabo. Tão cheios de razão como um bando de ruminantes com seus dimetil-sulfetos. Mugentes ou não. Resumindo é o mesmo que vestir preto para parecer mais magro.
Eu entendi isso como se a vida humana fosse por si só geradora de insetos, e assim por uma simples inferência concluo que só vamos acabar com os insetos se acabarmos com os humanos.
- É! Está cada vez mais bizarro esse mundão, nem os bois podem mais, mercaptan. Fala Zénão como se passasse o paieiro para o outro canto da boca antes da cusparada.
- É cumpadi. - Pegando o clima fala Luis - Pena que faz uma daquelas escarradeiras de louça que nunca vimos faltar. Formando cuspe na boca. Como a minha vida seria outra se tivesse escarrado numa escarradeira de louça azul e branca. Se menino adorava o penico de ágata embaixo da cama de José Itaca.
- Onde ele jogava a urina que a bexiga não continha contida no bacio? Pergunta Zénão.
- No quintal. Babaca!
- Na horta. Jacu!
- No pé de couve. Bocó!
- Misturava o mijo com fumo e punha no machucado, um verdadeiro azeite de Zúbia. Pereba!
-E saía correndo e jogando bola pulando cerca roubando frutas do pomar do Léo
Léo pomar do Léo...
... Laranja lima[1][U1]

Cantarola o menino que não quer crescer, tudo com uma atadura no peito do pé prendendo o fumo com urina, um cheiro fantástico de cogumelos secos e tomilho, uma trufa branca. Trufa é mistura de mijo e cogumelos chilenos secos, pensa o homem saudoso do menino.
- Penso que não é só a chuva a urina que enchem o rio não. Fosse só isso, subiria de mansinho, mas o rio está subindo aos supetões!
- Não é o rio que sobe, é um rio que cai no rio. Diz Zénão. O Poeta relembrado.
O bar foi se enchendo, agora está lotado, o álcool sendo consumido, os olhares se conhecendo, as vozes falando alto para os ouvidos dos olhares conhecidos ouvirem, risos aumentados, pois a seriedade espanta e tudo cresceu tanto que o Deck parece a barca de Caronte.
- Rumo a felicidade! Diz um marujo. No que encosta um grupo à beira do balcão, acotovelam-se com Alcides Benevides e Alceu.

-E tar né veio! Fala um olhando para as filhas do seu Pavão.
-É mesm. Excelente! Véi ói a muiérr!
-Dá pra perrde umas hora! Fala o um novamente.
-Tomá uma véi?
-De boa! Mas se pá, arrasto na barca quela cadelaça.
- Vam bora véi pagá uma nesse buteco não!
-E tar mesm, pro Tênis que o coroa tem conta lá!
-Dêmôrô , só se for agora!
-Vambora.
E foram-se.


[U1] Primeira composição músical de Ecidão.