Eis que Zénão se anuncia. Zénão mete a colher de pau bem no meio do púcaro a cozinhar o fubá. Um plóc será fatalmente queimado pelo angu. Zénão é todo-dedos.
- Está derretendo toucinho? Pergunta Zénão. Achegando-se.
- Trouxeram outro ator? Pergunta Luis.
- Temos que dialogar. Não pensa assim?
- Não. Estou flertando, o passado, o futuro sem/com Laura, a Elena da 21 que o demônio acordou para mim. Responde Luis.
- Interessante! Fala Zénão. Que fazer? Você já pensou em Menelaura?
- Clementinamente expele Luis: Nem as deusas suportam a metafísica do tempo.
- Eu sou o hipócrita. Subentende-se.
- É pessoa e ela é Feia. Mascando as palavras com molho choposo.
- É Feia, fala o outro. Que atrai? Completa.
- A possibilidade, o efêmero. Diz Luis.
- Mais um chope pra me esconder debaixo desta tua saia... cantifala o um e repara que a chuva começa a cair, pingos gordos suicidas que se espatifam no rio levantando cogumelinhos de reclamos fazendo ondas concêntricas destruídas por outros pingos da mesma forma gordos.
- Cusparadas divinas. Fala um.
- Quem o entenderia. Fala outro.
- Um meia-pressão Belmiro, você não dá conta? Fala! Que pego direto ao balcão. Fala Luis ao que Belmiro flanava entre as mesas palmeando seu inox com esponja antideslizante absorvente.
- Sem pression Jotajota. Belmiro hablando.
- Sin. Y Cuidao. Retruca o andaluz raivoso.
Segundo intervalo dos chorões. O volume das vozes diminui, as pessoas se olham por todos os meios, inclusive o de não se olhar. O serviço anda mais atarefado, pois a sede aumenta, com o aumento de calor causado pelo começo da chuva de verão.
- O que será que será o que será que será da canção? Pergunta Luis.
- Desejo! Fala Zénão.
- Meu desejo!
- O que você tanto mexe Luis?
- Acho que são pelos que sobraram do corte de cabelo. Acho não, penso que são.
- Que tem a sua obsessão? Pergunta Zénão, modulando a voz querendo tirar peso da palavra ao cutucar o ferido.
- Não sei... mas... Sem mas! Reforça. Não sei mesmo, e o pior é mesmo que não sei.
Luis sabe, claro que sabe, só diz isso que ele disse quem realmente sabe que se fosse J.J. lhe poria poesias na boca, ao contrário deixarei que sinta por si só sua força agindo contra ele mesmo nessa preguiça que se encontra.
- Só o Chico para escrever janela sem gelosias e ficar bonito. Fala o mirador de gelosias.
Conversa de bar é de contínuo assim, aquilo lembra outra coisa que liga noutra como em sonho e isso explica porque Zénão foi falando que o Chico consegue palavras que ninguém coloca com tanta naturalidade e beleza.
- Você insiste neste paralelepípedo.
- Mas, não é?
- A poesia é da família. Espeta o compulsório.
- Você nunca leu o Sergio. Conversa recorrente. Fala Zénão riscando o sabre no cimento queimado do Deck.
- Li. – diz Luis – e segue dizendo - tece a história do ponto de vista dos heróis, faz a nossa história parecer um conto de fadas.- Blefa.
- Você comprou isso da esquerda stalinista fossilizada surreal. O problema é que ele não especulou como essa mesma esquerda.
- Que mané esquerda! Problema é que a direita, acaba por crer nessas especulações que ela lê da esquerda.
- Por isso leio tudo. Querendo fazer a segunda e louco para colar o setecopas na testa.
- Então me ensina como se faz um suave barbear?
- Pincel úmido dormente em substância conseguida da mistura de gordura com soda cáustica, igualmente adormecida, e dá cá meus três tentos. Fala Zénão e continua. Agora me diga o que tem a ver Florisbarba da baba do sabonete com o Sergio Buarque?
- Talvez o Chico esteja para o Sergio assim como o Paula corno manso que anda um romance inteiro com um sabonete no bolso da calca para o grego arcaico. Fraco não é? Disse Luis. Vale um milho?
- Hahaha!
- Hahaha! Luis ria com gosto e entra com gozo no labirinto Laura... e dou-lhe voz.
quarta-feira, novembro 08, 2006
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