Ouça o barulho da pia de Luis, que tem os cotovelos enterrados no tampo da mesa e a cabeça pesada pousada entre as mãos enchendo-as como se fora um cálice transbordante dela mesma. Um vai-e-vem. Assunto. Solução. Nuvem de moscardos. A lama cor de chocolate embaixo das unhas. Palito de dentes manicuram. Cabelos alisados por uma emplasta de lama. Peruca loira, dois tons acima do da sobrancelha. A barba crescida um quarto de milímetro, faz lembrar barba de defunto fresco. E a barba sempre cresce. E o morto sempre ressuscita.
Hug! Soluça. Renda. Hugenotes, e notes isso não é bluenotes. Meninas-da-Treze-de-Maio, libertem-se do malcheiroso desodorante barato. Mercaptana dentro de bombinha com desenho futurista vencido.
Alguém (um Glauber, não unglauber, sim glaubst) subido no pára-choque de uma Kombi com um megafone à boca, grita mais alto que este: Estética! Tudo pela estética. Não erraremos nunca. Estética essa é a palavra de ordem.
Melhores condicionadores. Melhores panos melhores. Cortes melhores cosimentos.
Pardelhas! Grita O Glauber.
atenuar diminuir adelgaçar exacerbar assanhar embravear excitar-se acalmar-se sossegar serenar amainar diminuir atenuar sempre o roer da conservação das criaturas passadios, indumentos, bebes, bálsamos, bolus de cachaça, Pingário!
Hahaha! Salário de pinga, pinga salário pingário.
Acalme-se rapaz! Diz de si pra consigo.
Coletivos são plenitudes individuais.
TESES.
Um estado de interesse.
Não um estado de direito. Nem um interesse de estado, tampouco o direito do estado.
Vamos ao que interessa. Deixe-me em paz Napoleão! Grita Glauber
mercado? Alguma alma furtada. Vida? Dissolvida.
- Às últimas conseqüências. Acredita Luis. Livre arbítrio? Um Glauber.
Partidos, só tidos por par.
Estética. Não a regressão à publicidade risível.
Geopolítica. Se um viajante numa noite de luar viu o sul virado para o norte, quem diria que o sul é para baixo?
Mercartor...
Deus?
Que não o transformem em biscoito.
Deus do céu!
Eu é que não existo, assim sendo não sei o quê sou. Não sou um quê.
Sincronia.
Não-destruir para subsistir.
Preguiça consumada.
Preguiça culposa, ócio laborioso
Pequenas não-soluções para o dia-a-dia.
Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito com crédito e não esquece a senha.
Caixa de supermercado para quem têm um cartão de crédito que talvez tenha crédito e um outro para quem costuma esquecer a senha.
Caixa de supermercado para quem tem mais de um cartão de crédito-verifique-qual-deles-tem-crédito-disponivel. Senhas anotadas nos cartões.
Canícula. Chove pra cachorro.
Dia de cão. Faz calor de engrossar pescoço.
Proibido. Conduzir pela direita. Exceto nas ultrapassagens.
quarta-feira, dezembro 27, 2006
33. Juízo.
Laura estava dentro do cristal de um vitral, melhor dito, estava dentro da própria luz que o varava. A luz a forçava a baixar a cabeça à fugir os olhos da luz. Também assim a luz a cegava. Então cerrava os olhos. Ainda assim a luz a cegava. Quer responder a uma pergunta que não foi feita. Tartamudeia ao responder: sim sou o que sou. Agora a luz parece mais leitosa menos aguda e tépida. como se estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que permitisse a ela levantar a cabeça e abrir os olhos, mas ela nada vê senão que o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos. Não ouve perguntas ela não pensa em respostas, nem o pensamento existe, apenas o leite por toda parte, parece não lembrar de nenhuma pergunta mas ela responde lentamente: sim, também. Os séculos passam entre uma não-pergunta e outra. A luz se apaga lentamente. O branco abruma demoradamente. Imêmore. Completamente.
32.VAZANTE
Luis está bêbado, quer mudar de assunto. Feia insiste em fingir não vê-lo, Mércia se esforça em mostrar mais do que por sabedoria se quer ver. A musa Isabelissima está com o Ente. Hermítio lê. Ledório lê. Sr. Pavão está feliz, as suas meninas felizes, seu futuro genro presentemente feliz. Seu Ademar e Aluno estão felizes com as lágrimas derramadas e as cachaças bebidas aumentadoras de toda sensibilidade. Edmilson e sua mulher e os acompanhantes todos felizes, quase tem a crônica, pronta. Mércia e Belmigo? Nem tanto. Ele está zeloso de pernas cruzantes descruzadoras. O Ente beija Isabellle. Todos os outros falam sobre a enchente.
31.Reintroibo.
De volta ao lar. Luis sem planos. Luis sem Laura. Luis.
- Já que não podemos sair daqui então...
- Então o quê? Falou Zénão.
- O chope falecido? Pergunta Luis.
- Faltoso!
- Ausente!
- Alheio!
- Distraído!
- Desatento! Fala Zénão fechando o pinga-fogo.
- Belmiroooô! Gritou Luis, já que o atraso é de lei.
- Que foi comeu sal, não dá pra esperar? Fala Belmiro mais perto que se esperava, quase intrometido.
- Sal não, ostra e bacalhau! Luis.
- E a que esconde a beleza? Pergunta Zénão.
- Conto-te já, ela a figura sem tristezas aparentes quis saber quem eu era! Disse Luis. Sério.
- E você? Que disse?
- Deveria haver dito que era um caracol que carrega a casa, a origem, mas disse que não sabia, e que tenho medo de saber, e saber que não tenha afinal tanto controle do que sou ou penso que sou e que são décadas de uma edificação sem fim. Agora que fui lá novamente pareceu-me zangadamente acessível. Mas meu cheiro estava lhe incomodando!
Luis ainda crê que mulheres não têm metafísica. Têm sabedoria e sabedoria é uma raiz que afunda na terra em busca de folhas, flores e frutos, cada qual no seu tempo. Luis quer florescer no inverno, no outono e acaba por ficar meio encruado na primavera.
- Já que não podemos sair daqui então...
- Então o quê? Falou Zénão.
- O chope falecido? Pergunta Luis.
- Faltoso!
- Ausente!
- Alheio!
- Distraído!
- Desatento! Fala Zénão fechando o pinga-fogo.
- Belmiroooô! Gritou Luis, já que o atraso é de lei.
- Que foi comeu sal, não dá pra esperar? Fala Belmiro mais perto que se esperava, quase intrometido.
- Sal não, ostra e bacalhau! Luis.
- E a que esconde a beleza? Pergunta Zénão.
- Conto-te já, ela a figura sem tristezas aparentes quis saber quem eu era! Disse Luis. Sério.
- E você? Que disse?
- Deveria haver dito que era um caracol que carrega a casa, a origem, mas disse que não sabia, e que tenho medo de saber, e saber que não tenha afinal tanto controle do que sou ou penso que sou e que são décadas de uma edificação sem fim. Agora que fui lá novamente pareceu-me zangadamente acessível. Mas meu cheiro estava lhe incomodando!
Luis ainda crê que mulheres não têm metafísica. Têm sabedoria e sabedoria é uma raiz que afunda na terra em busca de folhas, flores e frutos, cada qual no seu tempo. Luis quer florescer no inverno, no outono e acaba por ficar meio encruado na primavera.
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