Feia se levanta, não há mais comensais no Deck bar, exceto Luis e Feia e ela caminha para a mesa um, com a blusa numa labuta para que despoje os ombros, uma Lucíola ilustrada num livro do passado, caminha insistindo que o fumo vá para cima e para traz, pára diante da mesa um com a perna direita à frente da esquerda sustentada pelo pé em ponta de pé. Luis a olha de baixo para cima.
Elena vidi, per cui tanto reo tempo si volse...e mais passa que volta pensa Luis. Milhares de anos. Milhares de historias. E sempre restaremos, nós outros, os mesmos com a gravidade da repetição, fazendo a tragédia não ser mais que a dupla ligação de oxigênio nalgum carbono do ácido. Feia abaixa a mão, de cigarro entre dedos, afastando a do corpo, enquanto o cotovelo cola-lhe à cintura a outra mão afofa o cabelo, com um requebro mole que subiu das pernas até a cabeça e esta ficou tombada sobre seu ombro despojado, disse:
Hei você!
Eu? Disse Luis surpreendido.
Sim você que gosta de dançar.
Gosto, mas não sei.
Ninguém sabe, todo mundo imita todo mundo. Sim?
Sim! Claro. Se não precisa saber é comigo mesmo. Mas, essa música não é para dançar.
Deixe de ser tolo, música é para se ouvir, nós é que dançamos.
É verdade, agora pensando bem acho que a música enquanto se dança é para não ficar se perdendo em diálogos inúteis. Estou pronto para o uso.
Parece que você está... Chega de conversa, embora dançar! Vem!
...Porém parece que há golpes de p de pé de pão...
-Como é teu nome?
- Inês!
- Inês?
- Sim. Inês! Porque do espanto?
- Nada não!
- Como não? Ficou até pálido!
- Eu pálido?
- Quem mais? Você mesmo!
- Sabe o que é?
- Quê?
- Estou escrevendo um livro, e lá tem uma personagem que se diz Inês.
- É mesmo! E como se chama o mocinho?
- Luis. Igual a mim, Luis! Se meu malsim não tenha mudado de rumos e de nomes por não ter ele conseguido até aqui penetrar na minha alma no que me olha raso sem razão meu nem riso no liso desvão que rês desfaz.
...De parece poder...
- Então ela sou eu e ele é você?
- Acho que não!
- Como não?
- É uma história que inventei, e tampouco sou eu o Luis.
- Eu também não sou Inês, na verdade adotei este nome, porque não gosto de Ariadne.
- O meu é Luis mesmo.
- Estou cansada de dançar, vamos embora Luis!
- Para onde Inês?
- Para casa oras bolas!
- Então vamos.
- Espere aí! Esquecia minhas anotações, mas não as vejo sobre a mesa um.
- Deixe isso para lá! Está na hora de começar outra.
- E se eles copiarem?
- Você não copiou?
- Você está certa, para onde mesmo que vamos.
- Dá cá o braço Luis e chega de lorota.
- Como os de antigamente!
- Isso! Meu lindo! Fintemos o malsim.
...E era nem de nego não...
- Quando chegar a ponte você me leva de cavalinho na cacunda Luis?
- Sim Inês! Mas onde é sua casa?
...E era n de nunca mais...
- A minha e a sua J.J. é o Candinho, e deixe de onda que quero ver você virar os olhinhos, e morder a minha mão, meu lindo!
- Sim Inês.
Fim
terça-feira, janeiro 16, 2007
38. A farsa de Inês.
A farsa de Inês.
O choro foi embora com os músicos do Choro Bandido, fazendo desaparecer seus fiéis, como desaparecem os gênios e as lâmpadas em filmes antigos numa explosão que gera uma nuvem de fumaça que vem do solo. Isabelle foi-se com o Ente, Ledório e Hermítio saíram como entraram envoltos em papel jornal agora um tanto úmido dado o merejar dos copos de cerveja e chope, Wirto desapareceu com uma loira, a bonita foi-se com a Negra dormirem para que uma o demônio acorde. De Mércia resta uma certa umidade no assento da cadeira. Edmilson saiu com a crônica pronta. O genro quase pediu em casamento. Seu Pavão ainda mais feliz. O serviço agora anda apressado juntado cadeiras e mesas dobráveis e dispondo a cada quatro cadeiras uma mesa. Luis ainda na mesa um anda as voltas com uma nuvem de soluções rondando e zumbindo aos ouvidos. Feia parece ter problemas com a conta e reconta o que falta. Fiado. Amanhã eu pago. Daí fiado só amanhã. Antoine não aceita, mas do gasto já feito leva o balão. Luis pagou e pediu o chope saidera, que resta inteiro, só o creme abaixou.
Luis arranca a cabeça dentre as mãos, arranca as raízes dos cotovelos do tampo da mesa, traça as pernas e balança o pé da perna que está por cima. Pergunta-se onde estou? Feia acende um cigarro. O som ambiente toca.
...Pipoca aqui, pipoca ali...
O choro foi embora com os músicos do Choro Bandido, fazendo desaparecer seus fiéis, como desaparecem os gênios e as lâmpadas em filmes antigos numa explosão que gera uma nuvem de fumaça que vem do solo. Isabelle foi-se com o Ente, Ledório e Hermítio saíram como entraram envoltos em papel jornal agora um tanto úmido dado o merejar dos copos de cerveja e chope, Wirto desapareceu com uma loira, a bonita foi-se com a Negra dormirem para que uma o demônio acorde. De Mércia resta uma certa umidade no assento da cadeira. Edmilson saiu com a crônica pronta. O genro quase pediu em casamento. Seu Pavão ainda mais feliz. O serviço agora anda apressado juntado cadeiras e mesas dobráveis e dispondo a cada quatro cadeiras uma mesa. Luis ainda na mesa um anda as voltas com uma nuvem de soluções rondando e zumbindo aos ouvidos. Feia parece ter problemas com a conta e reconta o que falta. Fiado. Amanhã eu pago. Daí fiado só amanhã. Antoine não aceita, mas do gasto já feito leva o balão. Luis pagou e pediu o chope saidera, que resta inteiro, só o creme abaixou.
Luis arranca a cabeça dentre as mãos, arranca as raízes dos cotovelos do tampo da mesa, traça as pernas e balança o pé da perna que está por cima. Pergunta-se onde estou? Feia acende um cigarro. O som ambiente toca.
...Pipoca aqui, pipoca ali...
37. O acepipe.
O acepipe.
A geada resistia aos primeiros raios de sol que pelas frestas dos pinheiros iluminavam as sombras de onde deveriam aparecer os fungos. Cada um escolheu seu caminho. Eu a mote de norte tangenciei o curso de um arroio de águas cristalinas, que descia rumo ao Segre, gelado e fumarento. Estaquei diante de um cogumelo. Admirado, pesquisado e por fim colhido. Com uma faca de cabo longo e lamina curta, cortei o talo acima dos esporos, regra a ser cumprida nessa micologia. Um passo a frente e toda uma família que muito reduziu o tamanho do primeiro. Mas, guardei o primeiro qual indez.
Continuei subindo por uma escarpa que dava em um grotão, que dava para mais além e fui subindo nessa busca infinita do desconhecido e quando consegui chegar ao topo um algo mais ensolarado, dei de frente com um Amanita vermelho com pintinhas brancas. Pesquisei. Alucinógeno. Psilocibina. Dei uma mordida. Achei-me sentado à beira do arroio e contávamos um ao outro o deslumbramento recíproco que sentíamos sua dele transparência indiscutível seu barulhinho ao passar o pequeno estreito formado por grandes calhaus em seu pequeno leito onde pousa o meu retrato colado em suas gneisses de fundo e ele o rio dizia de minha imobilidade, minha coisa nenhuma de alarme de nele se me ver refletir meu saber de que não sendo ele o mesmo e nem mesmo eu sendo no que me transformo sou ainda confiável sem me achar infértil por não ter peixinhos vermelhos a subir por mim meu não lhe tocar para me ter mesmo que o abuso de fulgor que lhe reflito que eu começo a pensar peixes feixes de luz e a ser eu rio eu peixes brilho o que vê e o visto sendo o sol refletido a fonte do calor que me queima e eu a banhar-me em mim beber-me...
Então você também se ausenta?
A todo pulmão aqui.
Recusas?
Qual recusa?
Que somos iguais. E que tampouco esteja inteiramente aqui, seguindo a tal de essência do ser.
Vale! Tenho momentos de fuga à inglesa, e você não é assim?
Sou. Mas penso que isso tudo faz o essencial. Sem projetar-me no futuro ainda que o pretenda e o projete.
Eu não disse que fugia rumo ao futuro.
Eu sei. É que parti do seu -fuga à inglesa- e acabei por complicar, o fato é que, se estou em você é porque eu quero estar em você.
Aqui estamos nós!
Desde Vasco da Gama!
Desde antes!
Andando em círculos!
Desde o inverno da Alexandria!
Se aqui estamos, pra onde iremos?
Que diferença faz inventarmos um dialeto?
Andar em volta de nós mesmos?
Eu quero uma festa sem fim.
Continuaremos aqui?
Vamos na busca da virgindade do mundo!
Sem sabedoria?
Só curiosidade!
Como?
Os sábios estão velhos. E nós seus legados.
Sim, mas, e o mínimo futuro?
O futuro mínimo que vira o máximo?
Nada se esgota em nós, ou fora de nós.
Então que tal a surpresa que enriquece!
Calle Luna.
La rambla.
Porta de Alcalá.
O buraco negro.
O sol.
O centro.
O cerne.
O sal.
Levanto-me e o frio corta minha carne embaixo de musgos e folhas grudadas a pele. Inês pousada sobre uma pedra a beira do arroio. Está nua sentada na pedra, um Buda assanhado que massageia os seios, agora torce a cabeleira e deixa explodir sobre eles. Tem os olhos cerrados, comanda meus movimentos, caminho para ela e sou sua presa dissimulada e ela serpente no deserto cingida, a cabeça saída deste rolo com a boca gretada na direção do sol, eu ratinho metediço corro esquivo em círculos concêntricos num acostamento curioso, ela inerte, eu cativo aproximo-me, tanto mais perto, tanto mais hesitante, mais a fortuna é aguda mais cumprirei o meu fado. Vitorioso entro na boca aberta que se fecha, sua boca engulo até o nariz, mordo sua língua, deixo minha língua ser sorvida, os dentes se tocam, as salivas se baralham, distingo a dela na minha, adocicada, ela desce sua boca pelo meu queixo, lambe o colo, eu sinto os pelos da sua vulva tépida lanosa na minha coxa, a umidade espessa vai se disseminando pelo corpo, sua no meu pé, a boca no meu, engole-o, liberta-o, aboca a glande libertada nos lábios, passa a língua, sua foi-se do meu pé, brota sobre minha boca, minha língua mais viscidez. Venha. Diz Inês. E eu vou. Oh! Inês, minha. Como Eco entro em sua gruta úmida, beijo a sua boca. Vibro harmonicamente como a corda de um arco. Tudo é umidade quente, um frêmito percorre-me, morde a minha boca. Mordo forte seu lábio puxando-o sinto um gosto de sangue então mordo mais violentamente e ela luta e com a palma da mão quer me rechaçar afastando meu focinho então cravo uma dentada e trincho o músculo de seu polegar masco sua carne, um copo se parte, uma espada entra na pedra, um véu é rasgado, relampagueia num mar tempestuoso, gozo. Desfaleço, tombo. Pleno. Durmo. Amo. A satisfação do desejo findo, ali onde já não existe o desejo, e por isso sou feliz. O amor pelo desejo que inventamos é uma sorte de parafernálias, o amor, a posse do desejado, passei a vida a ornamentar o desejo, pentear suas melenas, perfumar os seus odores, o que me impedia de voar sobre o abismo. Inês sabe disso, minto com o eu te amo, mas todo o corpo desmente. Entro por uma horta de quiabos quibebe papa de abóbora grelo de aboboreira refogado com azeite de oliveira, alho e cebola. Vou acordar. Salva-me um caruru, quiabo baba de quiabo, quiabo picado aos centos desde o dia anterior, picado miudinho, Caymi com prosa e cerveja ou água nestes tempos de cuidar do hardware quase acordo. Nina-me um cosme-e-damião. Quiabo picado, cozido afins de livrá-lo de um tanto de baba, camarão seco batido no liquidificador, ou pilado ou macerado com as mãos, castanhas de caju, do Pará e outras que encontrar picados na mesma forma que fizestes com o camarão, no mais, salsa, cebola e alho tudo picado e misturado ao quiabo, dendê de polpa e apure tudo em fogo que queima e os suores vão me acordar vem me o arroz solto ou empapado do jeito que for. Antes de acordar me salva uma boa soneca. Uma quiabada pode seduzir, no que há de baba. Frango com quiabo. Quiabo frito e arroz de alho papado. Vou acordar. Salva-me um par de tomates inteiros recheados com tomilho por um orifício feito onde o tomate se liga a planta, cozinhados no meio do arroz e dois ovos com uma bela pitada de sal sobre cada gema, fritos naquela frigideira que só você usa e que fica escondida no forno debaixo do fogão pra dona Inês não arear até virar espelho. Sarrabulho, sangue de porco e arroz ruins como um tabefe. Vou acordar. Transijo. Folha de taioba picada, tampouco, tanajura, também não. Tatu, tatupeba, teiú, tacacá, tucupi, monte de tarecos, tartufo, não isso lembra corretores, vendedores de carro, tira-gostos tépidos em vitrines prisões de moscas, moço quanto custa essa mosquinha? Mercado municipal. Pordeus! Vou acordar! Só pordeus não acordo! Ver-o-peso. Ribeira! Vou acordar! Vou acordar!.
Gasterea! Gasterea! Chamo e ela não responde. Lembra a tal história do rio que entramos não ser o mesmo do qual acordo. Desperto. Vaguei pelos Pirineus, esquecendo, amargurando, fugindo.
Luis foi preso por canibalismo, cumpriu oito anos de pena. Sem nunca ter recebido uma visita de qualquer conhecido. Tudo que tinha era um livro ensebado lido e relido ao infinito até ser deportado para Campinas, onde foi acolhido no Candido Ferreira. Depois de uma visita da anistia internacional ao presídio de Lérida.
A geada resistia aos primeiros raios de sol que pelas frestas dos pinheiros iluminavam as sombras de onde deveriam aparecer os fungos. Cada um escolheu seu caminho. Eu a mote de norte tangenciei o curso de um arroio de águas cristalinas, que descia rumo ao Segre, gelado e fumarento. Estaquei diante de um cogumelo. Admirado, pesquisado e por fim colhido. Com uma faca de cabo longo e lamina curta, cortei o talo acima dos esporos, regra a ser cumprida nessa micologia. Um passo a frente e toda uma família que muito reduziu o tamanho do primeiro. Mas, guardei o primeiro qual indez.
Continuei subindo por uma escarpa que dava em um grotão, que dava para mais além e fui subindo nessa busca infinita do desconhecido e quando consegui chegar ao topo um algo mais ensolarado, dei de frente com um Amanita vermelho com pintinhas brancas. Pesquisei. Alucinógeno. Psilocibina. Dei uma mordida. Achei-me sentado à beira do arroio e contávamos um ao outro o deslumbramento recíproco que sentíamos sua dele transparência indiscutível seu barulhinho ao passar o pequeno estreito formado por grandes calhaus em seu pequeno leito onde pousa o meu retrato colado em suas gneisses de fundo e ele o rio dizia de minha imobilidade, minha coisa nenhuma de alarme de nele se me ver refletir meu saber de que não sendo ele o mesmo e nem mesmo eu sendo no que me transformo sou ainda confiável sem me achar infértil por não ter peixinhos vermelhos a subir por mim meu não lhe tocar para me ter mesmo que o abuso de fulgor que lhe reflito que eu começo a pensar peixes feixes de luz e a ser eu rio eu peixes brilho o que vê e o visto sendo o sol refletido a fonte do calor que me queima e eu a banhar-me em mim beber-me...
Então você também se ausenta?
A todo pulmão aqui.
Recusas?
Qual recusa?
Que somos iguais. E que tampouco esteja inteiramente aqui, seguindo a tal de essência do ser.
Vale! Tenho momentos de fuga à inglesa, e você não é assim?
Sou. Mas penso que isso tudo faz o essencial. Sem projetar-me no futuro ainda que o pretenda e o projete.
Eu não disse que fugia rumo ao futuro.
Eu sei. É que parti do seu -fuga à inglesa- e acabei por complicar, o fato é que, se estou em você é porque eu quero estar em você.
Aqui estamos nós!
Desde Vasco da Gama!
Desde antes!
Andando em círculos!
Desde o inverno da Alexandria!
Se aqui estamos, pra onde iremos?
Que diferença faz inventarmos um dialeto?
Andar em volta de nós mesmos?
Eu quero uma festa sem fim.
Continuaremos aqui?
Vamos na busca da virgindade do mundo!
Sem sabedoria?
Só curiosidade!
Como?
Os sábios estão velhos. E nós seus legados.
Sim, mas, e o mínimo futuro?
O futuro mínimo que vira o máximo?
Nada se esgota em nós, ou fora de nós.
Então que tal a surpresa que enriquece!
Calle Luna.
La rambla.
Porta de Alcalá.
O buraco negro.
O sol.
O centro.
O cerne.
O sal.
Levanto-me e o frio corta minha carne embaixo de musgos e folhas grudadas a pele. Inês pousada sobre uma pedra a beira do arroio. Está nua sentada na pedra, um Buda assanhado que massageia os seios, agora torce a cabeleira e deixa explodir sobre eles. Tem os olhos cerrados, comanda meus movimentos, caminho para ela e sou sua presa dissimulada e ela serpente no deserto cingida, a cabeça saída deste rolo com a boca gretada na direção do sol, eu ratinho metediço corro esquivo em círculos concêntricos num acostamento curioso, ela inerte, eu cativo aproximo-me, tanto mais perto, tanto mais hesitante, mais a fortuna é aguda mais cumprirei o meu fado. Vitorioso entro na boca aberta que se fecha, sua boca engulo até o nariz, mordo sua língua, deixo minha língua ser sorvida, os dentes se tocam, as salivas se baralham, distingo a dela na minha, adocicada, ela desce sua boca pelo meu queixo, lambe o colo, eu sinto os pelos da sua vulva tépida lanosa na minha coxa, a umidade espessa vai se disseminando pelo corpo, sua no meu pé, a boca no meu, engole-o, liberta-o, aboca a glande libertada nos lábios, passa a língua, sua foi-se do meu pé, brota sobre minha boca, minha língua mais viscidez. Venha. Diz Inês. E eu vou. Oh! Inês, minha. Como Eco entro em sua gruta úmida, beijo a sua boca. Vibro harmonicamente como a corda de um arco. Tudo é umidade quente, um frêmito percorre-me, morde a minha boca. Mordo forte seu lábio puxando-o sinto um gosto de sangue então mordo mais violentamente e ela luta e com a palma da mão quer me rechaçar afastando meu focinho então cravo uma dentada e trincho o músculo de seu polegar masco sua carne, um copo se parte, uma espada entra na pedra, um véu é rasgado, relampagueia num mar tempestuoso, gozo. Desfaleço, tombo. Pleno. Durmo. Amo. A satisfação do desejo findo, ali onde já não existe o desejo, e por isso sou feliz. O amor pelo desejo que inventamos é uma sorte de parafernálias, o amor, a posse do desejado, passei a vida a ornamentar o desejo, pentear suas melenas, perfumar os seus odores, o que me impedia de voar sobre o abismo. Inês sabe disso, minto com o eu te amo, mas todo o corpo desmente. Entro por uma horta de quiabos quibebe papa de abóbora grelo de aboboreira refogado com azeite de oliveira, alho e cebola. Vou acordar. Salva-me um caruru, quiabo baba de quiabo, quiabo picado aos centos desde o dia anterior, picado miudinho, Caymi com prosa e cerveja ou água nestes tempos de cuidar do hardware quase acordo. Nina-me um cosme-e-damião. Quiabo picado, cozido afins de livrá-lo de um tanto de baba, camarão seco batido no liquidificador, ou pilado ou macerado com as mãos, castanhas de caju, do Pará e outras que encontrar picados na mesma forma que fizestes com o camarão, no mais, salsa, cebola e alho tudo picado e misturado ao quiabo, dendê de polpa e apure tudo em fogo que queima e os suores vão me acordar vem me o arroz solto ou empapado do jeito que for. Antes de acordar me salva uma boa soneca. Uma quiabada pode seduzir, no que há de baba. Frango com quiabo. Quiabo frito e arroz de alho papado. Vou acordar. Salva-me um par de tomates inteiros recheados com tomilho por um orifício feito onde o tomate se liga a planta, cozinhados no meio do arroz e dois ovos com uma bela pitada de sal sobre cada gema, fritos naquela frigideira que só você usa e que fica escondida no forno debaixo do fogão pra dona Inês não arear até virar espelho. Sarrabulho, sangue de porco e arroz ruins como um tabefe. Vou acordar. Transijo. Folha de taioba picada, tampouco, tanajura, também não. Tatu, tatupeba, teiú, tacacá, tucupi, monte de tarecos, tartufo, não isso lembra corretores, vendedores de carro, tira-gostos tépidos em vitrines prisões de moscas, moço quanto custa essa mosquinha? Mercado municipal. Pordeus! Vou acordar! Só pordeus não acordo! Ver-o-peso. Ribeira! Vou acordar! Vou acordar!.
Gasterea! Gasterea! Chamo e ela não responde. Lembra a tal história do rio que entramos não ser o mesmo do qual acordo. Desperto. Vaguei pelos Pirineus, esquecendo, amargurando, fugindo.
Luis foi preso por canibalismo, cumpriu oito anos de pena. Sem nunca ter recebido uma visita de qualquer conhecido. Tudo que tinha era um livro ensebado lido e relido ao infinito até ser deportado para Campinas, onde foi acolhido no Candido Ferreira. Depois de uma visita da anistia internacional ao presídio de Lérida.
36. Pão com tomate.
Num setembro mágico de suas andanças Luis conhece Inês , uma fábia catalã, em um Carrè Foc, na abertura do festival de teatro de Tarrega. Seguiam separados e próximos a todo flerte, em meio à corte que à frente era comandada pela levada do Els Comediants e seu batuque medieval. As luzes da pequena Tarrega estavam todas apagadas. A pouca iluminação ficava por conta de fogos de artifício estourados pela trupe, que era seguida de uma pequena multidão, que de quando em quando era surpreendida por fogos e bombinhas vindas de arapucas previamente conseguidas nas pequenas sacadas dos sobrados de ambos os lados das estreitas ruas, e todos que eram surpreendidos, e que não fossem, brincavam de esquivar da armadilha.
Numa dessas foi que Luis colidiu de frente com a rabeira de Inês. Ela sorriu, sorriu também Luis, do acaso daquela armação que funcionou. Braços dados fazendo uma ciranda cirandinha, os dois dançaram e cantaram em uníssono a toda gente.
-Queremos água. Um brado tradicional desse carnaval catalão.
Luis na verdade gostaria de cantar-
“É hoje que eu vou pra farra.
... Maestro manda aquela brasa...”[1]
Mas invés disso seguia o mundo ao seu redor:
Volem aigua-[2]
E os moradores munidos de baldes de água a apagar o fogo que não se apaga. As fagulhas caiam na cabeça, e o couro cabeludo às vezes detectava uma que outra. Esta mistura, fogo, água, cerveja, batuque e brilho nos olhos, deu em beijos, antes da primeira palavra. E assim foi até o amanhecer, de tantas noites.
Luis e Inês nos dias que se seguiram, viveram grudados, e quando o mesmo os entediava, os malabaristas, as pernas de pau, os Antonin Artoud, os duplos ou os fóruns os salvavam.
A alternância de dias, barracas, praças, teatro de rua e noites foram seus tempo e geografia, alimentados por uma complexa ostra. Fim da festa.
Pensou ir pra Alemanha. Mas, ainda não era o momento de deixar Inês afinal, mal começara. Apaixonado e fraco ficou. E quando o outono já mostrava seus ministérios aconteceu a maravilha das delicias. E isto tem lugar a meia altura do Pirineo que do lado que estava era catalão. Foi convidado a se tornar um caçador de Rovelhão. Coisas de um povo micólogo. Pensou no acepipe do sonho, pensou no fóton do acaso, na convolução e deixou que se merecedor me ocorressem.
Viajou com Inês aos Pirineus na direção de Balaguer. Não haveria nada de novo, a ser visto, depois de tantas ocupações anteriores à Durruti, lembrou que Durruti passara por ali numa curta primavera fascinante na sua luta em desamarrar-se do mastro, mas sempre haveria algo por ver com um olhar novo, e Durruti não olhava para o chão, buscava a amplidão da liberdade, Luis ao contrário indagava o que se abriga por debaixo das folhas a ver onde o levaria. Subiram circulando a montanha e Inês o guiava. Luis por tudo via Durruti arrastando sua corrente de libertação. Por fim e por sorte chegaram numa clareira com espaços para estacionar. Aqui transcrevo seu relato.
[1] Marchinha carnavalesca. De autoria de SS.
[2] Em catalão: queremos água.
Numa dessas foi que Luis colidiu de frente com a rabeira de Inês. Ela sorriu, sorriu também Luis, do acaso daquela armação que funcionou. Braços dados fazendo uma ciranda cirandinha, os dois dançaram e cantaram em uníssono a toda gente.
-Queremos água. Um brado tradicional desse carnaval catalão.
Luis na verdade gostaria de cantar-
“É hoje que eu vou pra farra.
... Maestro manda aquela brasa...”[1]
Mas invés disso seguia o mundo ao seu redor:
Volem aigua-[2]
E os moradores munidos de baldes de água a apagar o fogo que não se apaga. As fagulhas caiam na cabeça, e o couro cabeludo às vezes detectava uma que outra. Esta mistura, fogo, água, cerveja, batuque e brilho nos olhos, deu em beijos, antes da primeira palavra. E assim foi até o amanhecer, de tantas noites.
Luis e Inês nos dias que se seguiram, viveram grudados, e quando o mesmo os entediava, os malabaristas, as pernas de pau, os Antonin Artoud, os duplos ou os fóruns os salvavam.
A alternância de dias, barracas, praças, teatro de rua e noites foram seus tempo e geografia, alimentados por uma complexa ostra. Fim da festa.
Pensou ir pra Alemanha. Mas, ainda não era o momento de deixar Inês afinal, mal começara. Apaixonado e fraco ficou. E quando o outono já mostrava seus ministérios aconteceu a maravilha das delicias. E isto tem lugar a meia altura do Pirineo que do lado que estava era catalão. Foi convidado a se tornar um caçador de Rovelhão. Coisas de um povo micólogo. Pensou no acepipe do sonho, pensou no fóton do acaso, na convolução e deixou que se merecedor me ocorressem.
Viajou com Inês aos Pirineus na direção de Balaguer. Não haveria nada de novo, a ser visto, depois de tantas ocupações anteriores à Durruti, lembrou que Durruti passara por ali numa curta primavera fascinante na sua luta em desamarrar-se do mastro, mas sempre haveria algo por ver com um olhar novo, e Durruti não olhava para o chão, buscava a amplidão da liberdade, Luis ao contrário indagava o que se abriga por debaixo das folhas a ver onde o levaria. Subiram circulando a montanha e Inês o guiava. Luis por tudo via Durruti arrastando sua corrente de libertação. Por fim e por sorte chegaram numa clareira com espaços para estacionar. Aqui transcrevo seu relato.
[1] Marchinha carnavalesca. De autoria de SS.
[2] Em catalão: queremos água.
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