Num setembro mágico de suas andanças Luis conhece Inês , uma fábia catalã, em um Carrè Foc, na abertura do festival de teatro de Tarrega. Seguiam separados e próximos a todo flerte, em meio à corte que à frente era comandada pela levada do Els Comediants e seu batuque medieval. As luzes da pequena Tarrega estavam todas apagadas. A pouca iluminação ficava por conta de fogos de artifício estourados pela trupe, que era seguida de uma pequena multidão, que de quando em quando era surpreendida por fogos e bombinhas vindas de arapucas previamente conseguidas nas pequenas sacadas dos sobrados de ambos os lados das estreitas ruas, e todos que eram surpreendidos, e que não fossem, brincavam de esquivar da armadilha.
Numa dessas foi que Luis colidiu de frente com a rabeira de Inês. Ela sorriu, sorriu também Luis, do acaso daquela armação que funcionou. Braços dados fazendo uma ciranda cirandinha, os dois dançaram e cantaram em uníssono a toda gente.
-Queremos água. Um brado tradicional desse carnaval catalão.
Luis na verdade gostaria de cantar-
“É hoje que eu vou pra farra.
... Maestro manda aquela brasa...”[1]
Mas invés disso seguia o mundo ao seu redor:
Volem aigua-[2]
E os moradores munidos de baldes de água a apagar o fogo que não se apaga. As fagulhas caiam na cabeça, e o couro cabeludo às vezes detectava uma que outra. Esta mistura, fogo, água, cerveja, batuque e brilho nos olhos, deu em beijos, antes da primeira palavra. E assim foi até o amanhecer, de tantas noites.
Luis e Inês nos dias que se seguiram, viveram grudados, e quando o mesmo os entediava, os malabaristas, as pernas de pau, os Antonin Artoud, os duplos ou os fóruns os salvavam.
A alternância de dias, barracas, praças, teatro de rua e noites foram seus tempo e geografia, alimentados por uma complexa ostra. Fim da festa.
Pensou ir pra Alemanha. Mas, ainda não era o momento de deixar Inês afinal, mal começara. Apaixonado e fraco ficou. E quando o outono já mostrava seus ministérios aconteceu a maravilha das delicias. E isto tem lugar a meia altura do Pirineo que do lado que estava era catalão. Foi convidado a se tornar um caçador de Rovelhão. Coisas de um povo micólogo. Pensou no acepipe do sonho, pensou no fóton do acaso, na convolução e deixou que se merecedor me ocorressem.
Viajou com Inês aos Pirineus na direção de Balaguer. Não haveria nada de novo, a ser visto, depois de tantas ocupações anteriores à Durruti, lembrou que Durruti passara por ali numa curta primavera fascinante na sua luta em desamarrar-se do mastro, mas sempre haveria algo por ver com um olhar novo, e Durruti não olhava para o chão, buscava a amplidão da liberdade, Luis ao contrário indagava o que se abriga por debaixo das folhas a ver onde o levaria. Subiram circulando a montanha e Inês o guiava. Luis por tudo via Durruti arrastando sua corrente de libertação. Por fim e por sorte chegaram numa clareira com espaços para estacionar. Aqui transcrevo seu relato.
[1] Marchinha carnavalesca. De autoria de SS.
[2] Em catalão: queremos água.
terça-feira, janeiro 16, 2007
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