Luis sabe se entreter e quer se entreter na ante-sala da guerra que haverá de travar, ainda que os jogos lhe saiam um tanto espasmódicos. E lá vai ele.
Chá nixda. Da chope. Por fim diz, e o mestre?
-Você acha que ela o traiu? Pergunta Zénão.
-Penso que não.
-Mas por que Capitu não retorna?
-Porque seu filho era o filho de um fantasma, antes foi traída. A mãe através do pai e o filho inocente através da mãe.
-Quero ver o desfecho disso, continue- disse Zénão descrendo.
- Capitu não partiu e se não houve partida não poderia haver retorno, por isso ela não volta, no mais a má acha do Bento, sua indecisão incubada e sua covardia a decapitaram.
-Sim! E Escobar? Disse Zénão e descreu só com um sorriso de lábios fechados, um escárnio carinhoso.
-Asco bar. Puro asco. Escobar. Escrabo. Escravo. Implantado por Bento a seu serviço e você tem ai o Bento traindo-se, traindo o fantasma e Capitu. E veja que Capitu pode vir de kaptum.
- Como nunca pensei nisso? Perquire-se Zénão.
- Bento a traiu ainda mais. Continua Luis. Como réu, testemunha e juiz dele mesmo, inexpugnável diante da imensa força de sua fragilidade em manter um segredo de infância, jurado no quintal da casa de Capitu e no seminário. Sua homossexualidade.
- Milk shake! Brinca Zénão
- Pois é! Não ter ele o filho, mas ser ele o pai do filho de um fantasma, já que o espectro do escravo rondava. Que diferença faz Suíça ou Dinamarca ou algures podre como, mas ele o pai do filho de um espectro não soube a si interpretar, desconhecedor do papel, já que um não era filho do que não era pai. O pai, o filho do espectro e se espectro for espírito e o espectro em si, isso se assemelha a Santíssima Trindade cujos membros não se sabem.
- É iss’aí!
Feia neste momento parecendo ser a bailarina egípcia ou Shiva, quer esconder o cigarro a meio dos dedos indicador pai-de-todos, cabeça para cima e a boca chaminé soltando a fumaça restante na pleurifornalha, aperta a guimba torcendo-a até a morte no cinzeiro, finge a Luis um olhar pasmado.
Um casal senta-se na doze. Ela de mini-saia, ambos de óculos escuros. Ela ciosa dos olhares espreme por trás a saia contra as pernas. Senta-se.
- Vá lá Luis. Referindo a Feia. Diz Zénão.
Feia acende outro cigarro. Mão para trás e ao alto repetindo o desenho religioso egípcio, hindu, Shiva, sopra para cima. O incômodo incomodado, esquece que o melhor do fumo são nuvens saindo da boca dando ao fumante dimensões demiúrgicas, não a urgência do desaparecimento da culpa.
-Você brincava de falar só com frases de canções? Pergunta Luis.
Como eu já disse, espasmos. A da mini-saia abana o fumo, que sempre vai no sentido da intolerância.
- Claro. Zénão responde. Cada palavra que você disser canto uma canção. Somou.
- Um amigo meu brasileiro lá em Berlin...
- Que tem Berlim?
- Um cara que falava inglês só com frases dos bitous.
- Hahaha! Só com frases das musicas?
- É.
- Hummmm! Cruzou. Diz Luis.
- Eu vi. Pelas gelosias.
- A Feia vem aqui, já que você não chega!
- Vem nada. Ela vai é tirar no toalete a salsinha do dente, e quando tangenciar estes secantes, vai forçar o fim do espinhaço para trás os peitos para frente jogar as madeixas do seu cabelo duro para um dos lados com um movimento de cabeça e revoltá-los com uma das mãos para o lado que estavam enquanto com a outra aperta a puxar a ponta do nariz tudo sem esticá-lo olhar para o caixa Antoine que é o único ponto seguro nestas margens do Atibaia, um espelho jacteado, e dobrará a direita quando veremos amoldados seus atributos posteriores dentro do jeans, que nós por uma obrigação secular julgaremos e com as pilherias esqueceremos de desfrutar o deleite dessa maravilha duplicada, vaga.
- Bunda baixa funda racha. Diz Luis.
- O é tem detalhes? Pergunta Zénão.
- Tem se o É também é objeto?
- E o é tem detalhes. Pardelhas! Insiste Zénão.
-Tem e os detalhes são puramente estéticos ou utilitários e ai são puramente utilitários. E Luis leva a mão à orelha sob os cabelos e franze a testa arqueando as celhas.
Neste momento chegou Edmilson com mais quatro amigos e sua mulher, seis. O serviço emenda a treze com a vinte três. Nutos e donaires para os do Choro. Ah! Este é seu Ademar. Edmilson! Prazer! Prazer! Minha esposa! Prazer! Prazer! Aluno! Edmilson! Prazer! Prazer! Amigos! Ademar! Prazer! Prazer! Podem ficar a vontade. Est Deus in nobis.
- Que você tem na orelha que tanto cutuca e puxa e quer ver? Vá olhar no espelho. Flagra Zénão.
- Ainda não sei, mas acho que minha orelha afinou a parte de cima. Diz Luis.
- Deixe-me ver.
- Não.
- Você está louco! Luis se levanta e vai até o espelho pega a orelha e puxa tentando vê-la diretamente, não crendo no espelho. Volta creditando tudo a seu estado inicial de temulência.
-Você procurando utilitarismos nos defeitos? Ó Luis!
-Prefiro, Ó... deixa pra lá! Ainda encanado com orelhas pontiagudas. Já não me faltam um rabo e uns cascos. Pensa o cinosuro.
O serviço anda atarefado emendando mesas. Chega senhor Pavão com suas mulheres. Chi! O genro futuro sempre presente, também com uma morena dessas, coitado do Euclides, não chegou a presenciar o que é miscigenação. Pavão sem duvida é, em havendo, um homem feliz.
A moça da doze destrançou as coxas. Zénão olha pelas gelosias espelhadas refletindo o bar que é a imagem da vida.
Luis. Frontal.
- Vi. Disse. – a mércia abria lentamente as pernas – e ainda mais vejo.
- Vamos comer um algo Luis? Que isso aqui está ficando animado.
- Chame o cardápio. Diz Luis no que o serviço passa com a bandeja cravejada de caipirinhas de lima da pérsia.
- Belmiro que tem ai nessa ucharia?
- Olha o cardápio, é pra isso que existe! Belmiro grosso qual moerão de canto de cerca, jogando o cardápio sobre a mesa com a mão que não palmilhava bandeja.
- Demorou, comédia! Fala Luis na crista da onda da gíria. Insiste Luis. Comédia. Você que tudo sabe, sabe o nome da de mini-saia?
- Sei. É Mércia J.J. Responde Belmiro voltando da entrega de caipirinhas ao seu Pavão. E o cara é meu amigo, continua Belmiro.
- Isso lhe subtrai valor. Diz Luis querendo arrumar tretas com Belmiro no jogo de pequenas agressões, mas Belmiro não capta.
sexta-feira, novembro 10, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário